São Paulo, um ontem que vai longe…
Caro mio,
…nada sei de tuas paisagens a essa hora. Mas eu gosto imenso de imaginar o que é paisagem em teus olhos. Venho até a janela e vigio diferentes direções. Persigo um pássaro em seu vôo por cima das coisas e me distraio com o caminhar lento de um rapaz, iluminado pelo forte sol desta tarde. O feriado deixou tudo tão lento, para depois.
Levo o copo à boca para mais um gole de água e penso nas coisas que chegam ao seu olhar. O que se perde e o que guarda? Não consigo pensá-lo como uma criatura distraída. Mas sei que sua atenção é restrita. Não é tudo ou qualquer coisa que o atrai.
Imagino você abrindo cortinas impregnadas de muitos ontens e o seu olhar passando pelo vidro e alcançando o mundo. Mas não esse que vive do lado de fora. Você olha para dentro e espia tudo que vive-fez. Sente saudades de alguns personagens e acaba rindo com lembranças que aquecem o seu viver. Concordamos que é bom sentir saudades. Seria impensável não ter nada de importante para lembrar, em determinadas horas.
Eu sempre me lembro da chegada do Panther… esperei por ele durante meses. Era um lindo cão da raça Fox terrier. Ninguém o queria por não ser perfeito. Não sei como chegaram a essa conclusão absurda. Ele era + que perfeito. Eu nunca entendi as manias humanas e seus adjetivos erráticos. É algo que temos em comum e a risada… que espoca no ar, como rojões na última noite do ano.
Somos feitos de lembranças e o nosso mundo vai sendo preenchido-ocupado por elas. Vai fazendo sentido, ganhando forma, feito o barro que ao toque das nossas mãos, vira um vaso para ser preenchido com água e flores.
Nada sei de tuas paisagens a essa hora. Nem sei onde vive, em que lugar se esconde. Nos encontramos numa dessas artimanhas do destino. Uma colisão de mundos-universos. Nada programado… por nós dois.
O relógio marca suas quase quatro horas de um dia insuportavelmente quente. Tudo arde por aqui. A paisagem banhada de sol perturba os meus olhos — sensíveis à claridade. Aperto-os para observar as dezenas de janelas que tenho por aqui… como se você estivesse em uma delas.
Percebo seus movimentos lentos pelos cômodos de uma casa qualquer… com mesas, sofás, portas e pequenos objetos espalhados ao longo dos cômodos. Escadas com degraus contados a exaustão… e seu passo avançando em busca de um canto onde acender o seu maldito cachimbo.
…nada sei de tuas paisagens a essa hora. Mas olho lá para fora e sei que se esconde por trás de uma dessas janelas para onde aceno e deixo por conta do imaginário a resposta.
Ah, se eu for a janela e acenar, vocês dois respondem desse passado para o futuro que fizeram?
Amei ler essa carta de novo e ela me fez perceber que faz tempo que leio-te e acompanho essa história de vocês dois. Que lindo e que bom saber que estão aí. Dá um quentinho no coração.
Bisous para os dois do ontem e hoje
o amor é assim, começa devagarinho, e nos abre janelas… e portas… e pensamentos…
É tão gostoso escrever uma carta para alguém que a gente ainda não conhece, mas que de qualquer maneira acaba existindo no nosso próprio imaginário. Isso é bom, porque nós criamos essa pessoa assim do nosso jeitinho, de como a queremos para nós. Alguém que goste das mesmas coisas, que tenha os mesmo ideais, que tenha algumas características que nos são peculiares e por aí. Muito bacana você ter encontrado o teu “amore mio” nessa vida, minha amiga querida…isso é difícil…rs.
Adorei sua carta para ele viu…
Bjinhos no coração.
Que saudades do menina no sótão.
Era um desses blogs que não deveriam deixar de existir.
Mas que bom que algumas coisas você recupera, como essa linda carta de amor, como é gostoso esse inicio de sentimentos. E o melhor de ler depois de todo esse tempo, é saber a história inteira.
beijocas meninas Catarina e Lunna
Depois de suspirar com sua carta corri para ouvir a música e ela ecoa aqui no repeat… Acho que é nostalgia, esse sentimento que me toca agora.
Grazie por tanto!