Na minha primeira sessão… deitei-me no divã de uma estranha, com quem não simpatizei. Disse duas ou três frases inteiras que vieram à boca e me perdi no limbo — também conhecido como: teto branco.
Até me sentir segura… entrei e saí de vários ambientes. Recusei vários olhares que pareciam se afundar na lama de minha existência… e soube que não seria fácil encontrar alguém com quem partilhar minhas misérias. Tinha consciência, no entanto, de que precisava confiar em alguém para preciosos cinquenta minutos de diálogo… Falar, no entanto, era o maior dos desafios para alguém talhada no silêncio…
Se na “vida real das coisas demasiadamente humanas” esbarramos em milhares de pessoas todos os dias e, não nos oferecemos a elas — por falta de empatia ou porque temos nossos caprichos… imagina quando saímos desse “conhecido recinto” para nos aventurar em solo estranho — onde um único ser é Rei e também Senhor.
Convivo com pessoas que me “conhecem” desde a infância a quem nunca contei absolutamente nada sobre mim — entregando pouco ou nada: um sorriso pequeno, um olhar estreito. E outras — recém-chegadas — à quem destrinchei minha realidade comum-inteira: livros lidos, lugares onde estive, lembranças antigas, pesadelos recorrentes, sonhos, ilusões…
Há pessoas que não nos querem saber-conhecer… esperam que a gente se deite no molde que trazem. E se não o fazemos… esperam dia após dia, pela tal mudança, que devemos prover em proveito de tal abençoada amizade-amor — ou seja lá qual nome dão a isso…
Fazer terapia é antes de tudo ser ouvido e como na realidade há poucas pessoas dispostas a esse gesto raro. Optar por um profissional é a melhor maneira de conquistar um direito ao próprio eco…
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“enche-se de novo o silêncio das vozes despertas,
e de poços, e de portas entreabertas
E sonham no escuro as coisas acabadas”
— Manuel António Pina