Um dos meus lugares favoritos da casa… é a cozinha. Adoro a alquimia dos ingredientes, a magia das panelas. Mas eu não sou uma pessoa de receitas… Quem já frequentou os jantares que ofereço aos amigos, sabe que eu sou movida pelos meus instintos. O aroma é minha principal ferramenta na hora de combinar ingredientes: um pouco disso, daquilo… uma pitada aqui, outra ali. É algo que aprendi na infância, com a nonna, que é uma importante personagem na minha realidade. Eu me lembro dela enfiada em seu avental, com a tigela de louça azul apoiada no braço, batendo as claras em neve para fazer um bolo ou peneirando a farinha sobre a mesa para preparar um pão com ervas, colhidas no seu quintal dos fundos.
Ao ler Quintas das Especiarias, de Roseli Pedroso… que tive o prazer de acompanhar o surgimento, desde a confecção do primeiro texto, durante os nossos encontros virtuais do clube de escrita da scenarium — fui passeando pelas histórias que cada prato oferecia: torta de banana, receita que a mãe aprendeu a fazer em um momento de dificuldade que a família enfrentava. A alcachofra preparada por uma das tias. O frango da cerveja da Tia Irene. O pão de mel feito pela prima. Os pratos libaneses — kibe, húmus, baba ghanush — feitos pela madrinha do casamento de sua mãe. E outros tantos mais… Não há receitas no livro, apenas as histórias apetitosas, embaladas por lembranças da autora e seu estilo peculiar de narrativa.
Todos nós temos histórias afetivas na memória… por isso, penso ser impossível ler esse livro sem ser catapultado por certas lembranças. Eu fui e voltei de minha infância enquanto o lia. Lembrei muitos momentos à mesa, acompanhando a nonna e o mio babo na confecção de seus pratos favoritos que acabaram por serem os meus também.
De todas as lembranças, a melhor é a do famoso caldo de massa preparado pela nonna no dia em que chegávamos a sua casa para as férias de verão. Eu adorava pisar a plataforma, esperar pelo trem e embarcar. Mas, sonhava com aquele prato fundo onde ela servia um denso caldo avermelhado, muito saboroso, feito com tomates bem maduros, picados e levados ao fogo com alho e azeite até dissolverem.
Se eu fecho os olhos, volto ao templo sagrado da minha infância e estou lá, na cozinha, ouvindo a conversa dos adultos e suas risadas enquanto descascavam, picavam… e pouco depois o prato era serivdo, com um generoso pedaço de pão caseiro e a vasilha com o queijo ralado há pouco.
Certa vez, passei mal depois de repetir três vezes. Não era uma criança comilona, mas fazia dois anos que não visitávamos a nonna e ao sentar à mesa… creio que quis compensar. Péssima idéia. Mas tudo se resolveu com um chá preparado pela nonna e o sons na minha barriga cessaram…
Para conhecer o livro e adquirí-lo: clique aqui e para acompanhar a autora em exercícios literários, acesso o blogue nesse link e divirta-se…
Lunna, feliz demais em ler seu parecer. Mais gostoso ainda foi me alimentar de sua narrativa sobre o livro. Prazer em dobro. Obrigada!
Foi uma delícia ler seu livro passado algum tempo dos processos, cara mia. Teve outro sabor. Grazie
Adoro cozinhas
Ah, meu caro. Sinal de quem tem bom gosto e iria se deliciar com esse livro da Roseli. Ele é todo cozinha
Eu sou suspeita para falar da escrita de Roseli e esse livro ficou saboroso demais! Postei um texto dele no meu blog ontem.