* O mundo parou ali onde dói a alma e onde o silêncio é apenas aquele eco que invade os meus ouvidos surdos

* Suzana Martins (In)Versus

Abandonei o corpo no canto do sofá… e assisti a noite se esparramar por cima de tudo, com suas sombras embriagadas. A dog veio procurar afagos… aconchegando-se ao meu lado, oferecendo-se ao toque e eu aproveitei para ter uma conversa-muda com ela.. Falei da minha decisão. Ouvir a minha própria voz… provoco alaridos do lado de dentro. Respirei fundo e repeti a frase inteira, sem mencionar o quanto isso iria me custar: algumas vidas, é claro. E nem sei quantas ainda tenho disponíveis. Sei que gastei algumas…

Optei por trabalhar algo novo-inédito… sem o peso dos dias que me trouxeram até aqui. E ela reagiu… deitando no ar um demorado bocejo. Ignorei o que pareceu ser um protesto e continuei… Não quero preservar as idéias que se acumulam em anotações várias. Prefiro inaugurar-me em algo diferente, obrigando-me a sair da zona de conforto, em que me enfiei desde o primeiro romance. Dessa vez, eu ouvi um resmungo inconformado e ela se virou, deixando as quatro patas no ar. Solucei, mas não recolhi a mão, dando continuidade ao carinho e ao diálogo.

Pois é, não sei onde estava com a cabeça quando aceitei esse desafio.
Talvez seja o efeito que a palavra provoca em minha anatomia.

Uma parte de mim fez o mesmo que você: protestou… Insistindo em manter o passo em solo conhecido, encaixado  nos rastros de ontem. Outra parte — impiedosa — cuspiu ofensas contra a constante necessidade de reinvenção. Dei de ombros…

Decisão tomada! — liguei o notebook. Respirei fundo e encarei o vazio da mente… sem interesse por ficções e da tela com seu cursor a piscar impaciente. Foi o que bastou para começar os ecos que deitam o conhecido receio com suas frases de efeito: será que sou capaz de escrever um thriller? Não é o lugar da minha narrativa

E um punhado de argumentos fracos-rasos-tolos… aos quais reagi com uma sonora gargalhada. Espanei o conhecido e aborrecido jogo de palavras. Respirei fundo e dei a ordem… a ser cumprida.

De imediato… recordei o velho caderno de capa vermelha, guardado na gaveta da infância. O cheiro do novo me fascina. O frescor das emoções, das páginas em branco e aquele instante de inquietude: o que escrever? — como se não houvesse palavra-frase-parágrafo-história-personagem em minha mente.

Como eu amo esse momento que se parece com o que antecede as tempestades. Aquele clarão no céu e qualquer coisa de silêncio. Sem trovão, relâmpago ou vento. Nada acontece… nem mesmo o pulsar do mio cuore. Dura pouco, às vezes, uma vida inteira ou duas…

Mas é curioso que tudo isso tenha acontecido em Novembro… o mês em que me inaugurei enquanto criatura para essa realidade. E sigo renascendo de tempos em tempos. Cada ano é uma nova etapa que chega ao fim para que outra se inicie… E será assim até não haver mais tempo-lugar-espaço… Fim.

A narrativa que se escreveu no ano passado, sob o título — nada provisório — de Sol em sagitarius… agora se permite lapidar. Trabalho lento, que pode consumir mais algumas vidas, das que me restam. Ao ler as primeiras linhas, divirto-me imenso ao perceber o atrevimento de alguém que escreveu por escrever somente, como na infância, quando nada sabia de estilos, estruturas e coisas outras. Era apenas uma apaixonada pelo movimento do lápis no papel e, que mais tarde, encantou-se pelo som das teclas da velha máquina de escrever e, que hoje, usa um teclado modernoso que se ilumina ao toque…

Nesse novembro [entre outras coisas] vamos de #blogvember…
Aventuram-se em linhas diárias: Mariana GouveiaObdulio Nuñes Ortega,
Suzana Martins e Roseli Pedroso

Publicado por Lunna Guedes

Sou sagitariana. Editora de livros artesanais. Autora de romances. Degustadora de café. Uma típica observadora de pássaros, paisagens, pessoas e lugares. Tenho fases como a lua... sendo a minguante a minha preferida!

14 comentários em “* O mundo parou ali onde dói a alma e onde o silêncio é apenas aquele eco que invade os meus ouvidos surdos

  1. Gostei do título. Achei forte e promete.
    E eu tinha certeza, desde que nos encontramos na produção lá do Mosteiro que você iria se aventurar por outros estilos de narrativa. Aliás, precisamos combinar um novo trabalho juntas. Aquele foi incrível. Tem tempo na sua agenda sempre cheia?

    bjos

  2. Caramba, você está escrevendo um thriller? Espero que não seja inspirada pelo senhor King. Diga que não. O estilo dele não combina com você, com a sua escrita. Mas eu tenho certeza de que as suas referências são outras.

    Beijoca

  3. Querida Lua…

    como segue sua vida? A minha andou embolada… e cheia de nos mas, parece que consegui puxar o fio que prendia tudo. Que bom voltar a ler-te e sentir porque a sua escrita eu sinto. Nossa. Nem sabia que estava com tantas saudades. Quero tudo. Como faço?

    Lindos os textos publicados. Eu amei a carta, que você carinhosamente chama de missiva. É mais bonito mesmo. Esse outro é um sopro de vida. Que delícia. Gosto quando escreve a respeito da sua escrita e dos desafios. Fiquei curiosa para saber mais a respeito dessa história.
    =)

    Aqui o Sol desmancha em caramelos… nunca esqueço isso! Como eu gosto quando fala das horas do dia e da maneira como fala. A noite se esparrama. Lindo. Lindo.

    Saudades de sua pessoa virtual, grande beijo!

    da Tin

  4. Lunna…

    Fiquei curiosa a respeito do tu que estás escrevendo. Antes você compartilhava algum excerto para que acompanhássemos. Até hoje me lembro da novela que li capítulo por capítulo no blogue e que virou livro depois. Poderia repetir, eu ficaria imensamente feliz por esse teu afecto.

    estrelinhas coloridas pra ti…

    Beijinhos das nuvens

  5. Eu venho aqui em busca de inspiração.
    Geralmente na hora do almoço, mas hoje eu vim mais cedo por causa do jogo.

  6. Olá Lunna,
    Sou Bruna Pallini, trabalho na Edelman, agência de comunicação da Jorge Zahar Editor.
    Realmente um belíssimo post a respeito da escrita. Gosto quando os escritores partilham suas vivências. É um aprendizado, afinal, nenhum escritor é igual ao outro. Maravilhoso que seja assim.

    Gostei muito do seu blog, você escreve muito bem e utiliza ótimas referências!
    Visitarei mais vezes.

    Abraços!

  7. Você é ótima, Lunna!
    Escreva sempre. :]

    Também andei revirando meus escritos há alguns dias. Vemos como tantas coisas mudam.

    Beijos, querida

Pronto para o diálogo? Eu estou (sempre)

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