Uma das coisas mais engraçadas quando você é escritor… acontece quando você publica um livro, que é apenas a ponta do iceberg. Você leva anos para escrever um romance e quando finalmente o publica, nem tem tempo para saboreá-lo em paz… é preciso dar festa — tarde-noite de autógrafos — para os amigos que acompanharam a saga e aturaram — sem reclamar — os intermináveis dias de ausências.
Nem sempre estamos onde o corpo está. A mente foge a qualquer momento… para uma espécie de realidade paralela, onde trama-personagens se orientam. Quantas muitas vezes eu não me tranquei no banheiro para conversar com um personagem (?) para escapar do rótulo de louca no mundo-normal dos outros. Foi numa dessas muitas fugas que eu descobri o bloco de notas do celular… e passei a escrever meus capítulos em paz, alegando estar com dor-de-barriga. Não deixa de ser uma espécie de diarreia…
Uma vez publicado o livro… há um sem-fim de coisas por fazer — porque o livro precisa aparecer e lançamento é apenas um movimento inaugural… o debut. Mas não basta… e preciso mais. Existe uma lista enorme de atividades a cumprir — um verdadeiro plano de divulgação e ações estratégicas —, para que um livro alcance um número razoável de pessoas. Um livro pode ficar esquecido no limbo durante semanas-meses-anos e, de repente estourar.
Pois, lá estava eu em minha noite de autógrafos… tinha acabado de fechar o exemplar para entregá-lo à pessoa que já tinha feito mil poses para a câmera… com um sorriso de mil dentes, quando a distinta quis saber — você já começou a escrever o próximo?
Me lembrei de uma amiga que havia acabado de se casar e seguiam para cortar o famoso bolo… e já queriam saber quando encomendariam o primogênito. Ao que ela reagiu com horror — quem foi que disse a você que eu quero ter filhos? E o horror mudou de lugar, indo habitar a carcaça da outra pessoa, que buscou amparo nos demais convidados da festa: — e por qual outro motivo, se casa?
Alguém ao meu lado, se escondeu atrás da taça, inclinou ligeiramente a cabeça e cochichou sua ironia para comigo: — assim que nascer o primeiro filho, irão perguntar pelo segundo e pelo terceiro…
Respirei fundo… e pensei no meu feito recente — eu pari trigêmeos, acho que vou precisar de tempo para me recuperar desse parto, que não foi nada fácil. Todos riram, menos a criatura de olhos castanhos que me olhou insatisfeita, quase arrancando o exemplar autografado de minhas mãos. E, antes de voltar para o lugar de onde veio, retrucou: — hoje em dia é costume ter poucos filhos. Um ou dois, apenas. E como no seu caso foram três de uma só vez, melhor parar por aí. E saiu acenando com a mão no ar…
Não se provoca uma figura sagitariana dessa maneira — pensei. Ao chegar a casa naquele dia… fui revirar meus rascunhos antigos, guardados em caixas-gavetas e encontrei um que fez o meu vermelho por dentro, pulsar… e, nas horas vagas — que eram poucas, mas existiam — eu distraia a mente e dava descanso ao corpo, preparando o meu próximo romance…
24 | livro publicado e agora?

Mais um ótimo relato e desejo sorte com seus livros todos, antigos e novos. E o bloco de notas do celular é libertador! Hahaha
Sucesso!
A publicação de uma obra autoral é um momento maravilhoso. Estou ansioso para sentir as maravilhas de ver sua própria obra sendo lida e adorada por várias outras pessoas ❤❤❤❤❤
Saga que merece o romance do romance.
Rindo!!! Imagino que sejam etapas agradáveis e cansativas!!! Acredito que existe um tempo de namoro (ou deveria existir) antes da gravidez e todo o processo deve ser apreciado o antes, o durante, o depois…E o depois é infinito e o ciclo muitas se repete mesmo que o depois ainda esteja em processo ( tarde de autógrafos, bate papo com o leitores no Instagram, zoom ou sei lá o que vão inventar…Eu particularmente amo a primeira apresentação, o primeiro encontro, o autografo depois do bate papo, fiz amigas incríveis nessas tardes, decepções também, mas, vida que segue…
Abraços
Que lindo! Deve ser tão incrível ter essa sensação de realização. Eu comecei e me interessar por escrita quando criei meu blog, brinquei de fazer uns poemas também. Almejei escrever um livro em algum momento do futuro, apesar de no momento acreditar que eu precise de um longo caminho para desenvolver uma escrita, mas a gente tem que começar de algum lugar né?
Na verdade, estou bem perdido em relação a qual área eu sigo.
Fiquei com vontade de ser o seu livro, sempre gosto dos textos que você publica aqui. Beijos ❤