Nada mais existe, nada mais tem importância,
para quem viu a treva nos intervalos das coisas.
Jorge de Sena
Depois de tantos começos-meios-e-poucos-fins… Silenciei as teclas, rasguei rascunhos, queimei cadernos e tranquei portas e janelas — decretando o meu próprio fim. Sou o tipo de criatura que se recolhe de tempos em tempos… Fica no canto oposto ao mundo-realidade das coisas para espiar o que restou de tudo.
Já perdi a conta de quantos blogues fechei… e esse foi feito sem querer. Digitei no espaço de endereço do wordpress o título — sem compromisso algum. Estava disponível… e o deixei lá. Disse em voz alta: não é para ser-existir…
L., com quem converso sobre literatura disse: outro blogue? E eu apenas sorri como faço nas horas mais estranhas.
A ausência do mundo virtual aconteceu sem que eu a planejasse. Gosto de ir embora… fazer as malas, mudar de país-cidade. Hospedar-me em pequenos hotéis e sair para andar o lugar. Ao voltar para casa — seja lá onde fica isso — o corpo chega primeira e se acomoda nos lugares favoritos, prepara uma xícara de chá e cumpre o velho ritual de espera. A alma sempre se demora um pouco mais pelos lugares por onde passa. E foi o que aconteceu com esse espaço — guardado no fundo do baú, durante algum tempo.
Catarina sou eu, a persona que escreve a partir do outro… que reinventa realidades, melhorando ou piorando os cenários-pessoas em que tropeça e fica. Nunca fui boa com títulos-nomes… vivo trocando-os, esquecendo-os. Alguns, no entanto, de tão sonoros, não se perdem… mas, eu nunca pensei que — ao retomar o movimento dos dedos em ritmo alucinado de consoantes e vogais, disparando frases inteiras-precipitadas, orientada por uma figura tão minha inventada-talhada-no-verso-da-carne –, teria que cunhar uma resposta para a pergunta que se aqui se repete tantas e tantas vezes: Quem é Catarina?
Alguns amigos-leitores emendaram a palavra ao meu nome, sendo criatura-e-criador uma mesma coisa. Faz sentido. Outros, no entanto, vasculham tudo em busca de um Norte. Divirto-me igualmente… Mas, hoje, resolvi desenhar-me Ca.ta.ri.na… personagem-mulher. A comandante desse barco-nau, que sou — sempre em busca de tempestade. A pessoa que vive do lado de dentro e diz o que sente-pensa em voz alta para sentir o eco da própria voz a reverberar nas paredes do corpo.
Catarina é a escrita-livre… descompromissada. Um caderno novo. Uma manhã de sol… um dia inteiro de outono. Fim de tarde… com ventos mornos a espalhar pelos ares as folhas secas da estação. O grafite a riscar no papel qualquer coisa minha-sua-nossa, enquanto um blues gira na vitrola — trilha sonora para essa narrativa que é uma espécie de pausa nas coisas do mundo-vida-realidade…
De mãos dadas com ela, percorro alamedas com nome de pássaros, observo a realidade, aprendo outras pessoas-personagens. Compro um caderno numa papelaria antiga. Reinvento uma manhã de sábado. Coloco a chaleira no fogo e enquanto espero… vou até a prateleira em busca de um livro de poesias. Ocupo o meu lugar a mesa… empunho a lapiseira com seu grafite 3B. Observo o lugar-paisagem, a pessoa que sou em paralelo a todos as outras que fui-e-não-fui. Aprendo novas palavras e… volto a escrever, consciente de que talvez nunca mais o faça.
Nesse Agosto temos b.e.d.a — blog every day august.
Adriana Aneli — Claudia Leonardi — Darlene Regina
Mariana Gouveia — Obdulio Nuñes Ortega — Roseli Pedroso
Lunna-Ca.ta.ri.na, se não me engano eu fui a primeira aqui a chamá-la assim, Lunna que veio do sótão, passou por Telhados vermelhos e atracou aqui disfarçada de Catarina, essa figura que sempre volta a escrever e que sempre me deixa com vontade de chá. Como foi mesmo que escreveu em um de seus diários? Uma xícara de chá feita de um pomar inteiro… adoro essa frase.
Eu estou a bordo…
pode partir!
Bisous
Báh! Eu te descobri Lunna-Catarina e lamento não ter navegado por outros mares.
Mas como cá estou, já sinto-me alegre por ser barco e desejo que bons ventos conduza esta nossa embarcação.
Beijos meus.
Se eu tivesse essa quase certeza de que não mais escreveria, eu não sei o que faria… Talvez, reconhecesse em vida o que fosse morte.
Acho que eu te sigo desde o Sótão, mas não sou uma das que pergunta quem é Catarina sou a que mistura as duas, desde o primeiro post, aquele com o poema do Eliot que eu não conhecia.
Sou nova e velha. Sou eu e serei sempre eu a navegar por aqui.
Mas você é Catarina/Lunna (ou seria Lunna/Catarina?? Eita) só não sei por quanto tempo ainda, já que muda e muda e muda.
beijos
Lunna-Catarina, que delícia ler-te menina.
Eu sou uma das que te acompanha nesses blogs todos que você inventou desde 2007. Acho que foi Acqua o primeiro. Estou estranhando todo esse tempo sem um novo bloguinho, o que há? Seria o título? hehehehe
Um beijo de fa (nao tenho o till, rs).
Lola
Vamos navegar dona Lunna fantasiada de Catarina.
Eu me lembro que fiz festa por aqui quando você voltou ano mundo dos blogs. Adorava o Acqua e as discussões que você provocava por lá. Eu lembrei daquele seu texto sobre o futebol feminino no outro dia, quando o time do Brasil perdeu. E tudo que disseram por lá. Acho que hoje concordariam com o que você disse por lá. Mas na época vociferaram um monte de barbaridades.
Sabe que eu sinto falta do Acqua? Se bem que foi ele quem me trouxe até aqui. A carta náutica deixada por lá, me trouxe até aqui. E eu disse: vamos ao mar…
Baci