O tempo é a qualidade dos tempos porque nos foi dito:
“Fazei isto em memória de mim”.
Maria Gabriela Llansol
Faz algum tempo que não me oriento através do calendário-relógio. Não me importo com o que dizem os dias-horas. Se segunda-terça — setembro-outubro, tanto faz. Eu nunca sei o lugar certo dos dias ou dos ponteiros. Misturo tudo e pronto. Me perco, me afasto e me divirto quando alguém tenta me posicionar nessa realidade frágil. Sempre tem alguém a anunciar que é hora disso e dia daquilo.
Eu sou movida pelo som oco que emana de dentro da caixa-corpo-peito… é ela quem determina certos rituais de existir. O som da máquina de expresso… a preparar o meu café. Das páginas dos livros em movimento diante dos olhos. O apito sonoro da chaleira a preparar o meu chá-mate. E da monótona melodia oca do velho carrilhão, que ressoa diretamente da minha infância… um susto, dois sustos, três sustos.
Consequentemente… não sei se passo tempo demais dentro dos livros que leio ou a bordo dos escritos que transcrevo a partir das emoções que provoco-invento…
E, ao começar a escrever esse texto — em movimento pelas calçadas da cidade — me lembrei que houve um tempo em algumas coisas tinham o seu lugar no tempo-e-espaço das coisas. Novembro, por exemplo, era o tempo dos novelos de lã… usados para confeccionar as luvas para o inverno e como éramos crianças em fase de crescimento… as do ano anterior, dificilmente nos servia, no ano seguinte.
Acontecia novembro e começava a dança das agulhas e dos fios em laços e voltas, contornos e retornos. A mesa da sala ficava cheia de novelos coloridos e enquanto as signoras confeccionam luvas… nos entretinham com as histórias de suas infâncias — e voltavam a ser crianças.
Apesar de refutá-lo em suas nomeações e partições humanas, o Tempo é o verdadeiro artesão a confeccionar luvas de lã e outras peças de estações em sequência interminável…
Que belíssima tipologia tem a Lunna…
Notei que novembro é um mês nostálgico para você. Eu gosto dele, pois está próximo de Dezembro, um mês que fecha um ciclo de 365 dias em que posso fazer um balanço de todas as coisas que se passou comigo.
Caríssima Lunna, que escrito mais gostoso esse seu.
Fiquei aqui respirando fundo a cada linha. E olha que li duas vezes. Que ritmo gostoso. Que sensação mais aconchegante, parecia que estávamos as duas a contar histórias uma para outra. Eu fui falando pra você das minhas coisas que eu já não lembrava mais e você as suas, me fazendo reviver as lembranças. Lembrei daqueles dias junto a minha mãe descascando cana no terreiro, sentada numa lata de óleo grande. Ela falando com as vizinhas. Eu ouvindo e vivendo. Eram dias bons, como os seus sentada na escada a esperar.
beijos menina Lunna
Olá!
Parei por acaso por aqui e já li uns três. Vim comentar nesse, porque falar em novembro mexe muito comigo, porque também considero “meu mês’. Por ter nascido nele e sempre acreditar que os ciclos se encerram e iniciam junto a novembro.
Adorei ler isso aqui!
Um beijo!
Eu percebi novembro chegando, mesmo porque lembrei-me de alguém que havia me dito que iria escrever todos os dias de novembro…rs.
Viajei para minha casa onde passei boa parte da minha infância, quando eu e meus quatro irmãos ficávamos sentados nos degraus da escada que ficava em frente a nossa casa, cada qual no seu degrau, esperando o nosso pai chegar do trabalho, para vermos no rosto dele aquele sorriso lindo que ele tinha, como também sempre tinha em mãos algum pacote que trazia cheio de guloseimas, para nós crianças, que adorávamos…era sempre uma festa e isso acontecia todos os dias.
Tuas palavras como sempre me levam para um tempo que não esqueço jamais e posso dizer que ainda o vivo no dia de hoje. Meus amigos me dizem a todo momento que é para eu parar de viver do passado…rs…mas como posso fazer isso se principalmente lá… fui tão feliz. Faz-me tão bem reviver tudo isso e aqui com você isso sempre acontece…rs.
Obrigada mais uma vez caríssima amiga…:)
Bjinhos no coração
Lunna, que gostoso ler isso tudo. O melhor é que esse “estado de espírito” fica dentro do nosso coração. Vamos fazer uma campanha para que essas reuniões continuem…as crianças com mais de 30 anos vão adorar.
Um beijo,
Manoel
com os meus avós,
eu contava nozes e tangerinas
muito comovente o teu novembro
um abraço
O seu novembro, você tira lá do fundo da gaveta com todo cuidado e posso ver que tem toque de seda. Bem vindo novembro!
Eu quero me esquecer em escadas, ah, eu quero. E ganhar pó de pirlimpimpim e deixar mágicas minhas palavras…diz aí, como faço?
Oi Lunna
… esse é o nosso novembro. Eu tenho o mesmo sentimento de que nele começa e termina o ano. Passam-se as estações uma a uma. Novembro chega fechando ciclos ou apenas a triste constatação somam-se outros mais e só..
Sua infância de certo foi mais bonita que fez de você essa lindeza que costura palavras com seu novelinho de lã. Do lado de cá muita introspecção as bloqueou, só permanecendo na pupila dos olhos.
Uma delícia ler-te.E devanear com seu belo poema,
fica o abraço carinhoso
Começo por dizer que achei maravilhosa a foto! Claro, o texto é formidável e se casam como uma luva, não, uma seda que é mais suave! Novembro é o mês do meu aniversário (17), portando me senti no contexto. Beijo moça talentosa…