Pseudônimo

livros artesanais, autora e editora, scenarium

Quando publiquei o meu primeiro livro — em meados dos anos noventa — assinei com um nome inventado. Não queria ser reconhecida e optei por ficar à sombra da criatura que acabou publicada. Mania italiana… o mistério. Temos uma das maiores autoras contemporâneas que se aproveita desse argumento. Ninguém sabe quem é a pessoa por trás do pseudônimo, que prefere o anonimato. Eu a entendo, mas há quem investigue Elena Ferrante em busca de uma resposta; até aqui serviu apenas para aumentar o interesse dos leitores que leem os livros como se ali fossem encontrar uma pista.

Eu tinha consciência de que não iria viver das letras e estava convencida de que a minha realidade seria a psicologia. E hoje agradeço por ter me protegido. Morning´s gray não representa a minha escrita, que àquela época era imatura e tola no sentido literário. Minha professora de literatura pensava o contrário e foi a responsável por meus escritos terem sido submetidos à apreciação de uma Editora… que o publicou.

Insanidades à parte! Ao decidir pelo universo literário comecei a pensar a respeito do nome que usaria na condição de pessoa que escreve. Gosto imenso do que me foi dado: três consoantes e duas vogais. Num primeiro momento o descartei e tentei outros.

Pensei em usar o sobrenome de minha mãe… Mas seria facilmente identificado por urubus… E segui listando possibilidades. Usei várias combinações — como se fossem peças de roupas escolhidas de acordo com o meu estilo. Ao me posicionar diante do espelho, percebi que não combinavam…

Optei por usar as duas vogais e as cinco consoantes do meu nome próprio. E testei vários sobrenomes que não o meu… Até que numa brincadeira; repeti a colega de colégio que escrevia o nome num pedaço de papel ao lado do sobrenome do rapaz do segundo ciclo, incontáveis vezes. Tomei emprestado o sobrenome do Marco… e a sonoridade funcionou bem.

Fernando Pessoa não usou pseudônimos… foi além. Inventou heterônimos. O que serviu para classificar o homem-poeta-lisboeta como louco.

Loucuras a parte! Cada um de nós tem a sua preferência quando o assunto é Pessoa. Eu prefiro Campos, o único a não ter um fim determinado pelo poeta português, que certamente vestiu-se da metafísica e misturou-se ao personagem. Mas não faço idéia — e nem me lembro se já li algo a respeito — como se deu a escolha dos nomes dessas pessoas todas.

Existem histórias bem pitorescas no universo literário, como a de George Orwell, autor de 1984 — um dos meus livros preferidos. Eric Arthur Blair optou por usar um pseudônimo para evitar que sua família fosse humilhada por seu relato — sobre viver em condições de extrema pobreza — no livro: Na pior em Paris e Londres (1933).

Saint George é o padroeiro da Inglaterra e o rio Orwell era um dos destinos favoritos para velejar.

O que me fez pensar: terei que inventar uma história interessante até para o meu nome-pseudônimo?

Publicado por Lunna Guedes

Sou sagitariana. Editora de livros artesanais. Autora de romances. Degustadora de café. Uma típica observadora de pássaros, paisagens, pessoas e lugares. Tenho fases como a lua... sendo a minguante a minha preferida!

7 comentários em “Pseudônimo

  1. Muito propício seu relato a respeito de um ponto central para o escritor que é o nome que ele utilizará. Até porque, ainda mais nos dias atuais, os leitores desejam saber da vida de seus autores favoritos, e o nome do autor pode acabar se tornando maior do que os de suas obras. Bela reflexão!

  2. Como eu sou uma pessoa que gosta de chamar atenção e receber, é claro, preferi não usar pseudônimo. E nenhum parente meu, leu os meus livros e acho que nem irá ler. Então estou tranquila.

    beijosssssssssss

  3. Quando eu comecei escrever me disseram para considerar quanto do meu nome real eu desejava manter. Disseram que o melhor a fazer era encurtar ou escolher um nome similar. Mas sempre optar por nome e sobrenome. Lendo o seu post, ficou tudo isso parecendo uma grande bobagem.

  4. Eu conhecia a história do seu nome, você escreveu algo em um dos diários. Septum, não foi? Mas gostei de ler aqui, como Catarina falando de outros. Amo Pessoa. Adoro o Reis e acho o Campos muito intenso. E não sabia da história do Orwell. Bem legal mesmo. Ah, sei lá, você pode contar aquela história de como conheceu o Marco, acho que seria show.

    bisous

  5. Achei pena que não falou de nenhum brasileiro. Queria conhecer pseudônimo de alguns escritores. Conheço de várias atrizes, como Suzana Vieira ou a Glória Menezes. Tony Ramos e outros. Mas escritores não sei de nenhum. Você sabe?

  6. Inútil comentar texto de Lunna, são todos excelentes, provocativos…
    Pseudônimos… Sim… por que não usar? Mas, como em política, todas as opiniões serão expressas. Há quem critique, reprovando falta de coragem do autor que se esconde. Sem pensar que, em vez disso, este tem apenas a intenção de proteger quem poderia desiludir-se com um dos personagens.
    É muito prazeroso, mesmo divertido, encontrar seu pseudônimo… De todos os que me vieram à mente, com qual deles me identifico?

  7. Gosto imenso da sonoridade de seu nome de como ele te liga a lua. Penso em ti como ela em todas suas fases.
    Quero para já a história inventada.
    bacio

Pronto para o diálogo? Eu estou (sempre)

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