Reticências

Reticências foi o meu primeiro projeto de livro-diário e não foi nada fácil alinhavá-lo. Comprei um caderno novo numa papelaria qualquer da cidade e tentei deitar palavras ali. Falhei mi.se.ra.vel.men.te. Tempos depois, optei por folhas avulsas, imitando a poeta estadunidense Emily Dickinson, numa tentativa de escrever a minha versão de: “essa é a minha carta ao mundo“. Falhei de novo…

Respirei fundo e engavetei a idéia. Disse em voz alta que escrever em diários não era mais para mim e fui embora para pasárgada. Mas, após uma sonora badalada do carrilhão da minha infância que ressoa forte até os dias de hoje… sentei num desses cafés da cidade para um bom papo com o meu parceiro de crime e ao voltar para casa, com os meus passos e gestos engatados aos dele, decidi retomar o projeto como forma de me conectar com todas as minhas gerações.

Eu não tive uma vida fácil ou simples e, às vezes, me assusto ao olhar para trás e dar por feitos e desfeitos. São muitas peças de um quebra cabeça que se encaixam… formando um desenho impressionista.

Escolhi dias depois… o título: Reticências! Era o único possível porque a minha escrita não se relaciona muito bem com os pontos finais. Nada é definitivo. Tudo é mutante-mutável e eu gosto de ser outra que não eu ao escrever, para isso, concebi Catarina… que voltou a escrever!

Eu sei que um dia chegarei ao fim. Todos nós sabemos. É o sentido de tudo: acabar para que outros continuem. Não tenho ilusões futuras. Eternidade não é uma palavra que vigore no meu dicionário. E gosto de pensar na realidade como uma linha reta — tal qual a minha narrativa.

Mas, enquanto estou aqui, a bordo da realidade, optei por ficcionar o meu mundo para estabelecer conexões com outras formas de vida. E Reticências foi meu primeiro passo nesse sentido… um experimento. A mão aprendendo a escrever. A mente a reunir palavras numa frase. O corpo descobrindo lugares e pessoas e eu tentando compreender-me enquanto persona que escreve, tropeça aqui e ali, amassa folhas, risca-rasga e respira fundo antes de desistir de uma narrativa que se recusa a existir.

Reticências é uma porção generosa de ar e um tocar cheio do carrilhão que lembra que o meu tempo é outro… o do cuore. Evoé Kairós!

Agosto [entre tantas coisas] é o mês do B.E.B.A
e eu terei companhia nessa aventura diária:
Mariana GouveiaObdúlio Nunes Ortega – Suzana Martins
Darlene Regina – Mãe Literatura – Alê Helga – Roseli Pedroso

Publicado por Lunna Guedes

Sou sagitariana... degustadora de café. Figura canina e uma típica observadora de pássaros, paisagens, pessoas e lugares. Paciência é algo que me falta desde a infância. Mas sobra sarcasmos para todas as coisas da vida que fazem mais barulhos que cigarras nos troncos das árvores. Aprecio o silêncio e falas cheias, escreve-se em prosa por apreciar a escrita em linha reta. Tenho fases como a lua... sendo a minguante a minha preferida!

10 comentários em “Reticências

Pronto para o diálogo? Eu estou (sempre)

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