(…)
e deixamos de confiar no poema
no poeta
na metáfora
e em todas as mentiras
neste equinócio
com pronúncia de outono
e voz de setembro esquecido
[de repente parece que o mundo murchou
para os que amam por acaso
nestes dias lentos.
(…)
Um poema, de Jorge Pimenta
para a estação de setembro
Setembro acabou… esse mês que trás em sua anatomia a grafia do sete porque era o sétimo mês do calendário romano que abandonado foi em meados de um tempo esquecido no fundo de uma gaveta qualquer.
Gosto imenso do mês de setembro… de suas chuvas e de seus dias úmidos-frios porque a vida parece fazer uma pausa para que os dias seguintes aconteçam. A vida também precisa respirar fundo para ser flor no dia seguinte. Engana-se quem pensa que depois do fim, a gente engata a marcha e pronto. Olha lá pra fora e repara nos movimentos. A vida se refazendo nos dias de chuva. É lindo-mágico! A vida tem seu momento de luto e os vivencia intensamente…
A gente é que gosta de acreditar que ao ler a última página é só mergulhar no próximo livro. Eu não consigo… Fico com a história em mim, degustando-saboreando-deglutindo cada pequeno aroma. Revejo os trechos favoritos — sinto em minha derme as alegrias-tristezas-decepções de cada um dos personagens e, às vezes, penso em como teria escrito determinada cena. Digo em voz alta: eu teria feito diferente… e o riso floresce.
O fim não é apenas uma palavra. Só pensa assim quem, por ventura não saboreou de certos rituais. Nunca leu um livro. Acenou da plataforma da estação. Escreveu uma missiva. Recebeu nos lábios um último beijo. Mudou de casa. Fechou a porta. Pensou ter esquecido algo. Olhou nos olhos de alguém que atravessava o seu caminho. Disse adeus querendo dizer até logo e depois soube que não teria tempo para mais nada. Quem nunca escreveu um texto e ao final deste sofreu dias inteiros ao ouvir a própria voz anunciando: acabou e sentiu falhar o cuore, percebendo que uma parte de si, acabou junto.
Setembro acabou! Mas em mim ele ainda respira através dos versos da canção: “e sara´a settembre”…
Fui ouvir a canção. Literalmente, estou no seu ritmo… Solamente tu!
E quando te escrevo aqui já é outubro, bambina e posso te confessar que estou dentro de uma missiva de novembro. Esses fusos confusos que nos atravessam são como uma história que não tem fim, por isso, setembro ainda reverbera em mim.