Burnt Norton
T.S.Eliot
V
As palavras se movem, a música se move
Apenas no tempo; mas somente o que vive
Pode morrer. As palavras, faladas, se calam
Fazem silêncio. Apenas pelo modelo, a forma,
As palavras ou a música podem alcançar
O repouso, como um vaso chinês que ainda se move
Perpetuamente em seu repouso.
Não como o repouso do violino, enquanto a nota perdura,
Não apenas isto, mas a coexistência,
Ou seja, que o fim precede o princípio,
E que o fim e o princípio sempre estiveram lá
Antes do princípio e depois do fim.
E tudo é sempre agora. As palavras se distendem,
estalam e muita vez se quebram e sob pressão,
Tropeçam, escorregam, perecem,
Decaem com imprecisões, se negam a acabar e
Se recusam em manter-se no lugar,
Não querem ficar quietas. Vozes estridentes,
Irritadas, zombeteiras, ou apenas tagarelas,
Assolam-se sempre. O Verbo no deserto
É alvo da tentação,
A sombra soluçante no balé funéreo,
Lamento estrondoso da aflita quimera.
O detalhe do padrão é movimento,
Como na figura das dez escadarias.
O próprio desejo é movimento
Não por si só desejável;
O amor é por si só imóvel,
É causa apenas, fim, do movimento,
Atemporal e indesejante
Exceto no aspecto do tempo
Apreendido em forma de limite
Entre o não ser e o ser.
Súbito num feixe de sol
Ainda enquanto o pó se move
Eleva-se oculta a risada
De crianças na ramagem
Rápida agora, aqui, agora, sempre —
Ridícula a perda triste tempo
Antes e depois se entendendo.
Gostei do teu novo blogue. E este poema é magnífico.
Gosto um tanto de Eliot, mas eu nunca o tinha lido na voz do Ivan.
Um beijo, querida amiga.
Belo começo, com Eliot, o seu poeta favorito.
Grande abraço
Foi você que me apresentou Elliot. Confesso (humildemente) que não o conhecia antes disso. E, da mesma maneira, digo que já não sou igual após degustar as linhas do autor. Nem depois de ler as suas. Que venha um espaço de novas inspirações e bons presságios, em ótima hora.
Beijos!
O primeiro movimento vem através de Eliot.
Conheci esse poeta através de você.
Escreva muito, Catarina porque você nasceu pra isso!
Beijo
Ah, você e Eliot é quase uma mesma entidade para mim.
Esse poema eu ainda não conhecia, como muitos outros, certamente.
Tão atual, como se tivesse sido escrito há pouco.
bisous
Conheço T.S, Eliot apenas pelo nome, que vi mencionado em algum livro, não sei se citado no começo pelo autor ou mencionado por algum personagem. Mas gostei muito desse poema, senti certa identificação nele, como se descrevesse coisas que se passam pela minha cabeça mas não consigo colocar em palavras. Acho incrível quando isso acontece, quando sinto como se eu mesma pudesse ter escrito.
Poder sentir identificação com as palavras de um autor, é um dos motivos do meu amor pela leitura. Almas sensíveis que são capazes de realizar escritos que chegam no coração de milhares de pessoas, esse é o poder da literatura. O poema postado é lindo e bastante profundo, me identifiquei em especial com esse trecho:
“Ou seja, que o fim precede o princípio,
E que o fim e o princípio sempre estiveram lá
Antes do princípio e depois do fim.
E tudo é sempre agora.”
Abraços Lunna, tenha uma ótima semana!
Que belo poema! Amei a sonoridade de “A sombra soluçante no balé funéreo,
Lamento estrondoso da aflita quimera.” Obrigada por me apresentar essa produção através do post, pois eu não conhecia.
“As palavras, faladas, se calam…”. Aqui, para mim, foi o ponto do texto! Que primor, quanto zelo e cuidado! O calar-se em meio às possibilidades de tanto falar me tem sido um desafio e tanto! Essencial à minha (rê)construção. Assim, na música elas me amparam. Essa sonoridade em meio à junção da poesia à arte, à música me fascina, Lunna!
Uau, Lunna, que poema incrível! Sabe aquelas palavras que aparecem pra gente no momento certo?! Então, foi isto que me aconteceu agora. Obrigada.
Conheço bem pouco desse autor; na verdade, nunca nem li um livro dele, mas agora fiquei bem curiosa (e já comecei a pesquisar aqui alguns de seus poemas. Valeu mesmo *-*)
Beijinhos e excelente semana que se inicia.