Gosto da palavra e do som que ecoa por dentro quando pronuncio a palavra: resquícios. Respiro fundo e sinto o vento revirar tudo do lado de dentro. Aquece-me como se o meu corpo fosse uma acha sempre acesa. Penso em xícara de chá-café entre as mãos e em folhas de papel esquecidas em cima da mesa, uma vela acesa e tantas outras coisas. Os aromas se precipitam entre ontem e hoje. Acenos ficam guardados na ponta dos dedos. Abraços no corpo-pele. Tantas coisas se misturam nessa palavra…
1 — Gosto imenso de ao cair da tarde, olhar lá para fora e acompanhar o mosaico que os prédios oferecem aos meus olhos. As luzes vão se acendendo — uma a uma — deixando para trás a tarde e acenando a noite. Um estalar de dedos e o manto escuro da noite cobre a cidade. É minha hora favorita do dia, porque escapa dos ponteiros dos homens.
2 — Ah, é tão bom caminhar-atravessar ruas com o passo mais lento e o olhar atento ao que é paisagem. As coisas se dissolvem por aqui. Quarteirões inteiros estão sendo desmanchados pelos eventos imobiliários. Viramos um grande cemitério e casas. Mas algumas resistem… e acenam com suas formas antigas e provincianas…
3 — Faço uma pausa no meio do dia, das coisas… para espiar a realidade. Eu gosto imenso de ouvir o som dos ventos. Há mensageiros em algumas janelas e eu sou atraída por eles. Olho para cima e o sorriso se esparrama pelos lábios ao dar pelo efeito dos ventos nas nuvens…
4 — Eu gosto imenso das horas cheias. A meia-noite é a minha favorita. Apago as luzes dos cômodos e vou tateando tudo no breu… os meus olhos se acostumarem com as sombras. Acendo velas… e espio as folhas sob o efeito do tremular da luz.
5 — No meio de uma conversa… o meu olhar escapou pela paisagem, atraído que foi por uma lembrança: essa árvore começou a perder suas folhas em meados de agosto. A primavera veio e passou e nada das folhas voltarem. Ouvi um comentário tolo ao voltar para casa: está morta, tem que derrubar. Alguém rosnou primeiro que eu. A árvore continua em seu lugar e agora começa a exibir folhas.
6 — Aqui no bairro, as árvores de frutas se espalham pelas calçadas, quintais… Temos de jaca a goiabeira num quarteirão. Acabate a grapefruit no outro. Já fotografei diferentes tipos de limoeiro, pintangueiras e pés de romã nos muros e praças… Mas foi a primeira vez que encontrei um pé de mamão tão alto com flores no caule no meio do caminho… Soube que cresceu ao acaso. Talvez semeado por um pássaro. Mas não foi por acaso que amanheceu no chão…
Mariana Gouveia — Obdulio Nuñes Ortega — Suzana Martins — Roseli Pedroso
Lunna, tivemos algo em comum em nossas fotos rs. Adorei passear com você por suas paisagens e resquícios. Bacio cara mia!
fiquei pensando em seus resquícios e nas nossas falas. Ah, a carta… abracei a carta aqui!
Ah, eu imitei Mariana e fui agarrar a minha missiva porque foi como receber notícias suas mais frescas. Adorei. Feliz ano novo Lu
bisous
Fiquei por aqui me deliciando foto por foto… Inspirador!
Ah, os teus resquícios habitam os meus também… ❤
Estou encantada com esse pé de mamão, que lindo!! ❤