
É um hábito antigo… sair às ruas para percorrer calçadas e observar as silhuetas das construções urbanas. Me colocar em movimento por calçadas-ruas-esquinas é a minha maneira de fazer fluir a escrita. Funciona…
Em Moema — zona sul de São Paulo — as ruas-alamedas são grandes retas com nomes de pássaros… sem as conhecidas subidas e consequentemente descidas paulistanas — que reinventam distâncias, cenários e me faz desistir de me aventurar.
Por aqui o passeio traz de volta as vilas que trago na memória. Vira-se uma esquina e uma sorveteria acena com sabores conhecidos-preferidos: fragolone, dulce de leche, stracciatella. As cadeiras — dispostas ao ar livre, com ombrelones imensos — acenam… eu cedo e os diálogos avançam tarde a dentro…
Há um sem-fim de vitrines coloridas… com suas roupas de grife, frascos de perfumes, grãos em potes, flores em vasos. Os cães são bem-vindos em quase todos os lugares e as pessoas acenam umas às outras numa falsa simpatia… são quase humanas.
As casas, no entanto, são poucas… as que sobreviveram aos investimentos imobiliários exibem placas de ‘aluga-se e vende-se’ como se os pássaros — que nomeiam as ruas — estivessem em fase migratória.
Os moradores mais antigos gostam de narrar a história do lugar — como se quisessem preservar as lembranças que ainda lhes resta. Falam do córrego de águas ferozes e de seu percurso curvilíneo que acabou soterrado. Mas, durante as chuvas de verão… ele se reinventa contra a vontade dos humanos.
“aqui já foi um bairro de casas” — foi o que me disse uma senhora, que suspirou as mudanças acompanhadas de perto ‘sou tão veglia quanto essa árvore’ — mencionou enquanto seu olhos vigiavam a frondosa e centenária sibipiruna prestes a derramar sua primavera…
O bairro se verticaliza sem cuidados… cai meia dúzia de casas e brota um edifício novo, com seus muitos andares. Eu vi cair sobrados — um a um — feito peças de dominó. Depois da Avenida Eucaliptos, as casas — ainda — estão a salvo, embora seja impossível precisar por quanto tempo mais continuarão por lá. A força do Capital manda e desmanda nessa cidade e tudo muda muito rápido.
Numa dessas simpáticas esquinas fica o Café — entre esquinas — com seu nome estrangeiro, a sereia de duas caldas e o bom e velho aroma de sempre. Mesa do canto… e mais um punhado de horas escorre, só não sei dizer se para dentro ou para fora.
Oi,Lunna! Essas singularidades me encantam, embora no cotidiano não tenhamos muito o hábito de fazê-lo. Mas gosto, e muito, de olhar pela janela do carro e observar essas construções, ou o pouco que lhes restam. Esse tipo de sensação me envolve muito mais quando vou à cidade onde cresci. Me traz um tanto de saudosismo, mas até gosto.
Bjs
Olá ♥
Eu sou bem apaixonada por casas antigas e fico triste quando derrubam alguma pra construir algum prédio.
Um pouco da história desaparece
Amei o texto ♥
bjo
Que legal! Eu nunca pensei em fazer isso. Vou sair andando por aqui também para tentar observar melhor as coisas que deixo passar despercebido.
Quantas saudades não moram em cada casa?…
Oi Lunna!
Não há maneira melhor que conhecer a cidade que conversando com seus moradores mais anrigos, né? Não há como a inspiração não vir com a observação aliada ao descobrimento de novos detalhes.
Adorei o texto!
Bacio!
Também tenho essa mania de ir há lugares e observar quase tudo. Fico imaginando quantas histórias que estão ali guardadas em que a gente talvez só descubra falando com as pessoas que vivem por ali.
Interessante sua reflexão ❤
Que delícia de texto! Você escreve muito bem!
Também amo caminhar pela cidade e observá-la. Pena que não posso fazê-lo com tanta frequência…
Às vezes num passeio totalmente despretensioso a gente consegue tirar lições e reflexões, como o que você fez nesse texto. Eu sinto falta de sair de manhã às 5:30 para caminhar, quando o sol ainda não nasceu e as ruas ainda estão silenciosas. Gostaria de me sentir segura para fazer isso sempre. É um momento ótimo para pensar e pensar…
Parece que estava a caminhar por lá…