Meio-dia. Um canto da praia sem ninguém.
O sol no alto, fundo, enorme, aberto,
Tornou o céu de todo o deus deserto.
A luz cai implacável como um castigo.
Não há fantasmas nem almas,
E o ar imenso solitário antigo
Parece bater palmas.
No ano que passou, desisti de ler jornais-revistas e outros meios-impressos. Cansei das ‘novidades’ narradas de acordo com o pensamento do autor-editor, com objetivo de atingir o seu público-alvo.
Há muitas notícias no mundo-contemporâneo, tenho plena consciência disso. E, obviamente que a imparcialidade — tão aclamada pelos humanos — é impossível. Basta ver os canais disponíveis para leitura. Toda revista-jornal atende ao seu próprio interesse.
Não tenho tempo-paciência para olhar por esse estreito buraco da fechadura. Não estou — infelizmente — em estado de ignorância plena quanto ao que acontece no mundo das coisas. As pessoas e suas redes sociais repassam tudo na velocidade-luz. Em alguns casos até se adiantam e se orientam pelo Norte que sua bússola pessoal acusa. Mas, afirmam contrários e esbravejam — de maneira indócil — contra o verso da moeda.
Ontem, ao correr os olhos por um desses links que se espalham feito vírus no ar… sorri assim que tropecei no título: ‘poesia de Sophia de Mello Breyner Andresen é redescoberta no Brasil‘ e tudo isso porque chegou às prateleiras-brasileiras publicações — supostamente novas — da autora portuguesa… pela 7Letras e Tinta da China.
Só consegui pensar que já havia alguém a preparar — a toque de caixa — uma daquelas publicações com pesquisas logarítmicas… anunciando que o brasileiro lê pouco-nada-tanto-faz e exclamando em caixa alta que poesia não vende e enfatizando que o número de leitores por essas bandas é de 1,35 por milheiro. Porcentagem que nada diz-afirma, mas que agrada — estranhamente — quem as lê-publica-e-replica. É como se houvesse algum tipo de prazer-satisfação em anunciar que o brasileiro não lê ou se o faz, é pouco, quase nada.
Da minha parte… dou de ombros e repito meus rituais. Aperto o botão da máquina de expresso e enquanto aguardo por meu café… aproveito para ir à prateleira buscar minha Sophia — a quem descobri no século passado, durante uma das minhas visitas regulares a Biblioteca da Universidade.
Sua escrita dialoga com meus silêncios, me faz respirar fundo e insere demoradas pausas na realidade que sorvo em pequenos goles. Não sei o que virá de novo, mas é bom que venha.
O título do artigo, no entanto, poderia ser outro e não esse ‘redescobrir’ que combina muito mais com a deliciosa música de Elis ‘como se fosse brincadeira de roda’ — que com a poesia de Sophia, que ressoa melhor se devidamente atrelada a palavra-verbo: ‘reencontrar’.
Eu amei o seu texto e adoro quando a gente pensa a imparcialidade textual, porque é humanamente impossível não ter opiniões, ideias e expressões antes de escrever algo. Gostei também do que disse, porque não é re-descobrir, embora, de certa forma, possa parecê-lo, já que as pessoas deixaram ela enterrada e, por isso, é necessário descobri-la como um tesouro. Porque Sophia é um tesouro. Mas ela é um tesouro das estantes e não das areias: reencontrar na estante, abraçá-la e folheá-la é bem melhor como palavra-verbo, sentido pleno.
Tem um tempo que resolvi me afastar dos jornais-revistas, já basta o tanto de informações jogadas pela tela da TV, onde parece que valores estão invertidos.
Muito bom se deparar com uma notícia dessa. Nunca li nada da autora e acho uma falha. Adoro poesias e claro que vou procurar por Sophia.
Bacio
Sua escrita dialoga com meus silêncios