Eu não sou uma pessoa de Carnaval e acho pouco provável que um dia venha a ser… nunca curti os excessos que seduzem as multidões — aliás, um forte motivo para ficar bem longe das festas carnavalescas. Mas, eu gosto imenso do culto à Dionísio — deus do êxtase e do vinho —, na Grécia antiga, ou Bacchus, como ficou conhecido pelos romanos…
As famosas festas dionisíacas — regadas a muito vinho, bebida que inspirava a poesia, a música e os prazeres da carne — eram realizadas cinco vezes por ano, em Atenas… e chegou a Roma, onde ficou conhecida como Bacanais…
Mesmo proibida pela Igreja católica, em 1869, o culto continuou na clandestinidade… sendo realizado, principalmente pelos artistas, graças, principalmente, ao teatro que surgiu durante as festas dionisíacas, que foram responsáveis pelo surgimento dos gêneros literários: a comédia, a tragédia e o drama satírico, que tinham espaços nos festivais das Leneias e Dionisíacas Urbanas, duas das principais festividades em honra a Dionísio.
Essas festas, para muitos, são as primeiras manifestações do carnis valles — o encontro do vinho com a carne. Mas o carnaval como se conhece hoje, guarda pouco ou quase nada dessas manifestações, devido a transformações provocadas pela Igreja, que ao perceber que as proibições não fizeram efeito, optou por impôr limites a festa, denominada pelos cristãos como festa pagã.
Eu faço a minha manifestação, no melhor estilo grego… reverencio Dionísio com goles generosos de vinho-chá-café e muita poesia. Evoi
1 — defintivamente essa é a minha melhor fantasia: leitora… E pedindo licença a personagem de o mágico de óz para adaptar a sua famosa frase: There’s no place like home — para: não existe melhor lugar no mundo que uma livraria…
2 — Gosto imenso de acordar pela manhã e ir até a prateleira, escolher um livro… pelo tato, sem me preocupar com títulos, autores… apenas puxar um e celebrar os olhos embriagados!
3 — Ler poesia na minha primeira hora… é me afastar da realidade comum dos homens. É trovoar na imensidão azul. Ter contato com o divino… celebrar Díonisio!
4 — No meio da tarde… com a queda da luz, recorro a um livro deixado pelo caminho no dia anterior. Por aqui, os livros encontram os seus próprios cantos e chamam por mim. Essse eu levei para a varanda com uma xícara de café ristretto, ao som de ouverture solennelle… Praticamente uma Leneias.
5 — Recorro a poesia em vários instantes do dia… quando me aborreço com as coisas demasiadamente humanas ou quando leituras esgotam as minhas energias. Preciso mudar de estação… e como me tornei uma Editora de livros de poesias (coisa que custo em acreditar) abro o meu baú e puxo um livro…

6 — E como poeta com o qual me identifico… recorro a ele como se fosse um desses livros sagrados que orientam rebanhos. Eliot é muito melhor que esses profetas que os homens louvam. Certamente Dionisio concordaria comigo e ele seria personagem de suas dionisicas urbanas… Evoi
Darlene Regina – Isabele Brum – Mariana Gouveia – Obdulio Nunes Ortega – Roseli Pedroso
O livro com xícara em cima do livro é Patti Smith?
Ah, vi minha poesia rondando numa foto! Vi sim!
Ah Lunna, seu Carnaval é da melhor qualidade e que bom que divide conosco. Quer bagunça melhor que passear por entre estantes repletas de livros?
Nada melhor do que fantasiar pela dança das palavras!
Ah, adorei saber de sua relação com Dionisio. Que coisa linda. Eu conheço pouco de mitologias, Lu.
Acho que o que sei, li por aqui mesmo. Deveria ser linda essa comemoração, bem melhor que o nosso carnaval.
E o seu jeito de comemorar não poderia ser diferente. eu adorei as suas leituras e aquela xícara de café em cima do livro, que maravilhoso aquilo. Amei. beijocas