Em outubro — mês que acabou como começou, em um estalar ligeiro de dedos —, fui à prateleira e voltei com um livro… que encontrei no limbo da livraria que frequento. Fui atraída pelo título… mas a maioria se orienta pelo nome do autor e seu jogo de edificação moral muito bem tramado nessas páginas.
É uma leitura divertida no início. A narrativa vai num crescente e em paralelo somos convidados a analisar o humano que somos. O tom sarcástico se mostra fascinante… Nas primeiras cartas, o Diabo Maldanado escreve a Vernelindo — o aprendiz —, a quem dá conselhos de como tentar a espécie humana, usando toda a sede-fome que consome o homem.
O mais divertido é perceber que o Diabo ali, parece ser um profundo conhecedor da natureza humana. É ardiloso-atento e usa de toda a sua ironia para enumerar as tolices humanas. Em alguns momentos chega a ser deliciosamente perverso em seus apontamentos.
Lewis era cristão convertido… e pretendia enumerar — em sua narrativa — a dificuldade de se manter fiel aos conceitos de sua Igreja, a anglicana. Usou a figura do diabo para mostrar como o homem precisa ser forte para resistir a investida do mal…
Um leitor atento percebe o jogo do autor… que usa como storyline a idéia de Cristo sendo tentado no deserto e saindo vencedor, diretamente para a santaceia.
Mas se nas primeiras cartas, é divertido observar esse personagem — personificação do mal — escancarando sem piedade as nossas misérias, como se fossem peças de dominó que ao serem empurradas, came uma a uma. Aos poucos, a leitura vai se tornando enfadonha… porque o preceito religioso vai ganhando forma e se tornando o elemento principal. Fenece a ironia e nos resta a realidade…
Abandonei a leitura nesse ponto e fui atrás de outro livro… O nosso atual momento cumpre bem o papel de exibir o pior de todos nós. Não importa se crentes — todos os que se orientam em religião o são — ou ateus, de esquerda ou direita, extremistas — somos todos parte de um bando que se dá mais valor do que realmente tem.
E como diz o Screwtape (Maldanado) no livro: não assumimos responsabilidade por nada, preferimos encontrar alguém a quem culpar. E é para isso serve o diabo… oras. Somos os perseguidos, os que travam batalhas ardorosas para não sucumbir e nem sempre somos capazes de se manter no bom caminho. Mas o senhor supremo está de braços abertos, basta resignar-se, humilhar-se perante o divino e pedir perdão. Mas e o diabo?
Bem, na minha infância havia um desenho chamado Dungeons & Dragons (a caverna do dragão) por aqui… e havia quem acreditasse — incluo-me nesse grupo — que o Mestre dos magos e o Vingador fossem uma mesma entidade. Amém…
Catarina voltou a escrever 
C. S. Lewis era, ou quem sabe, tinha a esperança de ser, leal, de estar ao nível de G. K. Chesterton. Todo caso nos deu Nárnia e Aslan, o leão. E ainda, prefiro o “Cartas de um diabo a seu aprendiz” ao insípido “Relatos de Belzebú a seu neto”, de Georges Gurdjieff. O primeiro discutia com Deus; o segundo ganhava a vida como cafetão espiritual;
C. S. Lewis, nas “cartas;;”, admito, cambia para o insípido. Mas ninguém nunca disse que o místico é profundo! Quando muito, é chato. O místico geralmente é chato, mas até aí,, não é culpa dele. Ocorre que Deus. é chato, exceto no fim de tudo. Aí..e aí, é quando nosso “Eu” remodela ao estilo de Deus e o torna Interessante. Todo dia rezo a Deus, dizia uma amiga ( a citação não é minha). Não é por fé, é por medo.