O primeiro livro feito pela Scenarium esgotou-se no tempo exato das costuras, dentro de uma tarde de sábado de agosto. Data escolhida por marcar o passo da Autora… essa que vos escreve… cheguei a São Paulo no dia vinte e seis de agosto para permanecer um punhado de dias, não cheguei a contá-los ou a prevê-los porque me conheço o suficiente para saber que não sei medir os dias, as horas…
O primeiro livro chamou-se ‘reticências’… era parte de um projeto inventado sem quaisquer pretensões. Surgiu num estalo, como surgem a maior parte das coisas. Um instante de silêncio, o olhar a flutuar no vazio e pronto… um sorriso em cada pesado gole de café.
Escrito ao longo das 04 estações daquele ano… cada linha dizia um sentimento quanto a premissa-promessa de conjugar o verbo Ser atrelado ao substantivo próprio: Escritora.
Fui escrevendo de maneira livre, descompromissada… textos diários, notas esparsas. Um verdadeiro estudo de objetos, momentos, lugares, pessoas. Lia Sylvia e Kerouac enquanto escrevia. Revisitava Austen e suas personagens femininas, Woolf e suas significativas diferenças e me apaixonei novamente pelo dualismo em sua escrita. Descobri Mia Couto, senhor de uma prosa admirável. Reencontrei Borges e Helder, Pizarnik e fui dialogando com a pessoa que, aos poucos, se erguia em mim.
Não se nasce escritora — é o que deveria ter escrito a minha amiga Beauvoir – -, torna-se escritora e leva tempo. Não acontece de repente e poder nem acontecer, por mais que se dedique e aprenda as regras desse jogo.
Por isso, recuei no tempo e optei por retomar velhos hábitos… voltar a escrever um diário, com um pequeno detalhe: ao longo das quatro estações. O título surgiu num estalo e substituiu imediatamente a palavra com suas seis letras: duas consoantes e quatro vogais.
Reticências tinha significado especial para a pessoa que eu era, a criança que eu fui; a leitora incansável e apaixonada por quadrinhos, encantada pela literatura inglesa-francesa-russa-brasileira… que se recusou ser convertida em escritora e olha onde estou: a falar de meu primeiro livro, que resultou da decisão tomada no final de mais um dia comum em sua realidade-pronta: vou escrever um romance… e tudo desandou. As certezas se perderam, o lugar, os caminhos de todos os dias…
Reticências virou livro após quatro estações de escrita e duas semanas inteiras de riscos-rabiscos-cortes-recortes, muitas folhas amassadas, outras tantas rasgadas… e foi o marco zero do projeto scenarium!
O primeiro livro… apenas vinte exemplares, esgotaram-se num Susto. Passei uma tarde inteira de sábado, preparando-os; costurando-os um a um. Entregá-los nas mãos curiosas-surpresas-preocupadas-e-famintas dos meus primeiros leitores me fez experimentar a condição de pessoa despejada do próprio corpo.
Sem alma… eu colhi a reação das pessoas. Havia quem quisesse compreender o processo. E houve quem optou por romper a costura, devolvendo o objeto livro a sua condição de conjunto de folhas-cadernos apenas para compreender os mapas… e sem orientações, viram-se perdidos em ruas-sem-saídas…
O primeiro livro — ‘reticências’ — esgotou-se de maneira definitiva naquele ano e Marco tenta me convencer a fazer nova edição. Mas gosto de pensar naqueles vinte exemplares como coisa única. Finjo saber onde estão e imagino o passeio dos olhos por páginas, que ao serem viradas, leem-me e é como se eu gritasse de lá… ‘terra a vista’…
b.e.d.a — blog every day august — um desafio que surgiu para agitar os dias
de abril e agosto nos blogues e comemorar o Blog Day
Alê Helga – Darlene Regina – Mariana Gouveia
Mãe Literatura – Obdulio Nuñes Ortega
Olá!
Parei por acaso por aqui e já li uns três. Escolhi comentar nesse, porque me inquietou saber dos vinte exemplares de um primeiro livro. Fiquei a pensar em que tipo de escritor se sente feliz por ter apenas 20 unidades de um livro. Você deve ser uma criatura peculiar.
Adorei tudo por aqui!
Um beijo!
Conheci uma menina que vive no sótão tecendo as suas ilusões, sonhos, histórias e personagens em linhas de versos certos, tortos e impossíveis e que, de repente, inventou uma personagem que diz que voltou a escrever e se auto denominou Catarina.
Eu sinto saudades do sótão, onde havia um mundo cheio de silêncio, ventos, sonhos e histórias; há rascunhos espalhados pelas mesas, chão, cadeiras. Há janelas que abrem para o infinito brincando de luas e estrelas… Há ventos de outono, há vontades… vontades que não cabem em si…
Meu abraço de urso e muitos beijos querida Catarina, menina no sótão…
Te adoooro!!!
Ps. Quase me esqueço de dizer. tenho um exemplar, não, tenho todos os exemplares de todos os seus livros.
Ah, quando eu li no e-mail, tive que vir aqui para dizer que sou uma dessas vinte pessoas. O meu exemplar é o número 17. Já o li tantas vezes, que as páginas em papel reciclado estão gastas. Foi uma das melhores aquisições feitas e eu nem a conhecia, minha amiga Sakura não parava de falar de você e fomos juntas ao café. Nossa, eu cursava história e abandonei o curso no ano seguinte.
Lunna Guedes!!! É delicioso ler-te nessa noite chuvosa aqui em Sampa. Só lamentei não ser uma dessas vinte pessoas a ter um exemplar de seu primeiro livro.
Beijo carinhoso.
Buongiorno carissima, não lamente, certamente você já leu boa parte dessa narrativa, nesse cantinho.
bacio
Amo suas letras. Seu jeito seu tão descritivo. Vou no embalo, sempre!!
E estava lá no café naquele primeiro lançamento.
Nossa, nem me dei conta do tempo que se passou.
Parece que foi ontem
Si
É a primeira vez que escreve a respeito do seu primeiro livro e é a primeira vez que leio-te
seja mil vezes bem vindo.
bacio
Eu percebi abril chegando e me lembrei de seu poeta favorito e aquela frase que você risca em todos os lugares… rs.
Enquanto lia você, viajei para minha casa onde passei boa parte da minha infância, quando eu e meus quatro irmãos ficávamos sentados nos degraus da escada que ficava em frente a nossa casa, cada qual no seu degrau, esperando o nosso pai chegar do trabalho, para vermos no rosto dele aquele sorriso lindo que ele tinha, como também sempre tinha em mãos algum pacote que trazia cheio de guloseimas, para nós crianças, que adorávamos…era sempre uma festa e isso acontecia todos os dias.
Tuas palavras como sempre me levam para um tempo que não esqueço jamais e posso dizer que ainda o vivo no dia de hoje. Meus amigos me dizem a todo momento que é para eu parar de viver do passado…rs…mas como posso fazer isso se principalmente lá… fui tão feliz. Faz-me tão bem reviver tudo isso e aqui com você isso sempre acontece…rs.
Obrigada mais uma vez caríssima amiga…:)
Bjinhos no coração
Fico imensamente feliz por saber que minhas palavras serviram de locomotivas para as tuas lembranças, esse comboio de passagem por muitas estações. Ouviu o apito?
bacio, cara mia
Achei teu blog pelo borboletas… e adorei, vc escreve lindamente…
O seu primeiro livro deve ser uma obra de arte poética
Um beijo
Ah Lunna, você poderia pensear em uma nova fornada desses livros.
Bacio
Ah, minha cara, infelizmente não será possível. rs
Mas boa parte do que publiquei lá, está aqui nesse blogue.
bacio
Sempre inspiradores seus escritos! 🙂
E concordo com quem disse que lamenta não ser o feliz proprietário de um desses 20 exemplares.
Como eu gosto de saber que sou um dos felizardos. Me lembro do lugar, o café e da sua reação ao entregar. Que linda caligrafia, eu disse, ao ler a dedicatória. Sem açúcar e com afeto, você escreveu e eu pensei que você era da parte dos perigosos, que tomam café sem açúcar.
Das delícias que afagam a minha alma.
Nossa, era uma frase que eu usava no meu primeiro blogue.
bacio carissima, sem açúcar e com (muito) afeto
O texto é formidável e deu para entender a reação dos leitores aqui, porque eu me senti assim também, um infeliz por não ter um exemplar desses. Por sorte tenho o teu vermelho por dentro que eu sei ser o seu melhor, na sua opinião, com a qual só posso concondar.
Beijo moça talentosa…
Muito!
muito agradável saber de seu primeiro livro
um abraço
Oi Lunna
Que alegria saber-me uma dessas vinte pessoas. O tenho guardado comigo, dentro de uma caixa, onde guardo as minhas miudezas.
beijinhos
Catarina/Lu…
Que delícia esse seu relato
Quando venho aqui te ler, sei que terei uma deliciosa aventura sua narrada em brancas linhas. Você escreve tudo de um jeito tão intenso e colorido que me deixa aqui a fazer imensa festa com minha imaginação!!!
Beijos de quem só pode agradecer por esse privilégio. ♥
Lunna, com o meu comentário, perfaz quase os mesmos vinte exemplares que ofereceu ao público de seu primeiro livro. Sei que se quisesse reeditá-lo, eventualmente seriam outras Reticências… ou conseguiria homenagear a pessoa que foi?
Caríssima Catarina/Lunna, que escrito mais gostoso esse seu, fiquei aqui respirando fundo a cada linha. Imaginando seu primeiro livro e o processo. E olha que li duas vezes. Que ritmo gostoso. Que sensação mais aconchegante, parecia que estávamos as duas a contar histórias uma para outra. Eu fui falando pra você das minhas coisas que eu já não lembrava mais e você de como foi escrever notas esparass (eu adorei isso). Lembrei daqueles dias junto a minha mãe descascando cana no terreiro, sentada numa lata de óleo grande. Ela falando com as vizinhas. Eu ouvindo e vivendo. Eram dias bons, como os seus sentada a mesa perto da porte de saída, que também é entrada. Não vou lamentar não ter um exemplar porque ler aos sábados foi um grande presente e Alice. Ah, Alice.
beijos menina Lunna