Em face de outros mil disfarces
que o tempo reassume a cada passo,
pode pensar-se em todas essas mãos
que emergem como sombras embaçadas
em milhares de quartos mobiliados.
T.S.Eliot – pág. 79
Ah, meu caro Novembro, você aconteceu de repente, dessa vez, no meio da madrugada!… Eu não vi as tuas nuvens chegarem. Estava distraída com os meus rascunhos, espalhados por cima do sofá…
Você sabe como chamar a minha atenção… um estrondo forte e gostoso fez a casa-corpo estremecer… Corri para a varanda e vi as nuvens se aglomerando por cima dos prédios. Fechei os olhos e senti na pele um sopro frio e no ar um aroma gostoso de terra molhada. Eu me comporto feito um cão nessas horas. Estico o nariz para farejar o ar e levo tudo para dentro, em uma pesada tragada.
A menina Mariana me disse, não faz muito tempo, que esse cheiro peculiar tem nome e eu pintei nos lábios um sorriso, enquanto tentava me lembrar da tal palavra — que escapou porque certos rótulos não me dizem nada.
Tudo que eu preciso é sentir e reconhecer certas paisagem em meu íntimo. Sou tragada por um ontem qualquer e por lá fico… até emergir, atraída que sou por algo que se esparrama pela superfície do meu corpo.
E, ao abrir os olhos, meu caro… dei pela atmosfera que se deixava pratear por milhares de gotas cristalinas, que resvalaram sonoras no asfalto cinza das ruas. Você sabe, meu caro novembro, como eu gosto do som das gotas na superfície das coisas… soa como uma melodia para os meus ouvidos — a melhor das trilhas sonoras…
E ao ouvir o som gostoso da tempestade na madrugada, eu lhe dei as boas-vindas… Mesmo não fazendo idéia do que diz o calendário.
Novembro é um mês tão meu que não dependo das medições alheias para saber-te. E não falha… os trovões te anunciam e a tempestade celebra cada um dos teus trinta dias.
O que não consigo evitar é a vontade de abrir a porta dos armários e descer as roupas de inverno. Eu sei que deste lado do continente a estação é outra… mas a minha matéria nunca abandonou de todo o lugar de onde vim — que segue sendo essa lanterna a iluminar a escuridão e a orientar-me de volta para o cais.
Talvez por isso permaneça na condição de estrangeira nessas terras. E toda vez que alguém me pergunta se irei me naturalizar, respiro fundo e a idéia se dispersa no ar, feito chuva… de verão.
Houve um tempo em que me senti sem pátria… Sem lugar no mundo-planeta. Nem mesmo a pele que eu habito, parecia ser um lugar. E não importava para onde eu fosse. Hoje é diferente porque a memória se revelou abrigo maior e acena como um pequeno ponto no mapa, marcado com um alfinete vermelho, que eu finquei para me lembrar das escolhas feitas e foram muitas.
Eu mudei… de país-idioma-de-pele-de-vida-e-profissão. Mas você, meu caro Novembro — que muitos dize ser a sexta-feira do ano — segue sendo o meu ponto de partido para o eclipse que sou.
Nesse novembro [entre outras coisas] vamos de #blogvember…
Aventuram-se em linhas diárias: Mariana Gouveia, Obdulio Nuñes Ortega,
Suzana Martins e Roseli Pedroso
Que delícia de texto! O cheiro se chama petricor. A história do nome é bonita e bastam pesquisar a palavra – quem tiver interesse, claro, em descobrir – mas, eu fico com o nome e o cheiro também que aparece aqui quando molho as plantas do quintal, em dias secos.
Bacio
Somos conterrâneos dessa terra que fica fora do corpo. Quantas vezes não me surpreendo quando sinto que estou me habitando?
Belo texto de boas vindas a Novembro. Que ele chegue trazendo ventos e tempestades limpando nossas almas, corpos, paisagens e instaurando o novo. bacio
Novembro é o mês do meu aniversário (17), portando me senti no contexto.
Beijo moça talentosa…
Oi Lunna
… esse é o nosso novembro
tenho o mesmo sentimento de que nele começa e termina o ano.
Passam-se as estações uma a uma.
Novembro chega fechando ciclos.
Ou apenas a triste constatação soma-se outros mais e só…
Sua infância de certo foi mais bonita que a minha fez de você essa lindeza que costura palavras com seu novelinho de lã. Do lado de cá muita introspecção as bloqueou, só permanecendo na pupila dos olhos.
Uma delícia ler-te. E devanear com seu belo poema,
fica o abraço carinhoso
És como os Vinho do Porto, quanto mais velha, melhor…a escrever, obviamente!
:)))
Realmente, você é uma menina cheia de vontades que derrama na pele da gente essas ameinidades que escreve e com que prazer o faz. Vir aqui é sonhar com você e suas palavras…
Fique com Deus, menina Lunna Guedes.
Um abraço.
com os meus avós,
eu contava nozes e tangerinas
muito comovente o teu novembro
um abraço
Catarina/Lu…
Que delícia esse seu novembro.
Beijos de quem só pode agradecer por esse privilégio. ♥
Afinal é assim que vida se faz a cada dia… o que compromete, às vezes, são os ciclos interrompidos.
Gr. BJo
Lunna!
O aroma das tuas palavras perfumou o novembro que chegou por aqui. Fiquei a admirar as tuas paisagens, os teus papéis e o teu sorriso. A vida em novembro é mais leve.
Que delícia novembrar contigo!
Amo suas letras. Seu jeito seu tão descritivo. Vou no embalo, sempre!!
Si
Eu quero me esquecer em escadas, ah, eu quero. E ganhar pó de pirlimpimpim e deixar mágicas minhas palavras… diz aí, como faço?
Eu percebi novembro chegando, mesmo porque lembrei-me de alguém que havia me dito que iria escrever todos os dias de novembro…rs.
Viajei para minha casa onde passei boa parte da minha infância, quando eu e meus quatro irmãos ficávamos sentados nos degraus da escada que ficava em frente a nossa casa, cada qual no seu degrau, esperando o nosso pai chegar do trabalho, para vermos no rosto dele aquele sorriso lindo que ele tinha, como também sempre tinha em mãos algum pacote que trazia cheio de guloseimas, para nós crianças, que adorávamos…era sempre uma festa e isso acontecia todos os dias.
Tuas palavras como sempre me levam para um tempo que não esqueço jamais e posso dizer que ainda o vivo no dia de hoje. Meus amigos me dizem a todo momento que é para eu parar de viver do passado…rs…mas como posso fazer isso se principalmente lá… fui tão feliz. Faz-me tão bem reviver tudo isso e aqui com você isso sempre acontece…rs.
Obrigada mais uma vez caríssima amiga…:)
Bjinhos no coração
Caríssima Lunna, que escrito mais gostoso esse seu, fiquei aqui respirando fundo a cada linha. E olha que li duas vezes. Que ritmo gostoso. Que sensação mais aconchegante, parecia que estávamos as duas a contar histórias uma para outra. Eu fui falando pra você das minhas coisas que eu já não lembrava mais e você as suas, me fazendo reviver as lembranças. Lembrei daqueles dias junto a minha mãe descascando cana no terreiro, sentada numa lata de óleo grande. Ela falando com as vizinhas. Eu ouvindo e vivendo. Eram dias bons, como os seus sentada na escada a esperar.
beijos menina Lunna