
| Para ler ao som de belle & sebastian, clique aqui |
Meu primeiro rascunho — no sentido de produção literária –, aconteceu em sala de aula, durante as enfadonhas aulas de Geografia. Aproveitei o meu — nunca usado –, caderno para rascunhar uma espécie de romance policial.
Minha personagem principal era uma colega de turma… uma menina loira, que passava as aulas a mascar aquela maldita goma, com a boca bem aberta — uma cena deprimente. Ela também dava outra utilidade ao seu — nunca usado –, caderno: escrevia o próprio nome: dúzias de vezes… e, sometimes, adicionava o sobrenome do jovem, por quem se dizia apaixonada. Ele era mais velho, fazia parte do time de futebol do colégio e, para ele, as garotas eram exatamente como uma goma de mascar.
Eu não me lembro quanto tempo levei para escrever o tal romance. Mas, nunca vou me esquecer do susto que foi, vê-lo nas mãos da Professora de literatura. Resultado? Algumas semanas depois, a escola inteira lia a história da garota loira assassinada ao lado da escola, nas páginas do jornal da escola… que o publicou em capítulos.
O anonimato, ao qual eu era grata, se evaporou. Virei refém da realidade escolar. Todos queriam saber qual seria o meu próximo romance-personagem e, o mais importante: em qual aluno ou professor eu iria me inspirar. Fiquei sem chão-mundo-mapas-aspas-sossego-paz. Inventei gripes, congestões, dores de cabeça-estomago, indisposições… apenas para não ir ao colégio e encarar aquela multidão faminta.
E ao retornar ao colégio… fui intimada a escrever uma Peça teatral para a festa de final do ano, do colégio. Outro tormento. Passei dias inteiros sem conseguir escrever uma única frase. Nada me ocorria. A idéia para o texto, no entanto, surgiu exatamente no momento em que ensaiava a minha recusa. Um bando de garotos tramava uma tentativa de fuga. Eles pretendiam escapar das últimas aulas… escalando o muro alto da escola, E, tudo isso, apenas para irem a casa de fliperama.
E eu escrevi a tal peça… que foi exaustivamente ensaiada e apresentada em uma noite de presenças. Soube que todas as cadeiras do auditório da famosa sala vinte e um… foram ocupadas por pais, professores e alunos… que aplaudiram incansavelmente.
Eu não fui! Tive uma forte dor de cabeça… inventada no último minuto. E, ao retornar a escola, no ano seguinte: novo convite… dessa vez para ser a oradora da turma. Justamente eu que nem pretendia estar presente na maldita formatura. Mas, antes de escrever o tal texto, tentei elaborar o meu plano de fuga… que não deu certo e tampouco serviu para me inspirar. Mas, eu escrevi o tal texto e parei. Tranquei as consoantes e vogais em algum lugar de mim e, no ano seguinte, escolhi cursar psicologia!
Abril [entre tantas coisas] é o mês do B.E.B.A e lá vamos nós…
e eu terei companhia nessa aventura diária
Adriana Aneli – Alê Helga – Claudia Leonardi
Mariana Gouveia – Obdulio Nuñes Ortega – Roseli Pedroso
Mesmo solidária a dor sentida na época, não me vem outra palavra agora para descrever essa história que li quase num só fôlego: Belíssima!
Me identifiquei com a história até um certo trecho: é que no meu caso não arrancaram o caderno das minhas mãos…
Bom final de semana!
Beijos,
Imagino como tenha sido… Colégio é quase sempre um ambiente hostil. Alguns dizem que tal sensação passa quando começamos a universidade. No meu caso não passou: Achei a Universidade ainda mais hostil que o colégio…
Obrigada por compartilhar conosco este capítulo da tua vida!
Abraços!
Torturante Lunna. Deu pra sentir a aflição. Flui tudo, quando menos esperamos. Chega, enfim!!! O destino foi conduzindo tudo para o lugar certo. Hoje, perfeito! Abraços
Amei essa trajetória, e gostaria muito de ler essa maravilha.
Estou adorando rever seus textos.
Cada vez que abro meu e-mail e encontro esse re-olhar, suspiro.
Beijos meus
Isso é mesmo curioso. Os talentos aparecem na proporção inversa à sua busca pelo anonimato 😉
Posso imaginar o desespero. Nunca me sinto a vontade de mostrar meus textos ou meus desenhos para outras pessoas. Nisso sou grata à internet: me permite divulgar minhas produções sem exigir que eu esteja ali presente para testemunhar a reação das pessoas.
Quanto fugimos do nosso ‘destino’ – não gosto desta palavra, mas como não encontrei melhor, vai ela mesmo com tudo que significa. rs
O infeliz nos espera, sentado, calmamente pitando um fumo de corda, na esquina mais a frente… e por isso estamos aqui, você ai, a escrever e eu aqui a ler-te.
Eu sempre exibi meus cadernos, escrever nunca foi uma opção no meu caso. No seu, a coisa aconteceu assim, parece, como um encontro fora de hora com a vocação. Mas, pelo jeito, tudo se ajeitou, hum? Depois, combinado está: quem não gosta de um aplauso?
Tem a versão em Português? Eu quero (muito) ler.
Ainda me lembro do seu rascunho de lua de papel. Tinha outro nome e foi publicado no blog da querida Menina das marés. Foi ali que te encontrei, ainda não era uma escritora, apenas uma aprendiz, segundo você. E foi um prazer te acompanhar desde lá até aqui.
Bem legal saber sua trajetória. Mesmo se sentindo incomodada, prosseguiu e nós agradecemos!
Ah, eu digo que eu sobrevivi para, no dia seguinte escrever a respeito. rs
Que incrível! Dizem que pessoas tem talentos, eu ousaria dizer que elas são o próprio talento, ainda que nem tenham a intenção de ser.
Sempre escrevi e nunca mostrava a ninguém. Pode parecer incrível, mas estimulado por “más companhias” (que eu escolhi a dedo), pulei várias vezes o muro do colégio para jogar fliperama. Como não tinha dinheiro, mas ao mesmo tempo tinha – na verdade moedas de 25 Centavos antigas, fora de circulação há décadas, com o mesmo peso e tamanho das fichas normais – joguei muito, principalmente pebolim (futebol de mesa). Mas passei tranquilamente de ano. No ano seguinte, deixei de ir ao fliperama, mas foram as “crises existenciais” que começaram a interferir no meu rendimento escolar. Esse jogo não soube jogar e perdi o ano…