As melhores paisagens de São Paulo, envolvem livros. A Martins Fontes, na Paulista, instalada a poucos passos da Brigadeiro Luis Antônio. A Livraria da Vila, com suas várias unidades na cidade… todas simpáticas, sendo a de Moema a melhor — sem dúvida. Cenários para se ver com calma. Limpar o pé ao chegar e se aventurar pelo lugar-casa-livraria. Vasculhar a mobília. Prestar atenção nos quadros. Sentir aquele cheiro gosto de café-bolo-chá.
E foi numa dessas andanças — depois de um dia de trabalho —, que me deparei com Rupi Kaur… recém chegada à ilha de livros. Seu título enorme-imenso provocou cada um dos meus sentidos.
Folheei ali mesmo… em pé, com fome-sede-desejo-vontade. Não sabia a autora e sua poesia, sua estrada e a busca por um lugar ao sol. Sua escrita se revelou um deserto a ser explorado. Figura inédita em meus vãos. Fui consumindo cada um de seus versos orientados nas páginas — lado a lado —, com ilustrações feitas pela poeta-menina-mulher-figura-estrangeira, em busca de espaço que não costuma ser dado as mulheres, especialmente as que não são brancas.
Traguei do cigarro imaginário que queimava entre meus dedos. Dos cafés servidos em xícaras de ontem. Quando voltei a mim… já tinha lido metade do livro e o lugar estava a fechar suas portas. Era preciso voltar… paguei pelo exemplar e fomos por aí, de mãos dadas a lerem-se.
Poesia não vende — dizem. Em tempos de redes sociais, todo mundo é poeta — retrucam. E eu apenas recordo que aprendi a ler através de poderosos versos e a realidade sempre se orientou melhor a partir da poesia de certas senhoras, que ousavam em seus versos, sem se orientar pelo jeito de fazer poesias.
Como é fácil se liquefazer através de um verso bem escrito que veste e desnuda num mesmo segundo. Como é fácil não dizer quando já o fizeram por ti, com as palavras certas-definitivas.
Eu sempre fui silenciosa-quieta… quase muda. Atenta ao que era discurso, me aborrecia com facilidade e, se chamada ao diálogo, bufava pesado. Sempre fui curiosa-indócil… disposta a compreender todos os símbolos e atribuir sentido ao que dizia.
Emily Dickinson foi minhas asas. Quando a sorvi… perdi a mim. Fiquei sem corpo-pele-alma-matéria. Nada. Me desorientei. A poesia de Emily dizia meus silêncios. Explicava minha monotonia. Ela estava morta — como a maioria dos poetas que li nas minhas duas primeiras décadas de vida —, e ainda assim falava comigo. Sabia meus segredos todos. Meus medos. Conhecia o lado de dentro — esse lugar ainda inominável.
Poesia é silêncio… foi o que entendi ainda menina e nada conseguiu me demover dessa certeza. Desde então, descobri vários poetas.
Rupi foi a última a chegar… feito um vendaval. Eclipse. Lua Cheia-minguante. Um diálogo solto no ar, feito pássaros — a voar na imensidão do ar —, que você observa de sua janela… e quando dá por si, está a voar junto e a descobrir: “outras maneiras de usar a boca”.
A poesia de Rupi começou no Instagram, muito antes de ser moda postar restos-rastos de frases no lugar das fotografias. Ela fala de si, de amor, violência e liberdade. Fala da mulher contemporânea que ainda não aprendeu dizer não, mas já sabe que outras o fizeram.
Rupi nos convida a olhar para ela… e para nós mesmas. Chegou a lista dos livros mais lidos mas, há quem a classifique — visivelmente incomodados — de não fazer poesias. E eu me lembro do poeta inglês Eliot… sempre avesso a crítica: não existe outro crítico vivo ou morto, acerca de cujo trabalho esteja tão bem informado como estou acerca do meu.
Outras maneiras de usar a boca

Olá!
Li apenas “Outros jeitos de usar a boca” e gostei da narrativa experimental para nos contar a história dessa mulher e de suas descobertas. Pretendo ler o outro livro em breve.
Seu texto soou poético em consonância com Rupi. ^
Beijo,
Samantha Monteiro
Degrau de Letras
conheço a obra, mas ainda não li. Gostei de conhecê-la um pouco mais em seu post. E falando em livrarias, São Paulo está muito bem servida dessas belezas, não espero a hora dessa pandemia acabar por completo para eu pode passar horas apreciando seus produtos.
Tem coisa melhor do que se perder em uma livraria e achar um ótimo novo autor?
Sempre ouço falar e vejo esse livro por aí (e AMO os títulos grandões) mas ainda não parei pra ler sua poesia. Não sabia que a autora era já popular no Insta. Vou até pesquisar mais sobre. E um dia, também lerei os livros (valeu pela dica)
Beijinhos e bom final de semana, recheado de poesia ❤
Lembro que conheci a Rupi Kaur numa época em que todo mundo falava dela e de seus livros em tudo quanto é lugar. Nem sou dessas que se torce o nariz para algo que todo mundo está comentando, mas admito ter pego uma certa implicância depois de todo mundo, até meus amigos que não tem o hábito de ler, insistindo que TINHA que ler; Não li. Pelo menos, não àquela época. Um tempo depois, acabei esbarrando com o livro na casa de uma amiga e uma folheada me deixou curiosa. Pedi emprestado, li e me encantei. Sempre gostei de poesia, mas acho que ainda não tinha me identificado tanto com algum autor(a) antes.
Rupi Kaur é uma das poetisas mais incríveis que já li. Li os dois livros na imagem acima e não me arrependo, veio na hora certa ❤
Conheci a Rupi há alguns anos através de sua segunda obra, que ainda é a minha favorita. Lendo depois a primeira percebi um amadurecimento na escrita dela, que mantém os seus temas pertinentes numa cadência incrível. Mal posso esperar para ler outros trabalhos da autora!
Minha cidade ficou anos sem ter uma livraria sequer, depois abriram uma pequena no shopping, mas tem mais livros infantis ou best-seller em versão econômica. Sobre o título da Rupi, ainda não li, mas achei interrssante/curioso e espero ler em breve.
Beijos
Dela, só li O que o sol faz com as flores, motivada pela sua postagem que falava sobre livros do mês, não me lembro se agosto ou setembro. Adore!
acho sua forma de escrita trabalhada e bonita, realmente dá gosto em ler o livro ou poema que você recomenda aqui. sobre o livro, achei o tema dele bastante interessante e importante pra todas as mulheres a partir do momento em que está se descobrindo.
des bisous,
Jaque de Lua ♡