Escrevo nesse agosto… seguinte ao seu! E deixei — propositalmente e sei que entenderá — para fazê-lo no dia seguinte a sua aterrissagem. Você chegou cansada… e levou um tremendo susto com tudo que descobriu a sua volta. A pele foi invadida por uma sensação de primeira vez… como se nunca tivesse passado por aquele portão, entrado num carro branco e seguido pelas avenidas e ruas… antes.
Cheguei a conclusão de que essa cidade é uma espécie de trovão no azul… sempre nos faz estremecer, por dentro. E a sensação de primeira vez, vez ou outra, ainda me atinge. Sinto arrepios ao percorrer certos cenários e torná-los meus.
Eu ainda lembro — e creio ser impossível esquecer — de nossos primeiros passos pela Avenida Cruzeiro do Sul até aquela casa abandonada perto do metrô que a essa altura deve ter cedido lugar para um enorme prédio-espelhado. Aqui tudo se desfaz muito rápido e nem dá tempo e reclamar. Alguns tentam, minha cara… mas é perda de tempo. O nosso olhar estacionou naquela janela… que exibia o interior em ruínas…
No mesmo dia… encontramos o Templo na Consolação com aquelas letras escritas em preto-horrendo no topo do prédio. Um dialeto… você pensou enquanto galgava os degraus, pedindo licença ao homem-poeta para invadir o lugar e descobrir ali uma Biblioteca com o nome dele. O cenário foi totalmente modificado. O salão encolheu… mas você continua apaixonada pelo cenário-lugar.
Algumas horas depois — de metrô –, chegamos a Avenida Paulista e de número em número, fomos nos perdendo dos nossos traços-mapas. Escolhendo nossos prédios preferidos. Foi outro solavanco no corpo. Passava das seis e a Lua estava linda quando nos enroscamos em um abraço.
Mas, de todos os traços… do que mais gosto de lembrar é do caminho que percorremos até o Parque… sem mapas, apenas retas. Nos perdemos. Você quis dobrar esquinas e não acompanhar o que diziam as placas. Mandava seguir em frente… e você virava uma esquina. Distraiu-se com casas-prédios… um ou outro personagem caricato e até com a largura das ruas. E outra casa abandonada.
Eu sigo sem saber se são as casas, suas histórias ou se somos nós. Sei que vai sorrir suas certezas ao ler essas linhas…
Nós chegamos ao Parque no final da tarde… em tempo de aproveitar o pôr do sol de frente para o lago e ser convidada por um grupo de mulheres-estrangeiras a participar de uma roda de magia. O cuore veio a boca e você quase recusou o convite, mas perdeu o idioma, a voz. Recordamos um tempo anterior — que não é tão nítido para você quanto é para mim. Uma das moças nos ofereceu um graveto e disse em outro idioma: seja mil vezes bem vinda. Cantamos the Earth, the Air, the Fire, the Water return e foi como ser resgatada por uma Força que sempre regeu nossos passos-movimentos-sentidos.
E enquanto escrevo nesse agosto seguinte ao seu… penso no quão estávamos ausentes de nós, até aquele momento. E lá se vão quase duas décadas… acho que vou preparar uma fornada de pães para comemorar por nós duas!
Grata pela companhia até aqui e até qualquer dia seguinte.
Nesse Agosto temos b.e.d.a — blog every day august.
Claudia Leonardi — Mariana Gouveia — Obdulio Nuñes Ortega — Roseli Pedroso
Eu nunca pensei em escrever para mim, nossa, acho que nem teria o que dizer ou teria? Ai, acho que vou te imitar Catarina-Lunna. Amei muito a música do post. Não conhecia. Tem uma força incrível e eu imaginei essa roda de mulheres no parque. Imaginei tudo. Deve ter sido realmente mágico.
Uau! Que lindo! Me emocionei!!!
Gostei muito.
Beijos e um bom final de semana!
Que Magnífico texto Lunna!!! Você escreve de uma maneira tão gostosa, tão natural…prende a nossa atenção e da liberdade para nossa imaginação….eu fico em revoadas de alegria por aqui…pois te ler faz minha alma sorrir de satisfação e o coração dizer…é isso aí Lunna!!!!
Grata pela leitura saborosa!
beijos com carinho da Eliana
Caminhar pelo seu blog nesse agosto tem sido um verdadeiro prazer.
Você tem textos efervescentes como este, gostei muito de pensar o passado a partir do hoje, que delícia de resposta para si. Bem, você é psicanalista, deve ser um fato comum para você. Eu teria dificuldade em fazer o mesmo, mas qualquer hora vou tentar para ver o que digo ao rapazinho que fez certas escolhas por mim.
Bj
Ah, que gostoso ler as duas cartas. a de hoje e a de ontem. Acho o máximo esse escrever para nós mesmos. Parece terapia mesmo, com alguém disse aqui, antes. Deu um quentinho aqui dentro.
Que bom que aceitou caminhar por todos os percursos escolhidos por sua amig’alma. E se aceitou. Até hoje, sinto que tenho muito a dever à minha…