São Paulo, final de tarde… começo de noite!
Caríssima Mariana,
Eu me lembrei de ti, há pouco… ao ver sol insistir por entre densas nuvens de chuva, com seus raios opacos a caramelizar a fachada dos prédios empilhados um por cima dos outros. Deram cores novas para um deles… E eu ainda olho lá para fora em busca do que era ontem — um prédio antigo, com a tinta gasta com suas janelas em pares. Esbarro nessa coisa enfadonha que agride o meu olhar com seu risco oliva-novo Fujo para outro… Há tantos e estão a aumentar. Somos sufocados por novas construções enfadonhas e luxuosas, segundo os mil folhetos entregues por formigas que nos consideram cubos de açúcar…
Não estou nada amigável, cara mia e o motivo são linhas oferecidas a mim, nos últimos dias. Fico atordoada quando não me oferecem nada além de verdades definitivas…
O que é definitivo na realidade dos homens? É tudo tão frágil… pequenos castelos de areia construídos para a maré… Eu gosto imenso dessa imagem… Ouço os sons das ondas em meu íntimo e me lembro dos meus pés apoiados nas pedras. Exigia atenção e cuidado. Soube de muitos que acabaram no fundo das águas, impiedosas em determinadas épocas do ano.
Não aconteceu comigo! Eu sempre soube — estranhamente — o lugar dos pés. E deixavam livre o olhar para apreciar aquela linha reta marítima, em constante movimento. Era raro vê-lo calmo e estático. Ou uma coisa ou outra.
Um dos meus sons preferidos era o da arrebentação. Aquilo me atingia de uma maneira incrível… Um dia, eu desejei ser levada por uma onda que arrebentasse contra o meu corpo. Fiquei lá, em pé, na pedra e esperei… Mas a onda não veio. O mar não me quis, cara mia…
Que coisa gostosa de dizer-ouvir… não lamento o tempo de espera. Acho que foi isso que me atraiu anos depois naquela figura de homem parada no meio da estação. Devo ter lhe contado o fato, é uma das minhas lendas infantis preferidas. O homem e sua solidão. O trem partindo e ele em ruínas por alguém que não veio. Gosto imenso dessa imagem. Do meu aceno para ele. Fomos o mar um para o outro. Eu fui embora e ele ficou…
Me despeço, cara mia… preciso voltar ao manuscrito arredio. Sofro da urgências… preciso chegar a última-página para recuperar a minha paz-perdida. Grata pelo diálogo… espero-te!
Au revoir
…”calmaria adocicada”… tédio é paz… silêncio é sonho… sua carta um alívio entre tantas coisas ruins.
Também não sou adepta das certezas. Consegui sentir o que descreveu, em alguns momentos também compartilho desse desconforto.
Eu caminhei nesse labirinto de palavras e alcancei envelopes dentro de um baú com cheiro de gravetos. Adorei essa missiva, já estava sentindo falta dessa correspondência entre vocês. Aposto como se escrevem através de envelopes. Sò acho que isso deveria ser proibido. hehehehe
Au revoir
Nesta carta… todas as palavras estão no lugar certo. Magníficas imagens escritas!
Suspirei aqui com as fotografias e as palavras. Meu cuore vibrou seu nome.
Aspetta-me
bacio