Há tempos que não tenho um calendário por perto. A agenda do Google me posiciona/atualiza. Mas não aponta os dias em um pedaço de papel com aqueles números coloridos, capitaneados por um nome. A agenda de papel — artesanal e exclusiva — oferece esse Norte, mas como de costume, escapo dos dias-semanas-meses ao avançar e retroceder nas páginas numeradas, com minha escrita convulsiva.
Escrevo num dia, reescrevo no outro. Leio no dia seguinte. Risco e rabisco. Abandono a narrativa. Retomo a idéia-primeira enquanto ando pelos cômodos da casa… Há momentos em que me falta jeito e parece que desaprendi os caminhos de um bom texto. Não sei como dizer o que sinto-penso. Falta silêncio… sobram barulhos. E não é medo o que sinto. É consciência de que em algum momento tudo se acaba…
Respiro fundo… água na chaleira! — o precioso tempo de espera. Sou tudo e nada… e eu gosto imenso dessa pausa tão necessária. O branco da mente-memória-pele e do papel, onde escrevo.
Disse em voz alta — enquanto derramava a água fervente na xícara — aconteceu Agosto, para ver como ressoava pelas paredes da casa-corpo. Nenhuma emoção… trovão-relâmpago. Nada…
Desde que cheguei a São Paulo, em meados de dois mil e dois… que Agosto perdeu um pouco de seu sabor. Descobri que por aqui, é um mês inteiro, que tem a estranha mania de invadir outros meses, serpenteando por setembro-outubro… invadindo Novembro, como se o Centauro que o me orienta fosse meros degraus de pedra, que ninguém quer subir.
Agosto é um daqueles meses que não quer deixar o calendário. O ano todo avança ligeiro… de janeiro a julho em um pulo. E num estalar dedos, vira-se a página e lá está Agosto… o tal do mês do cachorro louco e das muitas tragédias locais. Parece que por aqui, tudo acontece dentro dos trinta e um dias desse mês, inventado por um Imperador romano.
Beberico um gole de chá… recordo o tempo em que Agosto era desfecho. Eu vivia os últimos dias do verão e como eu tinha pressa. Contava cada segundo de euforia e o cuore começava a dar pequenos solavancos dentro do peito. Alguém sempre dizia… ano que vem tem mais — mas a consciência insistia em dizer que em algum momento… tudo se acaba.
E volto ao texto e a esse dia de domingo, o primeiro de Agosto… Repito frase por frase em voz alta para ver se melhorou. Um sorriso irônico escorre dos lábios… risco algumas palavras e escrevo outras e mais outras e percebo que algumas nem são minhas. Elas ressoam de algum ontem que eu trago intacto na memória: — Agosto, bambina, tem gosto de café forte-denso, feito café ristretto nas primeiras horas do dia.
Em nesse Agosto temos b.e.d.a — blog every day august.
Adriana Aneli — Claudia Leonardi — Mariana Gouveia
Obdulio Nuñes Ortega — Roseli Pedroso
Adoro quando nos misturamos as lembranças no mesmo tema! Adoro!
Meu Outro Lado ali, espreitando tudo… ❤
Eu tenho um só meu, fica entre Sophia e Rupi.
Amo muito, muito, muito mesmo
E agosto começou. Nem dizendo em voz alta, Catarina/Lunna
Mas eu senti o forte gosto de café ao ler-te.
Bom demais voltar as tuas palavras e sem essa de que tudo se acaba, viu?
Catarina sempre volta a escrever, oras
Mais novo, o meu Agosto marcava o reinício das aulas e do tempo indeciso entre o frio e o calor. Ganhou importância total quando em seu décimo segundo dia nasceu a Romy, leonina até a última raiz de cabelo.
Quando agosto chega mais parece anunciação de final de ano: o desespero de que não dê tempo para se viver as coisas necessárias ainda esse ano começa a soprar.
Esses percursos muitas vezes, indecisos e imprecisos da escrita. Se tiver um café por perto, tudo se torna claro e as palavras se apresentam para nós. Sempre a gosto! Amei esse texto Lunna!