Sylvia Plath escreveu em um de seus diários — “amo as pessoas. todas. Amo-as, creio, como um colecionador de selos ama sua coleção. Cada história, cada incidente, cada fragmento de conversa é matéria-prima para mim. Meu amor não é impessoal, nem tampouco inteiramente subjetivo. Gostaria de ser qualquer um, aleijado, moribundo, puta, e depois retornar para escrever sobre meus pensamentos, minhas emoções enquanto fui aquela pessoa” — e eu me lembro com precisão do dia em que essa anotação. Até então eu não sabia definir a minha condição com relação as pessoas. Nunca fui de conviver em bando. Uma figura solitária — diziam. E, mesmo não dando a mínima para rótulos, reconheço que sempre fui a que observa-aprende-degusta. Em outras palavras: uma observadora de pássaros.

1 — Sai para caminhar ruas-calçadas num tempo anterior a pandemia. Percorria a Avenida Vergueiro em direção ao Paraíso quando avistei essa personagem. Passava das nove. Não eram dez ainda. Em situação de rua, me chamou a atenção o cuidado com o cão e o livro.

2 — Quando escrevo, comumente acabo esbarrando em pessoas que me ajudam a descrever a personagem com qual lido, no momento. Nesse dia, eu estava a tramar lua de papel e ao levantar os olhos, resvalei na figura andrógena, com os cabelos cortados com tesoura própria e a roupa reinventada a partir de muitas peças. Era uma artista-arteira… alguém na contramão da realidade.

3 — Eu estava a finalizar mais um projeto-de-livro artesanal… eram quase dez horas e eu precisava de um Café. Levantei os olhos e me deparei com essa figura ausente da realidade, ocupada livros-cadernos… rendida ao celular. Desisti do café… e fiquei a observá-la na condição de personagem-futuro.

4 — Essa cena cresceu em meus olhos por causa do burburinho de pessoas incomodadas com a idade do casal. Demorei a compreender o motivo de tantas frases mal pontuadas. E, ao contrário de todas as pessoas ali, eu só conseguia me deliciar com a sutileza dos gestos e a imaginar o que era diálogo silencioso.

5 — A Mário de Andrade é um dos meus Templos sagrados, em São Paulo… uma espécie de celeiro de personagens. Eu estava do lado de dentro e esse rapaz do lado de fora a folhear um livro de poesias. Parecia embriagar-se com cada verso lido. O olhar no nada e o corpo anestesiado. Passado tanto tempo, ainda suspiro com ele…

6 — Era uma terça-feira e eu pretendia fotografar o prédio do velho hospital Matarazzo antes das reformas começarem e, no meio do caminho, esbarrei nessa cena. Dois personagens urbanos a narrar com seus corpos uma vida inteira. Presenciei o cuidado e o carinho. Ele abriu a porta do carro. Ajudou a se sentar e verificou se estava tudo certo. Dias antes, eu tinha lido a frase “existe amor em sp” em um muro da cidade. A resposta veio dias depois…
Adorei seus personagens. Lembro-me de quase tudo que li aqui enquanto andava com tu por tuas ruas.
Amei! Cada foto, cada personagem, cada frase.
Adorei os personagens observados. Assim caminhamos 👀. Abraços
Me derramei inteira com os amantes na foto 4 😍
Fico me perguntando como você conseguiu fazer esses registro…Adorei as fotos mas, fica a pergunta as pessoas foram comunicadas que estavam sendo fotografadas…Não é um critica, é apenas uma curiosidade…
Abraços
Que saudades desses lugares. Antes da pandemia eu sempre andava por ai, adorava ficar na biblioteca do centro cultural. As fotos ficaram muito bonitas também! Beijos :3
Que lindas fotos e personagens! Amei especialmente a numero 04. Parabéns pelo olhar!
Infelizmente furei com o desafio esse mês 😦
Aguardando Abril ❤
Beijos
O início desse post me lembrou o quanto quero ler os diários de Sylvia Plath, principalmente após finalmente ter lido A redoma de vidro! Amei as fotos do seu post, que me deixou com saudades de circular livremente por esses ambientes urbanos, observar as pessoas, imaginar histórias… Ai vacina, chega logo que não aguentamos mais!
Top. top
Que imagens lindas!!! Eu fico fascinada, adoro demais esse tipo de post!
Vários personagens, várias histórias. A vida…
Senti saudade imensa de sair, respirar as ruas, as pessoas, observar e imaginar as muitas histórias de cada um.
Lindo post!!! bjs
Que belas fotos, Lunna. E que nostalgia me deu de caminhar pelas ruas normalmente e ver as pessoas assim, no cotidiano antes desse caos todo.
Obrigada pelas fotos; chegaram aquecer um pouco o coração e me dar esperança de um dia voltar a ver esses personagens…
Estou EMOCIONADA com a quarta foto… Que momento mais lindo de presenciar, uma demonstração de carinho tão voluntária, sem se importar se existe alguém olhando! O registro ficou lindo.
Na verdade achei todos esses registros muito sensíveis. Faz imaginar a história dessas pessoas. Você falou com elas, para falar das fotos ou algo assim? Fiquei curiosa em relação a isso.
É engraçado, mesmo sabendo que isso tudo foi antes da pandemia, sinto falta das máscaras. Passa uma sensação de perigo ver as pessoas sem em filmes, fotos e afins, esse um ano foi muito significativo nesse aspecto, ainda que negativamente.