Certa vez ao passear pelo centro da cidade em que morava — ainda menina —, me deparei com uma janela entreaberta e uma manequim deixado lá. Li com alguma dificuldade o anúncio pendurado no pescoço do boneco velho: vende-se. Durante alguns passos — engatados ao de C., —, tentei compreender o pequeno carta. Quem estava à venda? Eu me distrai com uma vitrine — bem elaborada, imitando um vagão de trem, com acentos e os manequins imitando personagens urbanos. Um em pé, na porta e o outro sentando com fones de ouvidos e um livro em mãos. Meu conceito de vitrine se estabeleceu naquele fim de tarde.
Vitrines se transformaram em janelas para um mundo particular…
1 — uma janela fechada é um convite ao meu imaginário que inventa cômodos, mobiliando-os. Moldando cenários e possibilidades. Chego a sentir o cheiro do acoalho de madeira encerado e a textura das paredes.
2 — uma janela aberta me oferece quase tudo — o lado de dentro, com seus cenários bem definidos. O imaginário, no entanto, se ocupa do personagem que ali habita… traçando-o a partir das cores, fôrmas, movimentos.
3 — e quando o personagem se oferece por trás do vidro… imagino os muitos ontens que se orientam a figura que se mostra, como se estivesse a exibir no pescoço, um anúncio: vende-se.

4 — há vitrines-janelas em que um simples objetivo nós conduz ao interior… sem vida-história ou personagens. O abandono também e um roteiro interessante para que vive de contar histórias.
5 — há vitrines em que o manequim-modelo vivo te coloca em contato com um personagem outro de Magritte, Hopper e vira uma tela surrealista ou uma pintura modernista que não cabe nas paredes da casa.

6 — as vitrines urbanas-humanas me agradam bem mais que as das lojas e seus produtos da moda-estação — elaboradas cuidadosamente para atrair e induzir a compra. A realidade tem outra receita…
Alê Helga — Isabelle Brum — Mariana Gouveia — Obdulio Nuñes Ortega
A sua imaginação é um bálsamo
Eu sempre dou uma espiada na casa do vizinho da frente. É que, volta e meia, um dos muitos gatos que moram com ele está na janela.
Lindas imagens 👀
Seus posts de 6 on 6 são sempre poéticos. Gosto muito da narrativa criada em torno de cada foto, que desperta a imaginação. Achei a primeira e a segunda fotos lindas, mas a que mais me instigou foi a última.
A foto 5 foi a que mais me chamou a atenção, realmente me fez imaginar uma pintura. Fico pensando nas histórias de vida por trás da figura desse senhor. Achei o post muito poético, adorei!
Eu tenho o hábito de ficar olhando as vitrines das lojas e imaginando as várias histórias emocionantes que podem ter acontecendo la dentro, desde pessoas sendo ajudadas ou não pelos funcionários. A janela número 01 me lembrou uma casa onde minha mãe trabalhava quando eu era criança, nunca tive a oportunidade de entrar nela, mas, ficava do lado de fora imaginando quantas coisas lindas e luxuosas havia la dentro, sempre tive uma mente muito fértil..rs.
Vitrines urbanas-humanas! Que belíssimo título, Lunna!
Imagens que fazem sonhar e legendas de sonho.
Adorei este percurso!
Amei toda a ideia de janelas como vitrines da própria vida humana… As fotos ficaram incríveis, e li o post todo lembrando da música “Vitrines” do Chico Buarque ❤
Que viagem!!! Menina nunca parei para observar as janelas, mas, agora deu até vontade de fotografar…
As fotos arrasaram…
Abraços
Adoro fotografar janelas! Lindo texto!!!