Cara Anna,
…escrevo-te a bordo de mais uma manhã de sol. O dia promete cores e eu acuso cansaço desde o primeiro espreguiçar. Os músculos alongam-se forçosamente e de passo a passo, alcanço a varanda — acordaram cedo na vizinhança.
Alguém varre a calçada e eu me distraio com o som das folhas — que caem saudando a estação anterior. Não há sintomas de primavera por aqui. Nem o vermelho, tampouco o amarelo das flores nas árvores apareceram nesse ano rabugento. Um avião decola e o som cheio dos motores explodem no ar. Eu aceno, como fazia na infância. Avisto dois cães –ansiosos — levando a humana para um passeio de quarteirões. Vou com eles até serem engolidos pelas copas das árvores. Aceno de novo… Outro avião decola e eu penso em Buenos Aires e suas ruas tão retas, suas esquinas tão monótonas — penso.penso.penso e estaciono o olhar no livro de Borges — o outro, o mesmo!
Leitura antiga — perfeita para esse dia fora da estação. Não sei se lhe disse, mas as minhas leituras são sazonais… Mas não penso nos calendários humanos — sou regida por Kairos, como bem sabes!
Ah, a primeira hora desse dia chegou ao fim. Acabou. E eu ainda nem tomei um gole de Café — o que espero fazer na tua companhia… Em breve!
Catarina nos deve!
Aur revoir
Missiva escrita no dia 22/11 a mão, em papel de amarelecido tom, anexada na primeira página de “café para doidos e loucos” e entregue em mãos da amiga-leitora-autora-parceira-de-crimes… Vários!