6 ON 6 | Geometrias urbanas

6 on 6

Fui questionada a respeito do que eu pensava ao escolher o tema para maio — o mês das trovoadas… e sorri ao me recordar o discurso feito por Simone de Beauvoir que disse que as cidades são masculinas. Foram criadas pelo homem para o homem. Foi depois disso que passei a prestar atenção nos desenhos urbanos e a investigar a urbe a partir das categorias espaciais — circuito, trajeto, pedaço, mancha — durante o meu deslocamento pelas calçadas.

Tenho por hábito ir as ruas squando sinto vontade de escapar dos afazeres e ir lá para fora… andar calçadas. Pode ser pela manhã ou no final da tarde. De preferência, quando o sol não faz arder a paisagem a minha volta…

Começo pelo básico da geometria… o ponto e avanço para a linha que une aqui ao lá… passeando por edificações que emergem do chão em seus conceitos de forma antiga ou modernosa — inteferindo no espaço ou apenas se moldando a ele como se fosse um daqueles cubos mágicos que exigem movimentos precisos.

Escolho o que fotografar durante as minhas andanças ao tomar consciência do que hoje está ali e, amanhã não estão mais. Tenho particular simpatia por cenários que se submetem ao descaso do homem.

Tudo isso me faz um elemento que modifica o espaço é por ele é modificada.

1 – Torre da Biblioteca Mário de Andrade, no centro velho paulistano… pouco deois do meio dia. Olhei para cima e fiquei imaginando as muitas prateleiras repletas de exemplares raros e preciosos em cada um dos andares…

2 – Janela da Bilioteca Mário de Andrade — final de tarde, pouco depois das quatro… olhei para fora e me deparei com todos os elementos da urbe: uma sequencia de colunas, árvores, postes, grades e bancos… Tão grosseiramente modificado nos últimos anos com projetos de engenhos desastrosos.

3 – Casa pequena em Moema — pouco antes das dez de uma manhã em que o sol ficou pelo caminho. Descobri essa casinha teimosa de dois ou três andaras numa esquina. Cheia de placa de aluga-se e vende-se… o que vier primeiro. Tudo que eu gostaria de saber era como se deu a escolha para o local da janela.

4 – Quintal alheio… sai para caminhar com a Janedog e ao ver a flor escapar das grades, lembrei do quintal de Mariana, com seu pé de ypê. O meu quintal — disse a ela — é o meu bairro inteiro…

5 – Calçada da Avenida São Luis — quase cinco… é um dos traços mais simpáticos e charmosos do tão depreciado centro paulistano. Já foi mais arborizado… mas, caíram árvores durante o último verão e não foram repostas. A sensação que dá é que logo não háverá mais verde ali e será apenas mais um traço rude e cinza.

6 – Ruas de Moema… antes das nove. Um passeio com a Janedog e o olhar descobre pássaros, avião, postes e fios… Elementos urbanos comuns a Paulicéia que só foi desvairada na poesia do homem-poeta-mario e quem fez pensar na proposta do antropólogo J.G.C.Magnani: analisar a urbe, sem qualquer pretensão científica, apenas percepção da presença de elementos geométricos no nosso uso da cidade para nos ajudar a entendê-la melhor e, vivê-la de maneira mais consciente.

Mariana Gouveia – Obdulio Nuñes Ortega – Roseli Pedroso – Suzana Martins

Publicado por Lunna Guedes

Sou sagitariana. Editora de livros artesanais. Autora de romances. Degustadora de café. Uma típica observadora de pássaros, paisagens, pessoas e lugares. Tenho fases como a lua... sendo a minguante a minha preferida!

12 comentários em “6 ON 6 | Geometrias urbanas

  1. Já conheço alguns espaços através de seu olhar e abri um sorriso ao me ver dentro de sua lembrança.
    Amei cada foto, mas a flor me cativou… grazie!

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