tinha outra janela no meio do caminho

Nos primeiros anos em São Paulo… eu saia com uma câmera a tiracolo e, quando algo chamava a minha atenção, disparava o clique… Foram centenas de registros. Naqueles dias, eu precisava esperar alguns dias pelo resultado. Completar os rolos de filmes… removê-los da câmera e levá-los a um dos espaços para revelá-los. Lembro-me da surpresa anunciada: revelação em 24 horas. Em um tempo anterior, o prazo de sete dias já era festejado.

A foto acima foi feita… durante um passeio pelo velho bairro do Bixiga ou Bela Vista… com suas casas antigas e seus cortiços imundos. As ruas são um verdadeiro labirinto… e é no caos do bairro-cidade que o inusitado se oferece.

Ao transitar por uma daquelas ruas… me deparei com essa janela, onde um guarda-chuva foi deixado num pós-chuva.

Reparei no desenho da janela. Imaginei a dificuldade para abrí-la e fechá-la. O estranho é que pela primeira vez não me ocupei do interior o imóvel alquebrado. Não pensei no que havia por trás das cortinas desbotadas e dos vidros sujos-embaçados de poeira-tempo e fuligem urbana.

Fiquei apenas com a moldura e o desenho do guarda-chuva… uma pena que não era vermelho e eu teria feito uma viagem à minha infância.

Mas, como disse Pessoa- Campos em um de seus poemas:



e onde diabo estou eu agora.
Com almirante em vez de sensação?…

Publicado por Lunna Guedes

Sou sagitariana. Editora de livros artesanais. Autora de romances. Degustadora de café. Uma típica observadora de pássaros, paisagens, pessoas e lugares. Tenho fases como a lua... sendo a minguante a minha preferida!

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