Caro Escritor,
Escrevo-te dentro dessa manhã de sábado, no segundo (ou seria terceiro?) Dia de primavera. Estou em dúvidas e ao olhar lá para fora, nada se esclarece. Será um lindo dia de sol. Mas está frio… E há um silêncio pouco comum na Alameda que exibe um vento típico dos dias de julho de ontem. Nesse ano não ventou dentro do mês, que foi seco e quente. Monótono e interminável. Ao contrário de agosto que passou por mim sem canto de pássaros na madrugada e sem flores de ipês, que vieram a surgir nesse setembro que se despede sem cerimônia alguma.
Preparei uma xícara de chá e fim me sentar aqui na varanda. Cobri as pernas com uma manta e viajei para outros ontens. Tudo muito rápido. Voltei… atraída que fui por uma dúvida que começou a existir no primeiro domingo — esse dia escolhido para trabalhar um capítulo do texto escrito em novembro passado, quando escrevi um por dia.
Até aqui foram três… e amanhã trabalharei mais um. Não estou satisfeita…
Não é novidade essa condição, eu sei.
Quando escrevi, no ano passado, foi um libertar-se diário. Os primeiros dias foram os mais difíceis e pareceu impossível escrever mil e quatrocentas palavras por dia.
Confesso que foi a primeira vez que escrevi sem rastro. Não tenho um diário de bordo da trama, dos personagens. Sei mais de Cecília hoje do que na época. Mas é, estranhamente, tudo intuitivo e estabeleci novas conexões aqui e ali. Abandonei outras, que à época pareciam certas.
Sei que tudo isso é comum a você… e a sua escrita. Mas não para mim. E a primeira vez que não lido com a realidade. As personagens não se apoiam em figuras conhecidas. Não há nelas nada de conhecido. Talvez sejam uma mistura de tudo que fiz até aqui.
Comparo Cecília a uma boneca de louça quebrada. Alexandra (em lua de papel) encontra uma e quer guardar. Essa cena eu vi em um filme. Não me pergunte o nome. Foi um recurso para explicar a personagem e eu achei poético aquele objeto de cena onde a personagem se reconhece.
O fio condutor que move a trama veio de um recorte de jornal. Notícia antiga. Eu gostava de vasculhar os cadernos em busca do trágico para descobrir o motivo. Compreender o horror na mente de certas personas.
Eu tenho alguma bagagem. Afinal, são quatro décadas de coisas acumuladas e deixadas para depois. Há vários elementos em cena, com os quais tenho proximidade, como a loucura de Cecília e suas certezas bem pontuadas e a dualidade — elemento essencial para mim — de Milena…
Enfim, claro que ainda precisarei de muitos domingos para ter algo que se assemelhe a uma história para que Sol em sagitarius mereça pousar em páginas e olhares atentos.
Au revoir
Setembro [entre tantas coisas] é o mês de Missivas de Primavera
e eu terei companhia nessa aventura semanal
Mariana Gouveia – Obdulio Nuñes Ortega – Roseli Pedroso – Suzana Martins
Cada vez mais curiosa para saber mais dessa história…
Lunna, interessante que tenha experimentado essa incursão pelas palavras sugeridas pelo momento, como acontece muito comigo. Sei que não é a técnica ideal para fazer uma rota de voo, mas ao mesmo tempo me traz uma sensação de perigo que gosto de sentir. No mais, aguardemos as peripécias de Cecília e Milena.