Uma pausa necessária…

Passei os últimos dias sem escrever palavra. Partes do meu corpo e da minha mente optaram pelo silêncio. Não conseguia pensar em nada — algo raro. Minha mente vive ocupada com coisas e fatos e causas e consequências.

Em outros tempos… eu enlouqueceia com essas pausas inesperadas. Não entendia a quietude. Tentava de todas as maneiras formar frases e mesmo sem conseguir conjugar verbos, insistia…

Aprendi a apreciar esse intermezzo. Faz bem não pensar. Inexistir é necessário. Os olhos e a mente se cansam e pedem um pouco de sossego.  

Quando percebo que o cansaço se impôs, vou para a frente da televisão e assisto o que encontro por lá: filmes-novelas-notícias. Qualquer coisa que combine com a minha condição: naufraga.

Deixo as horas seguirem os seus cursos. Esqueço onde deixei os óculos e não preciso procurar por eles — essa é a melhor parte.  Preparo uma xícara de chá. Seleciono ingredientes para o almoço-jantar ou para um lanche da tarde. Saio para andar. Atravesso ruas, dobro esquinas… entro e saio de lojas, vejo vitrines. Escolho o que não comprar. Percebo que o bairro continua o mesmo. As pessoas seguem sem disposição para acenos e detestam quando são obrigadas a um simples: “bom dia”.  

Na rua da minha infância, os fins de tarde eram cheios. As crianças voltavam da escola e corriam trocar seus uniformes por roupas de brincar. Cada dia inventavam uma brincadeira nova. Se dependesse de mim, andava de patins de uma esquina até a outra — que era o meu limite — todos os dias…

As mães levavam cadeiras para as calçadas. Havia duas senhoras que aproveitavam para confeccionar as peças do inverno. Sentavam-se lá com suas agulhas e bolas de lã coloridas…

Eu gostava de ouvir os contos indianos, enquanto esperava pelo babo que voltava para casa na hora do jantar. Às vezes, eu migrava para a rua debaixo, onde vivia o garoto que tornou tolerável, os meus dias na escola primária. Ele era um aventureiro, como a maioria dos garotos e eu era parte do bando. Sabia jogar bola, subir em árvores, correr ligeiro e fazer mil estripulias. Voltava para casa com a jardineira toda suja…

Naqueles dias havia horário para tudo, embora nunca soubesse das horas. Eram as medidas dos outros. Quer saber? Pouca coisa mudou. Eu sigo sem saber do tempo dos homens…

Mas a pausa acabou… e eu voltei a escrever!

Publicado por Lunna Guedes

Sou sagitariana. Editora de livros artesanais. Autora de romances. Degustadora de café. Uma típica observadora de pássaros, paisagens, pessoas e lugares. Tenho fases como a lua... sendo a minguante a minha preferida!

3 comentários em “Uma pausa necessária…

  1. Eu confesso que estranhei e morri de saudades… mas, saber-te ali, quieta e sabendo que se precisasse sabia que podia me chamar já acalentava meu cuore.

Pronto para o diálogo? Eu estou (sempre)

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