Grigor Samsa, o bode

Cresci em uma Vila italiana, com duas ruas e casas dos dois lados, devidamente numeradas. A nossa era a mais antiga. Uma sobrevivente, dizia o mio babinno. A primeira construção, situada na esquina, com seus contornos de pedras, quintais verdes, muros altos, degraus de cimento e caminhos de pedregulhos. As outras eram mais comuns eContinuar lendo “Grigor Samsa, o bode”

* Sou essa pessoa a quem o vento chama

E procuro minha almae o corpo, mesmo,e a voz outroraEm mim sentida. (…) Cecília Meireles, pág. 97 A meia-noite… ficou para depois e o sono perdeu-se dos meus olhos, fui para o terraço espiar outros mundos que vão se diluindo no breu, misturando-se numa espécie de tela surrealista. A cidade, a essa hora, de fato seContinuar lendo “* Sou essa pessoa a quem o vento chama”

Que fazer em tão longas noites?

Bonne nuit, minha nobre, Sade, …escrevo-te nesta noite de sábado, hora que passa, dia que se acaba. Estou cansada. A casa esvaziou-se há pouco. Outra festa… Comemoramos vinte e dois anos. Pode rir, ou melhor, gargalhar, como tanto gostas.  Mas eu não sei de qual calendário saltaram tantos dias-semanas-meses. O homem que dorme ao meuContinuar lendo “Que fazer em tão longas noites?”

Das coisas que eu gosto (refiz a lista)

…casa com varanda. Jabuticabeira no fundo do quintal. Janelas abertas no fim da tarde. Sombras pela casa. Cortinas ao vento. Livros abertos. Xícaras de chá. Guarda-chuva vermelho. Filme antigo. Pilhas de livros e roupas no varal… Os dias de maio, de junho mas, principalmente, os de novembro. Do outono. Abraços de urso. Sorrisos brancos eContinuar lendo “Das coisas que eu gosto (refiz a lista)”

Um café, por favor!

Eram quase três… tarde quente. Fiz uma pausa nas leituras… para colocar a chaleira no fogo e voltei no tempo. Acontece com frequência — nem sei onde pouso… e se pouso. Abri o armário em busca do pó (de café) e da cafeteira (uma prensa francesa) e enquanto esperava, recordei o nonno com sua canequinhaContinuar lendo “Um café, por favor!”

Junho é o mês das tardes lilases

São Paulo, 01 de junho de 2023. A você, Amanheceu junho ali no terraço… bem cedo. O vento úmido e frio sussurrou o teu nome, pretendia te felicitar por tuas somas, mas ao vê-lo acomodado em sonhos, desistiu. Foi ventar em outros cantos… Mas, eu fiquei onde estava, a observar a realidade enquanto eu folheavaContinuar lendo “Junho é o mês das tardes lilases”

Sou feita de ausências

Fotografia feita com a luz da tarde de maio… com ventos a trazer nuvens e nada de trovão É sempre no meu sempre aquele nuncaé sempre nesse nunca aquele agoraé sempre nesse agora aquele nada no mesmo nada encontro sempre tudomesmo se o mundo é nada sempre assimmesmo se assim tudo me desperta e euContinuar lendo “Sou feita de ausências”

BEDA | uma receita para Abril

E abril chega ao seu último dia. Não foi o mais cruel dos meses, como escreveu Eliot. Mas admito: não foram dias fácies. Corri para todos os lados. Dei pulos e alguns saltos ornamentais. Fiz pão-bolo. Retomei a feitura das omeletes e revisei Catarina — no ritmo do cuore. Escrevi missivas aos poemas mulher ilustrada,Continuar lendo “BEDA | uma receita para Abril”

BEDA | Excerto da semana: O escrete de loucos

Amigos, a bola foi atirada no fogo como uma Joana d’Arc. Garrincha apanha e dispara. Já em plena corrida, vai driblando o inimigo. São cortes límpidos, exatos, fatais. E, de repente, estaca. Soa o riso da multidão — riso aberto, escancarado, quase ginecológico. Há, em torno do Mané, um marulho de tchecos. Novamente, ele começaContinuar lendo “BEDA | Excerto da semana: O escrete de loucos”

BEDA | Respeita as minas

Admito que me perdi nos dias semana, nos assuntos que se multiplicaram a minha volta e até nos cafés que eu quis tomar e não tomei. E não sei se foi ao virar uma esquina ou debaixo do chuveiro vendo a água indo pelo ralo — para onde gostaria de ver escorrer certos temas, queContinuar lendo “BEDA | Respeita as minas”