É pau, é pedra… é o fim do caminho!

Eu sou toda rituais e por ser assim, desde a infância… é que não dou a mínima para o que diz o calendário e seu estranho combinado de dias inteiros, ou pela metade… com semanas que mal começam e terminam.
Certa vez, o mio babo me disse que as datas foram inventadas caprichosamente para nos comprometer com coisas desnecessárias. Eu tinha pouco mais de onze anos nessa época e meu tempo era ocupado com coisas amenas: a escola, os livros, os cadernos. Fugas repentinas no meio da tarde. Encontros fortuitos dentro da noite. Um final de semana com pessoas queridas. Mesa posta no quintal dos fundos, debaixo da laranjeira. Não era necessário ter uma agenda para anotar minhas ocupações, ao contrário dele, que precisava organizar-se para cumprir suas obrigações de homem adulto.
Eu sabia do tempo através das cores… o verão era dourado e todas as coisas ardiam a minha volta: do asfalto das ruas às paredes das casas. Era tempo de fazer as malas e migrar, como os pássaros. No outono tudo desbotava e as coisas todas ficavam mais quietas-calmas. As casas se acendiam graciosamente exibindo as luzes no lugar certo… do  lado de dentro. Era tempo de listas e papelarias… ir às ruas para comprar o material escolar. O meu tempo favorito. A primavera era uma caixa de giz de cera… com um sem-fim de jardins coloridos e perfumes vários a qualquer hora do dia e da noite. O inverno era branco… com a neve cobrindo telhados e calçadas. Era tempo de descer as mantas e as blusas de frio. A vida parecia fazer uma espécie de pausa. Tudo se tornava mais lento… os passos se encolhiam e os corpos se amontoavam em si mesmos, como se fossem desaparecer repentinamente.
Essas cores todas ficaram nos ontens que eu coleciono dentro. Me perdi de todas elas. Ainda vejo diferentes tons quando caminho calçadas irregulares. Mas a relação para com as estações do ano não existe mais. Me equilibro em compromissos. Gosto das segundas e quintas. Não aprecio as sextas e tento lidar com os sábados. Os domingos são dias insossos. Os meses são sonoridades estranhas. Gosto de novembro e setembro… os outros todos não deixam rastro nos lábios. É dizer sem substância. Março é tão breve, que mesmo tendo trinta e um dias e sendo premissa de outono, só me ocorre cantar os versos do Tom — são as águas de março fechando o verão, é a promessa de vida no meu coração

 | escrito ao som de Tom e a Elis |

Publicado por Lunna Guedes

Sou sagitariana. Editora de livros artesanais. Autora de romances. Degustadora de café. Uma típica observadora de pássaros, paisagens, pessoas e lugares. Tenho fases como a lua... sendo a minguante a minha preferida!

10 comentários em “É pau, é pedra… é o fim do caminho!

  1. Não sei porquê, mas os teus textos sempre me fazem parar, pensar, acalmar e refletir.
    Parece que têm um dom mágico!
    Eu espero que tenhas um ótimo mês, e por mais que com o tempo as responsabilidades e obrigações aumentem, a criança que sempre está dentro de nós não cresce! E é a ela que me agarro diariamente, vendo os dias mais coloridos e sendo mais e mais feliz.

    Beijinhos ou como você diz
    Bacio

    Ps. Vou passar o dia com os sons dessa música na cabeça.
    Que delícia.

  2. Suas palavras me fizeram pensar que talvez a primavera seja uma criança, que esconde-se e esconde suas cores só para despertar nossa criança interior, que em busca delas volta a brincar de esconde-esconde… e o inverno, esse senhor pálido e sério fica mandando que entremos, pois está frio lá fora.

    Sigamos na caça às cores.

    Até!

  3. A conheci através de ingrid Caldas e gostei muito da sua escrita. Estou lendo Alice e completamente apaixonada pelo seu estilo e ritmo. Mas estou lendo aos poucos porque não é fácil.
    Talvez um dia possamos nos conhecer melhor, falar dos anseios de voar e daquelas coisas que se não dizem, mas se pensa nelas a todo o instante! Grata,

    Maria Luísa Adães
    “os7degraus”

    Maria Luísa Adáes / Fecebook

  4. Como sempre um lindo texto, viajo em sua escrita Lunna! Li o post coma música na mente, adoro.
    Os meses que mais gosto são junho e julho, da semana gosto de quarta e sexta, domingo também acho insosso. Bjs e que março seja agradável para todos!

Pronto para o diálogo? Eu estou (sempre)

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