06 ON 06 | as minas e as manas

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Comecei a manhã de hoje escrevendo um texto — atendendo pedidos — a respeito do Dia internacional da Mulher… Essa data que o capitalismo tentou comercializar com suas flores. Em vários lugares do mundo, deu certo. As floriculturas passaram a lucrar e os homens aderiram ao gesto, presenteando mulheres como flores, chocolates e mimos, como fazer os afazeres domésticos nesse dia.

As mulheres reagiram: “não queremos flores, queremos direitos“. Eu me lembro de um março, que ao chegar a Universidade, ganhei um rosa vermelha de um estudante de Direito. Mantive as mãos no bolso e o encarei do alto da minha conhecida arrogância sagitariana. Recusei a flor, sorri e ao ir embora, fui alvo de sua fúria. Voltei até ele e o enfrentei: viu por que a sua rosa não faz diferença?

No Brasil, uma mulher é morta a cada duas horas, vítima de feminicídio. Flores não são um símbolo da luta em curso por direitos esmagados por uma sociedade patriarcal que se esforça para diminuir a força do 08 de março que marca o estouro de uma luta que atravessa gerações.

A data não é para ser comemorada… Todo ano, as mulheres se reúnem em eventos organizados para balizar os movimentos de continuidade dessa luta.

Algumas conquistas foram alcançadas: o direito ao voto, graças ao movimento sufragistas. Melhorias nas condições de trabalho, mas a igualdade salarial ainda é para poucas. Muita coisa ainda precisa ser feita. A luta contra assédios, violência doméstica e a conquista de espaços ainda ocupados majoritariamente por homens, entre outros direitos.

Por tudo isso, o 08 de março não é apenas uma data circulada no calendário… É uma data para ser relembrada — por nós mulheres –, todos os dias, em cada conquista alcançada.

1 – Nasci nos anos 1980… era a menina que preferia a companhia dos meninos. Gostava de jogar bola, andar de skate, patins, bicicleta e de me aventurar. Detestava bonecas e a companhia das meninas com suas vidas rosáceas. Na minha vez, escolhi cursar psicologia e não precisei brigar com a família inteira — como fez a minha nonna — para ser a única aluna do curso, em sala de aula. Ela me disse que precisou enfrentar o olhar reprovador dos professores e colegas de turma. Mas, encontrou em uma professora a certeza de que não estava ali apenas por ela. Se tem uma coisa que eu tive certeza ao ouvir falar de sua busca por espaço, é que nenhuma mulher faz apenas por si e, hoje, ao publicar mulheres, lembro-me que muitas antes de nós, precisaram assumir pseudônimos masculinos…

2 – Se tem uma coisa que me emociona é publicar Mariana Gouveia… que é essa menina-mulher-escritora poderosa que escreve outras mulheres, conta histórias que seriam facilmente esquecidas porque é o que a sociedade faz… apaga certas histórias. Ela permite que outras Mulheres se reconheçam e saibam que não estão sozinhas.

3 – Nos conhecemos porque se tem uma coisa que eu aprendi com outras mulheres com as quais tive o prazer de conviver, é que Mulher é ser diverso e diversidade é preciso celebrar. Kátia é essa sagitariana e, curiosamente, seu nome vem do grego Katharós, ou seja, Catarina. Publiquei seu livro Labareda que é tudo que o título propõe e se tem uma coisa boa, é ouví-la afirmar sua raça, cor, força, gênero, ancestralidade…

4 – Nos conhecemos — já disse isso, inúmeras vezes — através dos blogues e nossos encontros se dão de tempos em tempos, quando nos sentamos em mesas de café para falar de tudo. Vi inúmeros de suas histórias surgirem no ar, antes de alcançar o papel. Em seu último livro, Roseli contou a sua história através das mulheres de sua família. Mais um belo trabalho dessa personagem-mulher que fez escolhas de vida e precisou defendê-las, porque as pessoas se sentem a vontade para questionar uma mulher, se elas não seguem os caminhos conhecidos.

5 – Conheci Thais, que me apresentou Bruna e tantas outras mulheres-personas… porque ser Mulher é seguir junto, aprender a equilibrar-se num fino fio e levar outras de nós, conosco. É preciso ser parceira, amiga, entusiasta, admiradora… Atualmente, a palavra sororidade está na boca de muitas de nós. Mas ainda existe um grande abismo na realidade. Existem mulheres que ainda acreditam que a outra é a sua rival que irá “roubar o seu homem”. Frase repetida a exaustão como um mantra que convenceu gerações inteiras. O bom é encontrar mulheres que dão de ombro para essas tolices e estão prontas para dar as mãos e sair por aí…

6 – Conquistar espaços não é nada fácil, mas não é impossível… e quando invadimos cenários que antes eram apenas para homens, brinco que estou a violar templos sagrados do patriarcado e relembro a risada gostosa do meu primo que foi o primeiro homem que disse em voz alta: sou um feminista por nós dois. Naquela época eu era contrária a movimentos. Não me misturava e nem me considerava parte da turba. Sempre fui andrógena e contestada por ser o que era. Não me misturar, não ser igual e preferir atravessar a rua e ir na contramão…

Toda a história feminina foi feita pelo homem. Assim como na América, não há problema com os negros, mas sim com os brancos; assim como o antissemitismo não é um problema judaico, é nosso problema; então o problema da mulher sempre foi um problema do homemSimone de Beauvoir, uma das mulheres a quem serei eternamente grata por pavimentar caminhos!

Isabele BrumMariana GouveiaObdulio Nunes OrtegaRoseli Pedroso

Publicado por Lunna Guedes

Sou sagitariana... degustadora de café. Figura canina e uma típica observadora de pássaros, paisagens, pessoas e lugares. Paciência é algo que me falta desde a infância. Mas sobra sarcasmos para todas as coisas da vida que fazem mais barulhos que cigarras nos troncos das árvores. Aprecio o silêncio e falas cheias, escreve-se em prosa por apreciar a escrita em linha reta. Tenho fases como a lua... sendo a minguante a minha preferida!

11 comentários em “06 ON 06 | as minas e as manas

  1. Amei o texto e as fotos. Esse é sem dúvida o post que mais gosto de acompanhar.
    A primeira foto eu já tinha visto no seu ig há tempos. Gosto dela, é bem rebelde, combina muito com você. hehehehe

Pronto para o diálogo? Eu estou (sempre)

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