Gosto de envelhecer… sempre gostei. Lembro-me que na infância, em uma das aulas, uma professora perguntou à turma: qual é o seu maior medo? As respostas eram coisas pequenas, do tamanho das criaturinhas que lá estavam. Eu tinha medo de não-envelhecer. A professora espantou-se comigo (para variar).
Eu conhecia poucas pessoas velhas. A professora não tinha trinta anos e isso não era ser velho para os meus padrões. Minha zia tinha quarenta, a minha idade favorita. Velhos eram os nonnos e alguns de seus amigos, com quem se reunia nas noites de sexta para um jogo de cartas. Era uma idade para poucos… e eu queria ser um deles.
Hoje, se fala tanto em envelhecer… dos meios para frear a idade do corpo, de manter isso e aquilo. Algumas mulheres rasgam a pele para riscar as rugas da cara. Outras fazem mil procedimentos, usam cremes. Privam-se de tanto e para que? Não envelhecer.
A primeira vez que vi uma signora de cabelos brancos… figura miúda-sorridente e cheia de histórias para contar. Ela era toda faceira. Na cidade a apelidavam e algumas mulheres se benziam à sua passagem. Enquanto eu, se tivesse que eleger uma heroína, seria ela. Acenava sempre que passava e ela retribuía. Eu queria saber o que fazia com suas horas inteiras. A mulher ficou viúva e passou a viver a vida: viajava com as amigas, fazia compras, organizava festas, recebia os netos, fazia aula de danças, participava do nosso clube de leitura e voltou a estudar.
Certa vez eu disse a C., a donna M. começou a envelhecer quando o marido morreu. Recebi um afago nos cabelos e colhi um belo sorriso. Ela considerou interessante a minha fala. As outras pessoas diziam que ela havia começado a viver. Mas eu não! — viver é o que fazemos todos os dias e cada um encontra um caminho para percorrer à sua maneira. Mas, envelhecer é para os raros…
Viver é o que fazemos todos os dias… agora, que meus cabelos brancos ficaram ativos já ouvi cada história… mas, como dizemos: rá!