Eu tinha sete anos — talvez um pouco mais — quando decidi escrever um texto — o primeiro — e para isso imitaria — inconscientemente — o mio nonno, que se sentava diante da sua Remington Victor T, estalava os dedos e escrevia — repetindo cada uma das palavras em voz alta. Ele precisava agradar os ouvidos e quando não acontecia… usava um lápis-preto para riscar a frase… e reescrevê-la. (dezenas de vezes)
Gostava do que parecia ser um ritual — folha em branco, carbono, outra folha em branco. Uma pequena batida na mesa e o encaixe no tambor… tomando o devido cuidado para que as folhas ficassem perfeitamente alinhadas na horizontal. Um pesado gole de café e os dedos em movimento no ar… só então começava a sinfonia — uma metralhadora a disparar palavras, a ferir gravemente o papel.
Eu adorava observá-lo, ouví-lo… sabia que ele não era um Escritor — não tinha livros publicados. Era apenas um homem simples, criador de cavalos, cultivador de uvas-oliveiras e um habilidoso contador de causos — que escrevia crônicas nas manhãs de sábado e as publicava no jornal da cidade, que pertencia a um velho amigo.
Quando saia para caminhar seu lugarejo… se divertia com os relatos sobre seus escritos. As pessoas gostavam de se reconhecer em suas linhas. Saber-se personagem de suas narrativas curtas e pareciam felizes por saber o lugar do texto. Sempre havia alguém disposto a lhe pagar um cálice de vinho ou uma caneca de cerveja.
Quando me proponho a começar um texto — revisito esse ontem, incontáveis vezes. Agito os dedos no ar… aceno à memória, as emoções, respiro fundo e escrevo dentro — primeiro. Só então me atrevo a disparar palavras na tela… é sempre bom voltar a escrever.
Capítulo 04 | voltar a escrever…

Que bela viagem Catarina.
O que eu gosto na sua escrita é que eu viajo com você e visito os momentos, os lugares, as pessoas. É como se fossem conhecidos meus.
bisous
Ufa, que bom voltar aqui e encontrar um escrito seu.
Por um minuto achei que tivesse desaparecido e fosse ser apenas mais um blogue fantasma. Muitos já se foram. Que bom que voltou a escrever e a nos contar mais uma historia de suas histórias e agora sei de onde veio esse hábito de contar-se.
bravo menina Catarina
Que viagem gostosa. Só quem já escutou os estalos de uma máquina de escrever sabe o gosto ( hoje elas viraram quase um artigo de luxo, mas ainda usadas por uma camada distinta de cidadãos que abrem mão da tal praticidade por prazer). Eu ganhei uma de um tio com uns 12 ou 13 anos e na época não soube apreciar devidamente o presente, escrevia poemas (que rasgava depois com vergonha rs) e muitas páginas de meus RPGs. Penso em adquirir uma assim que puder, e suas palavras ressaltaram essa saudade guardada.
Entrei num filme… não era em preto e branco, mas tampouco colorido como o que os olhos veem normalmente. Talvez por isso sabia que estava em uma película que transmitia a imagem de um velho. Não daqueles caquéticos, mas de um jeito que desconhecidos podem temer e que, aqueles que conhecem, abrem leve sorriso nos lábios só de ver a imagem.
Ele tecla e tecla e a voz se mistura aos sons das teclas sendo batidas. Uma pausa. Um gole, desce amargo, quente e preenche o ambiente do cheiro que tem aroma de casa e de lugares aconchegantes.
É então que percebo que há menina pequena na porta da sala a observar os gestos do velho. Posso ver pelo modo que ela balança o corpo, se esgueira para observar tudo que gosta do homem. E volto a olhar para ele porque é exatamente o que ela faz, mas não tem mais velho ou tampouco máquina de escrever. Um aparelho moderno na mesa, uma mulher a esticar os braços, alongar-se, a preparar para dizer em voz alta na mente tudo aquilo que vai teclar…
Também gosto de ler em voz alta, e lendo seu post fiz uma viagem a minha infância…Lembro do meu pai orgulhoso com meu diploma do curso de datilografia!!! Estou aqui a me perguntar onde esta a minha pretinha???
Abraços
Já lhe disse que amo suo nonno?
algumas vezes! rá
eu só suspiro e entre o olho dos cães a me espiar quando leio teus textos repito a parte do comentário Rá!
Eles não se cabem em alegria…
É sempre bom voltar a escrever… Essa fotografia lembra quando eu ia na empresa que minha mãe trabalhava e digitava “pegando millho” hehehe anos mais tarde, eu ja digitava nas páginas do Word me achando Clarisse…