Cultura deve renascer em 2023 com Lula e a volta do ministério

Num país continental como o Brasil — dividido entre esquerda e direita; ainda que não faça sentido para quem entenda um pouco de geopolítica — na Cultura percebe-se o efeito direto dessa polarização que privilegia as distorções político-sociais…

Todos têm suas opiniões sobre os mais diversos assuntos nesse cenário. Não que estejam dispostos ao diálogo ou tenham um bom argumento — capacidade nem se fala — para debates. A maioria se enfeita com plumas e paetês, batem no peito e com o dedo em riste, esbravejam ferozes: isso não é Arte — frase pronta-velha-caduca que se recicla nas bocas-murchas.

E os episódios se multiplicam aqui e ali… Livros proibidos por pais que querem os filhos lendo livros sem-partido — seja lá o que seja isso. Há uma lista circulando por aí, com o que não pode e não deve ser lido por alunos de bem. Curioso que O cortiço e Vidas secas estão liberados para esses jovens. Não tenho dúvidas de que esses pais não leram esses livros ou não os liberariam para leitura.

Também esta em alta a mania de criminalizar esculturas e telas, dizendo o que se permite ou não. Até pouco tempo, parece que ninguém sabia que Picasso erotizou suas telas… Será que eu devo avisar que ele não foi o único? A lista de pintores é longa…

Mas, não saber… é a principal característica dessa gente que passou a falar em ideologia — a mesma que Cazuza gritou em seus versos: “eu quero uma pra viver“. São todos pautados pela ignorância, que é a base estrutural de suas cabeças-ocas. O que permite compreender os discursos rasos, diluídos em ismos…

O problema que deveria ser discutido é outro. Que a Arte não aceita rótulos, até essa gente de bem sabe. Mas não compreendem que se trata de um grande investimento, com retorno rápido. Alguns senhores enxergaram isso e passaram a se movimentar nesse sentido.

São Paulo saiu à frente, dada a capacidade que o Estado tem de transformar qualquer coisa em produto. E eu não vou aqui discutir os meandros do negócio. Mas a cidade-capital, por exemplo, passou a atrair turistas oferecendo os melhores teatros-cinemas-museus e espaços alternativos… nichos que se destacam para todos os tipos de gostos e preferências; sem se ocupar da tolice dos rótulos: isso é ou não é… serve ou não serve.

É papel do Estado apoiar as letras, as artes e os espetáculos como o cinema, teatro, exposições ou nada acontecerá.

O que preocupa aqui em São Paulo é a mudança nas cadeiras no Palácio dos Bandeirantes. O atual Governador eleito é parte do grupo que se auto-denomina conservador e que gosta de apontar o que é ou não é Arte.

O Estado paulista tem importantes ferramentas de apoio como: o VAI e o PAC que são apenas alguns dos investimentos feitos pela Secretaria de Cultura com grande resultado nos últimos anos.

Não sei quanto o Estado de São Paulo recebe do Governo Federal para alimentar a sua produção Cultural; mas é urgente a necessidade de descentralizar tais investimentos. O novo Governo Federal e a Ministra da Cultura escolhida, precisa concentrar esforços em fazer uma distribuição melhor do dinheiro e não ficar restrito ao eixo Rio-São Paulo, onde se diz que se passa quase tudo.

Um exemplo disso está aqui mesmo, em São Paulo, que atrai muito público do interior por ter o que as pequenas cidades não são capazes de bancar ou financiar. Como nem todas as pessoas conseguem se locomover para uma aventura cultural na Capital paulista, acabam sitiadas em suas realidades menores.

Em Portugal a atual administração — mais a esquerda — estuda o processo de descentralização, que tem em Lisboa o seu principal núcleo cultural. O mesmo ocorre no Reino Unido, que tem em Londres o seu polo cultural. É espiar para ver como se saem e aprender…

Ao que tudo indica é uma tendência mundial essa tentativa… E seria bom que funcionasse, afinal, em um país tão rico do ponto de vista cultural, como o Brasil, seria bom que o dinheiro fosse realocado em outros Estados e Cidades… e a Arte não ficasse limitada, como tanto querem uns e outros.