Todo idioma tem seus atrativos… peculiaridades que apenas os falantes locais são capazes de compreender. Mas o português é o que me brinda com frases inteiras com as quais nem sempre sou capaz de lidar. Ao menos me divirto tentando compreendê-las.
É inevitável, no entanto, que em alguns momentos, as expressões em meu rosto, acusem estranhamento, deixando transparecer minha dificuldade com o idioma que uso habitualmente, misturando-o a outros.
Certas expressões populares, por exemplo, escapam-me… e nem mesmo as muitas interpretações que me oferecem, são capazes de me arrancar da condição de estrangeira a lidar com o idioma-alheio-local…
É o que acontece quando ouço falar em sapos! Antes, aviso que, nunca fui capaz de compreender por que os contos infantis o escolheram.
Causei alvoroço em sala de aula ao questionar a patifaria. Dentre tantos seres, por que o sapo? Pela expressão incrédula da professora, percebi que ninguém — antes de mim — havia questionado tal fato.
Ela se mostrou incomodada e não me ofereceu uma resposta. Mas fez questão de enfatizar que o sapo é uma criatura medonha, asquerosa, horrenda e tratou de perguntar para a turma: alguém aqui já imaginou o horror que seria remover as cobertas da cama e encontrar um sapo? E todos reagiram demonstrando qualquer coisa de nojo-pavor. Como se fosse possível tal coisa acontecer…
Levantei a mão e ganhei um olhar de reprovação imediato que não me demoveu da pergunta que eu tinha para fazer. E como figura curiosa que era, a professora concedeu-me a palavra: por acaso, a senhora já viu um sapo?
Ela perdeu a voz, a paz e eu ri por dentro… Eu tinha visto um sapo e gostei imenso de ouvi-lo coaxar. Fui aconselhada a não me aproximar. Ele estava quieto em sua pedra e não deveria importuná-lo.
Eu me lembrei das muitas vezes em que eu estava lendo um livro e alguém me arrancava do mundo para onde havia migrado. Não seria eu a repetir tal gesto enfadonho. Fiquei de longe a espiá-lo… e ele parecia imponente em sua pedra escorregadia. Tinha um olhar atento aos menores movimentos a sua volta e foi habilidoso ao capturar um inseto que voava ao seu redor, engolindo-o.
Não sei se ele reparou na minha presença miúda, mas enquanto o aprendia, desejei ser a menina com um sapo de estimação. E quis acreditar que ao voltar ao lago no dia seguinte, encontraria o signore rospo por lá. Não aconteceu… mas o ouvi coaxar de outras pedras e isso bastou. Sabia que estava por lá… e o saudava.
Quando toca o meu telefone — o meu ringtone é um coaxar de sapo — retorno a beira daquele lago e o reencontro. Mas reparei que há pessoas que se assustam e penso nessa expressão tola: ter que engolir sapos.
Engolir remete a alimentar-se… o que geralmente é motivo de prazer para a maioria. Mas não existe prazer algum quando se trata de um sapo.
A origem da expressão, no entanto, me causa incomodo: quem foi o infeliz que tentou essa façanha?
Os sapos são lisos e dizem que são frios… eu nunca toquei em um e, vegetariana que sou, não desejei comê-los. Mas não sei por que as pessoas os consideram desagradáveis.
Na França se come o famoso escargot que eu jamais levaria à boca. E em alguns países — Tailândia, China, Caribe, Indonésia e esporadicamente em toda a Europa — as rãs são iguarias…
Mas e os sapos? Soube que o Brasil é o país que apresenta a maior quantidade de espécie desse anfíbio que são responsáveis pelo controle de certas pragas e sua presença em determinado lugar serve de indicador para informar que o ambiente está em equilíbrio, por serem sensíveis as mudanças climáticas. E há répteis, aves e alguns mamíferos que realmente engolem sapos, por serem seus alimentos favoritos.
Mas, nós humanos, não gostamos de engolir sapos, que no caso, seriam desaforos, ofensas ou coisa pior. Eu sou ume excelente ouvinte, mas sou melhor ainda na arte de não-ouvir. Quando alguém me incomoda com suas frases impertinentes, respiro fundo e pinto um sorriso nos lábios. Meu corpo está lá, mas a mente partiu para longe… talvez tenha ido habitar o lago e ficado por lá, a espiar o signore rospo e a imitá-lo, coaxando para a lagoa.
Aloha!
Não tinha pensado a respeito dos sapos das histórias e agora vou dormir com essa: por que sapos?
Aloha!
Alô…Alô…Lunna
Vou te dizer uma coisa, menina. eu já engoli muito sapo e tem horas que entala, viu?
Preciso aprender essa sua técnica aí de ignorar.
Mas bah, guria.
Tem gente que joga sal no sapo, costura a boca e você aí reclamando de engolir uns sapinhos? hehehehe
Abração.
Adorei o seu post e eu já vi essas suas expressões de ponto interrogação no meio da cara. É muito engraçado e, as vezes, você tenta disfarçar. É muito bom.
Mas eu realmente não consigo imaginar você engolindo desaforo não. Apenas ignorando e fazer poeira da pessoa que tiver essa ousadia.
bisous
É por estas “viagens” que sempre volto aqui, molhar-me com estas tuas palavras tão bem colocadas. Fiquei curioso por saber que inventou essa história de engolir sapo.
Beijo Lunna
Engolir sapos é uma expressão bastante antiga, eu me lembro de ouvi-la ainda menina. Mas também não sei a origem. E como a maioria das pessoas, já engoli os meus frogginhos. rs
Beijos.
Oi Lunna, tudo bem?
Achei bem legal a sua escrita. Gostei mesmo.
Me diverti com o lance do conto de fadas e a reação da sua professora.
Sei bem como é ser o chato da turma, viu? Sempre fazendo perguntas.
bjos
Lembro-me que falamos sobre isso. Não achei a fotografia do sapo no balde que salvei aqui. Mas lembrei-me do dia em que beijei um sapo, para horror e nojo dos meus irmãos – que ficaram um tempo sem me abraçar – só para mostrar que sapo não virava príncipe… dei a ele o nome de Ludugero e ele, parece, que reconheceu-se no nome. Bastava eu chamar e lá vinha Ludugero me rodear… um dia, escrevo sobre isso.