01 | A… gosto de Kairos!

Agosto está por aqui… de novo! E eu gastei um par de horas nubladas a pensar os meses acumulados até aqui. Tudo que eu consegui foi pensar em uma pilha de roupas por dobrar. Daquelas que a gente deixa acumular e entrega ao depois — esse tempo impossível — a tarefa.
E como roupas não se dobram sozinhas… não levou muito tempo para os cabides ficarem vazios. Com o descaso dos dias sempre-iguais por aqui… puxei uma peça pela manhã, outra à tarde… mas nunca o suficiente.
Escapei para a varanda e ao observar a volta dos movimentos nas ruas… percebi que não ouvi reclamação alguma a respeito de Agosto! O mês de todas as tragédias e do cachorro louco. Além de insistirem em rimá-lo com desgosto. Eu prefiro a minha pilha de roupas por dobrar.
Caio F., também lamentou o agosto nas linhas de seu livro triângulo das águas — embora costumasse repetir comigo mesmo que os agostos haviam invadido setembro, avançado sobre outubro até descobrir o novembro que ia em meio — está lá na página 65…
Enquanto observo a máquina cuspir o meu próximo café… recordo — um a um — os meus Agostos de antes que eram preenchidos de coisas que eu sabia de cor, vividos com qualquer coisa de surpresa — uma espécie de espanto, como na poesia de Caeiro. Um acordar lento e um espreguiçar demorado… com a luz do sol em todas as manhãs e com as tempestades dentro das tardes.
Os meus agostos de antes… permitiam pausas. Um jogo conhecido entre o lá fora e o cá dentro. Era permitido subir em árvores, pular em rios, escalar muros, comer frutas no pé, cavalgar sem rumo e ver quem chegava primeiro ou por último. Esconder-se em lugares previsíveis. Correr atrás do outro para pegar e soltar. Sentar-se à mesa para refeições demoradas-coloridas. Roubar um pedaço de pão. Encher a xícara do outro. Partilhar de conversas sobre tudo e nada. Contar o que se viveu no ontem recém-abandonado… e revelar o que se pretendia para o amanhã. Mãos cheias de biscoitos de nata e aquele riso solto-fácil que faz doer os músculos da barriga. A varanda iluminada pelos relâmpagos. Os jogos de tabuleiro. Os cantos do sofá disputados por muitos corpos. As almofadas a explodir contra as paredes do corpo… e o sono que chegava ligeiro… apagando a vida-corpo-realidade-mundo no meio de um diálogo qualquer.
Os meus agostos de ontem eram regidos por Kairos… que me mandava saborear a realidade e abastecer-se das boas coisas da vida para que o dia seguinte pudesse amanhecer e se oferecer como o amanhã desse ontem… guardado no fundo, bem debaixo de todas as coisas — como aquela peça de roupa que não será dobrada hoje…


b.e.d.a — blog every day august —
Adriana AneliClaudia LeonardiDarlene Regina
Mariana GouveiaObdulio Nuñes Ortega


Publicado por Lunna Guedes

Sou sagitariana. Editora de livros artesanais. Autora de romances. Degustadora de café. Uma típica observadora de pássaros, paisagens, pessoas e lugares. Tenho fases como a lua... sendo a minguante a minha preferida!

10 comentários em “01 | A… gosto de Kairos!

  1. Eu amei esse texto dum tanto ♥ Acho que agora a gente começa a pensar que, quando reclamávamos de agostos passados, não tínhamos ideia do que nos esperava pela frente. Que saudades de aproveitar os momentos simples da rotina, mas que nem dava tanta importância assim!

  2. Não entendo o que leva as pessoas a rimarem Agosto com desgosto, mas de fato cresci ouvindo isso e demorou um tempo para perceber que o gosto ou desgosto sempre depende mais de nós do que do mês em que estamos.

    Um beijo!

  3. em Agosto eu só me lembro da canção da infância: “eu nasci no mês de agosto, no mês da flor do ipê” e torço para que seja leve, assim como as flores dos ipês.
    Bacio

  4. Olha, agosto sempre trouxe-me coisas boas, como mudança de fase na vida, troca de cidade,de empregos, de amores… Vamos ver o que me espera neste de agora.

  5. Agosto sempre foi um mês muito longo para mim, mesmo antes da pandemia! Acredito que ele sempre marcou fases da minha vida algumas boas e outras ruins, vamos ver o que ele reservou para esse ano.

  6. Quero acrescentar mais sobre esse Agosto. Ele para mim, tem sido especial, apesar de todo o peso da situação do mundo, é possível olhar para dentro de si e dar uma boa vasculhada naquilo que não era arrumado por falta de tempo… agora, temos um tempo para arrumar a bagagem e poder abraçar uma vida mais leve quando tudo isso passar, por isso é preciso se preencher de levezas…
    Xero!

Pronto para o diálogo? Eu estou (sempre)

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