Meu caro dezembro,
Você chegou! O último mês do calendário humano… costuma ser época de festa, férias e as pessoas se agitam para fazer suas retrospectivas. Passam a limpo um ano inteiro: o que ouviram, leram, assistiram. As famosas listas pipocam aos montes por aí… e eu que não gosto de listas, tento entender para onde foram os outros meses do ano! Acaso saberia me dizer?
Você esteve por aqui e não faz muito tempo e nem venha com essa narrativa comum: já se passaram onze meses. Seus dias não foram nada fáceis — demasiadamente quentes. Choveu pouco e os enfeites pendurados nas casas, nos prédios… parecia sinalização de outros tempos, indicando doenças incuráveis e morte certa.
Os encontros foram proibidos e as festas canceladas. Mas teve quem deu de ombros para tudo isso e amparado na ilusão de corpo fechado: reuniram-se amigos e familiares para festejar como antes. Há quem se arrependa até hoje… dos espaços vazios que viram surgir no janeiro seguinte ao seu.
Mas e nós, meu caro? Nunca nos entendemos, não é mesmo? Desde a infância — quando fomos apresentados — que nos olhamos de soslaio um para o outro. Nunca perguntei o motivo da sua antipatia por mim… e nunca lhe falhei o motivo do meu não gostar…
Quando você era todo branco e havia no ar, certa ansiedade por neve. As previsões falhavam! Você fazia de propósito e eu me divertia com os olhares para fora. Nada de neve… eu te considerava meio teimoso, como eu. Querem neve? Não dou…
Do lado debaixo do Equador, você é todo dourado e os dias imprevisíveis. Nos últimos anos foi seco e quente. Choveu pouco… e as tempestades tão comuns aos teus dias dourados de sol, foram poucas. E as notícias são as de sempre: foi o mês menos chuvoso dos últimos quarenta e tantos anos. Essas estranhas somas humanas. É o tipo de notícia que não consigo entender…
Mas é isso, meu caro, você está entre nós, de novo. Chegou cedo, rápido e sem novidades! E eu nem vou dizer para ficar a vontade porque sei que será breve — como todas as coisas ultimamente. Depois de amanhã, você partirá… e alguns de nós pulará ondas, comerá lentilhas. Haverá queimas de fogos e promessas impossíveis, facilmente esquecidas no dia seguinte. Tudo isso para celebrar o fim e acreditar em novos começos.
Será que pode me ajudar com isso, nesse ano? Não te peço um novo começo — você deve saber que não me importo com essas coisas. Quero apenas um dia seguinte a tudo isso? A quem escrevo, dezembro? A você ou ao Noel?
Apenas escrevo…
Au revoir…