Conversava há pouco com uma colega de profissão e ela reclamava das modernidades que nos atingem. Imaginei como seria a discussão se acontecesse um século antes… com o aparecimento da moderna máquina de escrever e sua poderosa rajada de letras…
Foi em uma dessas máquinas que aprendi a usar o teclado, posicionando todos os dedos das mãos nas enormes teclas, com o dobro do tamanho dos meus dedinhos. Até hoje eu não sou capaz de repetir a sequencia de letras do teclado em voz alta. Sei usá-los e o faço com alguma agilidade. Mas não me peça para ditar a ordem que o teclado exibe… com ou sem regra ABNT.
A minha colega ressaltou que prefere as coisas à moda antiga. E quanto mais toma conhecimentos das decisões modernas, mais apreço sente pelas boas e velhas maneiras. Eu pintei um sorriso no rosto — tradição minha que se repete de tempos em tempos! Algumas pessoas chamam isso de: conservadorismo. E eu chamo de preguiça de se adaptar, de sair da zona de conforto e de se atualizar.
A reclamação da vez é referente ao uso cada vez mais frequente dos computadores. A filha dela, que está no sétimo ano, pouco usa papel nas aulas. E até a prova está sendo feita no modernoso aparelho, fornecido pela escola — reclamou. Em casa, ela tem um notebook pessoal… presente de aniversário — um pedido da garota, que foi atendido pelo pai. Versão moderna… e atualizada com frequência.
O meu primeiro notebook — um IBM bem pesado — eu ganhei quando ainda estava em idade escolar. Naquele tempo não era comum vê-los em sala de aula. O meu não saia da mesa e usava no aconchego do meu quarto. Mas não demorou para que eu me adaptasse a ele e ao seu programa de edição de textos.
Tornou a minha vida muito mais fácil. Antes, eu recorreria à máquina de escrever para preparar os meus trabalhos. Repetia o nonno na hora de datilografar: duas folhas brancas e um carbono no meio. Ficava imensamente feliz quando conseguia uma folha inteira sem rasura — coisa que raramente acontecia. Lembro-me do dia em que me deram um frasquinho pequeno com uma espécie de tinta branca, que poderia ser usada para remendar o erro. Que maravilha!
A colega acredita que escrever no papel faz toda a diferença na hora de produzir um texto e que a máquina fria e sem humanidade nos rouba alguma coisa. Pensei nos romances que escrevi: todos os três foram escritos no meu modernoso notebook. E nesse exato instante, escrevo no Keep… um App do google que me permite abrir e editar o texto em qualquer lugar, inclusive no celular — que uso com frequencia cada vez maior, por estar sempre no alcance das mãos. Parte de Alice, foi escrito aqui…
Mas não sou totalmente independente do papel… Após finalizar a escrita, não é raro eu precisar imprimir o que escrevi para ler e ler e ler… riscar e riscar e riscar e andar pelos cômodos da casa ao som simpático da lapiseira ao repor o grafite. .
E eu gosto imenso do cheiro do papel. No ano que passou e acabou há poucos dias… escrevi missivas para os leitores deste blogue que aceitaram Catarina impressa, em cadernos costurados com fita de cetim. Reparei na minha dificuldade com o traço. Tanto que optei por digitalizar a carta para o caso de algum leitor não conseguir compreender a minha caligrafia e as publiquei aqui no blogue.
Foi agradável voltar a escrever à mão, usar o papel e o grafite, transbordar emoções à moda antiga. Mas não sou como a cara colega que acha que estamos a perder algo. Os tempos mudam e nós também… O “passadismo” cantado por Mário de Andrade é uma ferrugem que se apega a detalhes.
A conversa acabou! Mas antes de fechar o modernoso comunicador do WhatsApp que ela usa sem reclamar… Recomendei a colega a leitura da crônica “evolução” escrita por Isabel Rupaud, em seu livro “de pato a ganso” em que aborda a sua convivência com as modernidades ao longo dos tempos. Se eu, a bordo dos meus quarenta e uns, lidei com mudanças… Imagina a autora a bordo dos seus entas. Certamente experimentou muito mais que nós duas juntas.
Se eu, a invejo? Com certeza…
Sou jornalista antigo: mesmo com celular, e sei lá mais o quê, nunca dispenso a velha e eficiente caneta com um velho bloco ou caderno. Gosto do moderno, as ferramentas são ótimas mas nada substitui o prazer de anotar uma entrevista no papel.
Ameiii 💞
Pois eu não dispenso a minha maravilhosa máquina de escrever, muito bem cuidada por mim.
Agora fiquei curiosa para ler a crônica de Isabel. Gosto dessas pessoas com enta, assim como eu. rs
bj
Pois eu não me adaptei aos computadores não. Escrevo tudo a mão e tenho excelentes blocos de papel para uso em qualquer lugar. Saco da bolsa e ponto.
Eu continuo a escrever no papel – há um monte de bloquinhos esparramados aqui e ali – mas me adaptei bem com os computadores. O notebook é meu melhor companheiro. O que não me adapto bem é com as constantes mudanças do editor do WordPress.
Arghh!
Eu ri e lembrei que no meu primeiro emprego aos 16 eu preenchia nota fiscal com máquina de escrever eletrônica. Dava pra apagar na primeira via, mas debaixo do carbono ficava borrado e eu tomava a maior bronca!
Que polêmica deliciosa Lunna. Dá para gerar muitas e boas discussões. Escrevo tudo, absolutamente tudo pelo note pois confesso: minha letra tornou-se ilegível desde a época da faculdade. Eu mesma muitas vezes não entendo o que escrevo rs. Estou sempre ensaiando voltar a escrever no papel. Até comecei minhas Páginas Matinais e acabei largando ora por falta de tempo, ora por preguiça mental mesmo e quer saber? Meus dedinhos nervosos sentem falta dos teclados. Ah, em tempo, o texto da Isabel é bom demais, recomendo!
Nossa, que honra ser citada pela Lunna. É verdade, comecei pela máquina de escrever, mas a IBM, nunca consegui usar máquina manual. Quem foi que achou que podia pôr o a no dedinho da mão esquerda? Quando comecei no computador espremia todos os recursos, sou preguiçosa, avessa a tarefas repetitivas. Por que digitar expressões inteiras se uma ou duas letras já me levam lá? Fiquei viciada no Word. O Keep? Para anotações apenas, inseridas com Ctrl C – Ctrl V. Bendito seja quem inventou esse negócio.
Papel? Muito importante para a última leitura. Ele me mostra mais facilmente meus gatos.
Vou me adaptando às necessidades tecnológicas sem largar de vez o papel e suas variantes. Também recomendo a leitura do livro de Isabel. Eu quero ser como na ela na segunda fase dos entas.
Eu gosto da ideia de escrever à mão, mas a praticidade de digitar (e corrigir erros) sempre me ganha.