Eu não sou o tipo de pessoa que fotografa plantas e árvores. Meu olhar vasculha a geografia urbana em busca de alicerces humanos: prédios, casas e um sem-fim de construções erráticas. E, como resido em um bairro sob o efeito perverso dos investimentos imobiliários, tenho feito registro de casas que evaporam de um dia para o outro. Antigamente eram as árvores que sumiam… daqui a pouco seremos nós, despejados que seremos do lugar.
1 – Na semana passada… passei pelo Atelier Hideko Honma na Avenida Jacutinga que habitualmente exibe diferentes elementos em sua janela… de acordo com a estação do ano ou a festividade do mês. Durante o mês de junho, um ramo de cerejeira foi colocado ali em um vaso… a planta ajuda os japoneses a identificar que o fim do inverno se aproxima…
2 – Uma das coisas que gosto de observar é o efeito da copa das árvores. A maneira como crescem e se espalham no ar, até que vem aquela galera da eletropaulo-enel com seus cortes e recortes estranhos para livrar os fios de energia. Melhor seria se os interrassem, deixando os galhos em paz…
3 – Na maioria da vezes, tudo se mistura no meu olhar… os prédios, as janelas, a fiação e os galhos. Um sutil bagunça urbana…
4 – Nessa época do ano, o que me encanta é o efeito da luz na paisagem… Pouco depois das cinco — a luz vai cedendo e a sombras crescem, se avolumando e as formas vão se misturando até que tudo seja uma única coisa: um grande borrão…
5 – Esse registro eu fiz, ao voltar da feira, no último domingo… as Azaléias costumam florescer depois do período de frio (junho, julho e agosto) e vê-la florida chamou a minha atenção porque depois que o outono chegou ao fim, no mês passado, uma onda de calor atingiu a cidade não sei se a Azaléia foi enganada pelo tempo ou se a Natureza pulou o inverno e foi direto para a primavera…
6 – Nos últimos tempos, o bairro passou a susbtituir suas antigas e enormes árvores — derrubadas durante as tempestades de verão — por outras menores que ocupam de maneira solitária a calçada de todo um quarteirão. Algumas são nativas de outras regiões e/ou países e destoam do cenário urbano…
Mariana Gouveia – Obdulio Nuñes Ortega – Roseli Pedroso – Suzana Martins
Adorei passear com você e ver a cidade e sua vegetação pelo seu olhar!
Suas paisagens rasgam o concreto e provocam delírios contrastantes!!
seguro em tuas mãos e te sigo…
Ah, como observadora que sou dos quintais, da natureza que habita as miudezas, garanto que seu olhar macro da selva de pedra também nos sensibiliza e muito! Porque você faz um recorte da natureza nada morta, flores e árvores que insistem em brotar apesar das adversidades climáticas e, principalmente, humanas.