Comecei a manhã de hoje escrevendo um texto — atendendo pedidos — a respeito do Dia internacional da Mulher… Essa data que o capitalismo tentou comercializar com suas flores. Em vários lugares do mundo, deu certo. As floriculturas passaram a lucrar e os homens aderiram ao gesto, presenteando mulheres como flores, chocolates e mimos, como fazer os afazeres domésticos nesse dia.
As mulheres reagiram: “não queremos flores, queremos direitos“. Eu me lembro de um março, que ao chegar a Universidade, ganhei um rosa vermelha de um estudante de Direito. Mantive as mãos no bolso e o encarei do alto da minha conhecida arrogância sagitariana. Recusei a flor, sorri e ao ir embora, fui alvo de sua fúria. Voltei até ele e o enfrentei: viu por que a sua rosa não faz diferença?
No Brasil, uma mulher é morta a cada duas horas, vítima de feminicídio. Flores não são um símbolo da luta em curso por direitos esmagados por uma sociedade patriarcal que se esforça para diminuir a força do 08 de março que marca o estouro de uma luta que atravessa gerações.
A data não é para ser comemorada… Todo ano, as mulheres se reúnem em eventos organizados para balizar os movimentos de continuidade dessa luta.
Algumas conquistas foram alcançadas: o direito ao voto, graças ao movimento sufragistas. Melhorias nas condições de trabalho, mas a igualdade salarial ainda é para poucas. Muita coisa ainda precisa ser feita. A luta contra assédios, violência doméstica e a conquista de espaços ainda ocupados majoritariamente por homens, entre outros direitos.
Por tudo isso, o 08 de março não é apenas uma data circulada no calendário… É uma data para ser relembrada — por nós mulheres –, todos os dias, em cada conquista alcançada.
1 – Nasci nos anos 1980… era a menina que preferia a companhia dos meninos. Gostava de jogar bola, andar de skate, patins, bicicleta e de me aventurar. Detestava bonecas e a companhia das meninas com suas vidas rosáceas. Na minha vez, escolhi cursar psicologia e não precisei brigar com a família inteira — como fez a minha nonna — para ser a única aluna do curso, em sala de aula. Ela me disse que precisou enfrentar o olhar reprovador dos professores e colegas de turma. Mas, encontrou em uma professora a certeza de que não estava ali apenas por ela. Se tem uma coisa que eu tive certeza ao ouvir falar de sua busca por espaço, é que nenhuma mulher faz apenas por si e, hoje, ao publicar mulheres, lembro-me que muitas antes de nós, precisaram assumir pseudônimos masculinos…
2 – Se tem uma coisa que me emociona é publicar Mariana Gouveia… que é essa menina-mulher-escritora poderosa que escreve outras mulheres, conta histórias que seriam facilmente esquecidas porque é o que a sociedade faz… apaga certas histórias. Ela permite que outras Mulheres se reconheçam e saibam que não estão sozinhas.
3 – Nos conhecemos porque se tem uma coisa que eu aprendi com outras mulheres com as quais tive o prazer de conviver, é que Mulher é ser diverso e diversidade é preciso celebrar. Kátia é essa sagitariana e, curiosamente, seu nome vem do grego Katharós, ou seja, Catarina. Publiquei seu livro Labareda que é tudo que o título propõe e se tem uma coisa boa, é ouví-la afirmar sua raça, cor, força, gênero, ancestralidade…
4 – Nos conhecemos — já disse isso, inúmeras vezes — através dos blogues e nossos encontros se dão de tempos em tempos, quando nos sentamos em mesas de café para falar de tudo. Vi inúmeros de suas histórias surgirem no ar, antes de alcançar o papel. Em seu último livro, Roseli contou a sua história através das mulheres de sua família. Mais um belo trabalho dessa personagem-mulher que fez escolhas de vida e precisou defendê-las, porque as pessoas se sentem a vontade para questionar uma mulher, se elas não seguem os caminhos conhecidos.
5 – Conheci Thais, que me apresentou Bruna e tantas outras mulheres-personas… porque ser Mulher é seguir junto, aprender a equilibrar-se num fino fio e levar outras de nós, conosco. É preciso ser parceira, amiga, entusiasta, admiradora… Atualmente, a palavra sororidade está na boca de muitas de nós. Mas ainda existe um grande abismo na realidade. Existem mulheres que ainda acreditam que a outra é a sua rival que irá “roubar o seu homem”. Frase repetida a exaustão como um mantra que convenceu gerações inteiras. O bom é encontrar mulheres que dão de ombro para essas tolices e estão prontas para dar as mãos e sair por aí…
6 – Conquistar espaços não é nada fácil, mas não é impossível… e quando invadimos cenários que antes eram apenas para homens, brinco que estou a violar templos sagrados do patriarcado e relembro a risada gostosa do meu primo que foi o primeiro homem que disse em voz alta: sou um feminista por nós dois. Naquela época eu era contrária a movimentos. Não me misturava e nem me considerava parte da turba. Sempre fui andrógena e contestada por ser o que era. Não me misturar, não ser igual e preferir atravessar a rua e ir na contramão…
Toda a história feminina foi feita pelo homem. Assim como na América, não há problema com os negros, mas sim com os brancos; assim como o antissemitismo não é um problema judaico, é nosso problema; então o problema da mulher sempre foi um problema do homem… Simone de Beauvoir, uma das mulheres a quem serei eternamente grata por pavimentar caminhos!
Isabele Brum – Mariana Gouveia – Obdulio Nunes Ortega – Roseli Pedroso
Essas minas, assim como você, são minhas manas na Scenarium. Eu me sinto distinguido por participar de um grupo tão seleto!
Lunna, bom demais ver todas essas mulheres incríveis aqui e o melhor, ver você mulher incrivel que nos descobriu e nos fez descobrir também. Você é The Best!!!
Que turma incrível essa.
Gostei muito de todas as fotos e dos textos.
Fechou com chave de ouro com Simone.
Ahhh! Fiquei linda aqui! Grazie!
Amoo tu!
Sororidade é o que revelam estas fotografias das “manas”. É, também, o conceito em que revejo e que cultivo!
Que bela homenagem!
Amei o texto e as fotos. Esse é sem dúvida o post que mais gosto de acompanhar.
A primeira foto eu já tinha visto no seu ig há tempos. Gosto dela, é bem rebelde, combina muito com você. hehehehe