[considerações para um dia nublado]

Eu gosto de gostar… estender a mão para um encaixe e ficar num abraço. De convidar à casa e pôr a mesa. Escolher o prato, o vinho. Servir o café… com biscoitos de leite que derretem na boca, às vezes, na mão — receita antiga que combina coco-trigo-amido-de-milho-e-manteiga. 

Mas gosto imenso de não gostar porque há temperos que não agradam ao meu paladar e ingredientes que não uso. Considero natural existir pessoas estranhas à minha pele-alma; que o olhar recusa e o corpo não deseja partilhar calor-sabor-aroma.

O que tento evitar é o deixar de gostar… mas, às vezes, acontece e eu tento não lamentar. Há xícaras que se quebram. Colheres de pau que queimam, quando esquecidas perto do fogo. Tábuas que deixam de servir. Facas que perdem o corte. Ingredientes com prazos de validades vencidos que, percebo na hora de fazer uma receita, graças ao hábito de conferir o rótulo das embalagens.

Acredito que as relações se estabelecem através da empatia… esse ingrediente que nos faz prestar atenção em alguém e degustar qualidades-e-defeitos em pequenos goles. É preciso existir algo que nos una a alguém — um aroma âmbar —, nessa seara insana de humanos em movimentos.

Se tem uma coisa que eu compreendi ao longo do caminho é que não é possível gostar de todos. Há gente demais no mundo e não temos tempo-habilidade para tanto-tudo. Ainda mais eu, que sou uma criatura de poucos. Gosto de pequenas doses, colheradas… o excesso me cansa. 

Todos temos preferências… secretas-silenciosas — nossas, que aquece a alma ou que nos faz exibir uma careta. Se quente-frio ou doce-amargo… depende de nós.

Eu gosto de ópera-rock. Vinho branco servido em caneca de ágata. Prato fundo para a massa. Pia sempre limpa. Faca bem afiada. Livro de poesia. Xícara de chá. Mesa posta. Legumes coloridos-firmes-bem-escolhidos-lavados.

Não gosto de louça suja. Bourbon. Prato de vidro. Talher sem peso. Panela queimada. Faca sem corte. Quiabo. Chuchu. Coentro. Café fraco-frio. Toalha de mesa.

E considero que convidar alguém a casa para um jantar… é coisa muito séria. Requer cuidados. Escolher o prato. Providenciar os ingredientes. Preparar a casa, a mesa. Cortar. Picar. Triturar. Aquecer panelas. Combinar tudo… e abrir a porta da casa-corpo-alma-memória. É preciso estar disposto a abrir-se para o outro…

Eu não acredito que seja possível preparar um jantar sem unir o que há de melhor em si. Sentar-se à mesa para uma refeição é partilhar intimidade… avessos-contrários. Desnudar-se… oferecer sensações antigas e novas. Oferecer-se… ao outro(s) a si….

Mas nem sempre estou interessada em presenças e prefiro que seja apenas eu, o sofá, a dog, mio amore, um filme na televisão e uma travessa de madeleines… que é feita com ovos, açúcar, manteiga derretida, farinha, fermento e aromas.

Agosto [entre tantas coisas] é o mês do B.E.B.A
e eu terei companhia nessa aventura diária:
Mariana Gouveia – Obdúlio Nunes Ortega – Suzana Martins
Darlene Regina – Mãe Literatura – Alê Helga – Roseli Pedroso

Publicado por Lunna Guedes

Sou sagitariana... degustadora de café. Figura canina e uma típica observadora de pássaros, paisagens, pessoas e lugares. Paciência é algo que me falta desde a infância. Mas sobra sarcasmos para todas as coisas da vida que fazem mais barulhos que cigarras nos troncos das árvores. Aprecio o silêncio e falas cheias, escreve-se em prosa por apreciar a escrita em linha reta. Tenho fases como a lua... sendo a minguante a minha preferida!

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