Noite de sábado… pouco antes da meia-noite…

E a noite é essa sombra intensa junto aos meus olhos. Todos dormem aqui em casa e lá fora há poucos movimentos. Comecei a pensar nessas páginas como uma publicação. Confesso sentir alguma estranheza quanto a isso… não é algo que eu pense com frequência, muito pelo contrário — é algo que passou por mim há pouco feito um vento frio em um dia aquecido…

Passa das duas da manhã e eu optei por percorrer os escritos feitos até aqui — tantas coisas ditas-feitas. Matizes tão meus. Percebo certos movimentos dentro das frases e sinto um calafrio por dentro. Sou eu ali — repito pra mim enquanto percebo essa estranheza tomando conta do meu íntimo… não é um personagem. Sou eu mesma, na primeira pessoa. Coisa tão estranha… estou a narrar minhas vivências — convertida em persona que escreve e se reinventa.

— abre parênteses —
As coisas quando escritas ganham outro aroma.
— fecha parênteses —

Fecho os olhos e ouço Debussy… a satisfação vai num crescente agradável. Tudo se esparrama feito um pote de balas coloridas virado em cima da mesa, com o qual me distraio, como se observasse a minha própria mão — num desses ontens que coleciono em silêncio — a separar as azuis das demais…

…o pé de laranjas no fundo do quintal. Janelas abertas para o fim da tarde. Livros amontoados pelos cantos dos cômodos. Xícara de chá no canto da mesa. Filme antigo, sem cor-fala na sala do meio. A poltrona com as marcas do corpo e o sono que chega sem avisar, obriga os olhos a se fechar e apaga tudo… as horas, o instante, a realidade. Os ingredientes para o jantar na mesa da cozinha. As panelas e os conhecidos rituais. Sempre que penso nos dias de sábado… respiro fundo e sinto os aromas se precipitando em mim. Caldo de massa. Uma possibilidade muito simples. Um pouco de alho picado, cebola e poró… tomates pequenos picados e tudo na panela com um fio de azeite e uma pitadinha de sal. Sinto os sons, aprecio o despertar dos cheiros. Acrescento água antes que o calor coloque tudo a perder. Por mais que o momento peça outra coisa… um fettuccine ou um fusille. Um risoto… talvez. Quando dou por mim, estou a preparar a receita da infância, quando uma casa de pedra era lugar para onde viajar… caldo de massa. E recordo o borbulhar gostoso da panela e as pesadas colheradas vermelhas sendo levadas à boca. Sensação de aconchego, de se saber à casa… um agradável afago quente, dentro do que ainda é tarde, quase noite — quase ontem-hoje-amanhã.

Nesse Agosto temos b.e.d.a — blog every day august.
Adriana Aneli Claudia LeonardiDarlene Regina
Mariana GouveiaObdulio Nuñes Ortega Roseli Pedroso

Publicado por Lunna Guedes

Sou sagitariana. Editora de livros artesanais. Autora de romances. Degustadora de café. Uma típica observadora de pássaros, paisagens, pessoas e lugares. Tenho fases como a lua... sendo a minguante a minha preferida!

8 comentários em “Noite de sábado… pouco antes da meia-noite…

  1. Que delícia reler esse texto nessa manhã de domingo. Adorei. Eu dei o seu livro para a minha neta mais nova e ela adorou. Não me devolveu mais. Vou precisar encomendar outro exemplar. Ela diz que é a primeira vez que lê alguém que desenha cenas na cabecinha dela. E olha ela não era de muito ler não. È da geração que adora netflix.
    bj

  2. Nossa, que vontade que deu agora de tomar esse bendito caldo de massa. Receita simples que eu não sei preparar não. Minha nonna também falava dessa receita, dizia que era o que dava para fazer em determinadas épocas tristes. Era tudo que tinha e alimentava tão bem. Mas eu não me lembro de ter experimentado.

    bisous

  3. Lindo texto, Lunna! Ouvi dizer em algum lugar que os nossos personagens são sempre nós mesmos, desatados. Se bem que há nós górdios que não nos dão o coração à mão tão facilmente.

Pronto para o diálogo? Eu estou (sempre)

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