42 — Ignoramos ser no horror, que forjamos nossa mortalha

…a quarta-feira demorou a amanhecer dentro dos meus olhos… meu corpo parecia disposto a recusar o dia e suas cores insistentemente claras. Me pus de pé! Alonguei braços-pernas-dedos-pescoço…  e foi às ruas! — passos lentos… um depois do outro, contados, como quem marcha: esquerda-direita… esquerda-direta… folha-pausa… ops Como de costume… comecei a escrever assim queContinuar lendo “42 — Ignoramos ser no horror, que forjamos nossa mortalha”

41 — Duas pessoas sentam-se à mesa…

Domingo de maio… o último! Caríssima M., Ainda sinto reverberar em minha pele certas palavras… Fui e voltei de uma centena de lugares, mas o meu corpo permaneceu nessa mesa, onde escrevo desde que perdi o hábito de sair e percorrer alamedas para acomodar o meu corpo em uma dessas mesas bem merecidas de algumContinuar lendo “41 — Duas pessoas sentam-se à mesa…”

40 — Para o caso de chover na tua rua

Cara mia, Nos falamos há pouco e depois da despedida em meio a risos escamoteáveis provocados por nossas maldades-recentes, preparei uma xícara de chá e fui para a varanda apreciar a paisagem noturna-urbana que tanto gosto. Naveguei até o seu quintal… ouvi passos e latidos, apreciei os vôos e o ir e vir das farfallas.Continuar lendo “40 — Para o caso de chover na tua rua”

39 — Os sutis movimentos do cuore que nos salvam

na vitrolinha… […] O mundo, para ele, se encolheu até ficar do tamanho de sua sala e, durante o tempo que for necessário para que ele venha a compreender isso, precisa ficar onde está. Só uma coisa é certa: não pode estar em nenhum outro lugar, seria absurdo para ele pensar em procurar um outro.Continuar lendo “39 — Os sutis movimentos do cuore que nos salvam”

38 — Um tempo para anoitecer à luz de lâmpadas

Cara M., Vim me sentar  na varanda com alguns rascunhos antigos, em mãos. Xícara de chá ao lado e as janelas dos prédios da avenida com nome de pássaro como cenário. Há poucas luzes acesas nessa noite de domingo. A maioria exibe um brilho típico de televisão acesa… Eu gosto imenso de perceber o passadoContinuar lendo “38 — Um tempo para anoitecer à luz de lâmpadas”

37 — Cultivo regularmente as minhas memórias

São Paulo, Biblioteca Mário de Andrade, meio de tarde… ano 2003. Caríssimo, Meio de tarde, parte de um todo. Um pouco de nada – muito de tudo. Estou cá, ocupando uma das mesas desse espaço contraditório  que leva o nome do homem que me conquistou com sua louvação da tarde, no final do ano de milContinuar lendo “37 — Cultivo regularmente as minhas memórias”

36 — E lá se foi a minha hipótese de paz…

Cara mia, Adormeci com o livro de Borges — o outro, o mesmo — em mãos… e, não sei se sonhei com as ruas de paralelepípedos do velho bairro portenho e suas avenidas Santa Fé, Córdoba, Scalabrini Ortiz, que misturam aromas, cores e sabores… ou se migrei — como fazem os pássaros — para lá,Continuar lendo “36 — E lá se foi a minha hipótese de paz…”

35 — Não há outra verdade que se possa contar

Para M., Escrevo-te na primeira hora deste domingo-primeiro de abril… Tive um sonho agradável na noite que passou e acordei com vontade de sentir o chão debaixo dos meus pés. Nunca fui de andar descalça, como você. Incomoda-me sujar os pés. Mas, essa vontade floresceu em mim… Tem acontecido com certa frequência… vontade de água friaContinuar lendo “35 — Não há outra verdade que se possa contar”

34 — Quando a ausência de mim é presença em você

Cara F., Devo ter lhe dito que sou péssima com datas — não há viva alma que me conheça que não saiba desse fato. Sou uma criatura pontual para encontros e cafés, almoços e jantares que eu mesma preparo. Tenho rituais para receber amigos e manias que habitam os meus gestos. Mas sou péssima comContinuar lendo “34 — Quando a ausência de mim é presença em você”

33 — São dias de olhar pelo buraco da agulha

Há palavras que têm sombra de árvoreoutras que têm fluido de astrosHá vocábulos que têm fogo de raiosE que incendeiam o espaço onde caemOutros que se congelam na línguae se estilhaçam ao sair   (…) Vicente Huidobro Caro Mio, Pensei em escrever-te, desde as primeiras horas desse dia. Mas o calor dessa manhã do último domingoContinuar lendo “33 — São dias de olhar pelo buraco da agulha”