No repeat…

Eu sou uma criatura musical — meio filme-novela-série, com trilha sonora para cada instante de vida. Antes de sair, escolho a playlist para me fazer companhia. Às vezes, uma única música rege meus passos-pensamentos-emoções.

Quando sento para escrever, preciso descobrir o ritmo das palavras, encontrar o tom certo para cada parágrafo escrito. Cada texto tem sua própria trilha sonora. Quando leio, no entanto, quero apenas o som da minha própria voz.

Eu não sou uma criatura eclética. Há estilos de músicas que não tolero-suporto porque são apenas barulho e nada mais. A música precisa silenciar qualquer coisa em mim… simples assim!

Durante o dia… enquanto pensava no que iria escrever e quais músicas separar para compor esse post coletivo, lembrei-me da minha sonata — um presente do nonno. Achei o máximo aquele aparelho pequeno… Uma caixa de madeira feita por ele onde encaixou o mecanismo. Ficava guardada no meu guarda-roupas, sometimes. A maior parte do tempo estava em cima da cama ou da minha mesa a tocar meus discos. Tive uma dúzia e meia deles. Os meus favoritos eram os clássicos. De Chopin a Tchaikovsky. Mas, dentre todas as canções orquestradas, a minha favorita sempre foi Outono, de Vivaldi. A canção interpreta o envelhecer das folhas nas árvores e antecipa a queda. Me vejo por ai, a andar calçadas e recolher do chão uma folha.

Durante a minha primeira década de vida… eu andava por aí, com fitas k7 gravadas pelo mio babbo e fones de ouvido enormes. Ouvia música erudita, óperas, jazz, tangos e o meu favorito e queridissimo Ênio Morricone, com quem aprendi o que é trilha sonora. Era a criatura-menina das músicas estranhas. A minha maneira de permanecer dentro, intocável pelos sons alheios que tanto me incomodavam.

Fui apresentada ao Rock numa tarde de sábado… e foi paixão a primeira canção. O som dos metais me seduziu e stairway to heaven provocou arremedos por dentro. A sensação do cuore a pulsar significados apenas meus, foi imensa e levou dias para deixar a pele. Certas músicas são assim… atravessam a matéria e colam na alma. Me levam para direções outras-tantas. Uma espécie de vôo por cima das paisagens que componho quando sento para escrever…

Léon é uma cantora suéca que lançou três álbuns nos últimos anos. A descobri através da música Surround me. Gosto do ritmo, das letras e da voz dela. Quase todos os meus escritos se orientam por sua voz. A última música lançada por ela (clipe acima) ficou tocando no repeat por dias…

Nos últimos dias, na hora de conversar com o teto — antes da escrita — tenho ouvido The National… uma banda estadunidense de indie-rock e post-rock-revival com um vocalista dono de uma voz cavernosa, que já lançou sete incríveis álbuns, aos quais fui apresentada há pouco mais de três anos, através de uma de minha séries favoritas — 911.

É isso… na minha playslist de momento toca — quase sempre — as mesmas músicas, os mesmos ritmos. Dificilmente sei o que é sucesso do momento. Não é algo que me interessa. Vez ou outra chega algo novo, indicado por alguém que conhece as minhas preferências… geralmente é algo desconhecido da maioria do público. Uma amiga ouve e diz que se lembrou de mim ao ouvir o ritmo, a voz e a letra… e me imaginou a escrever uma das minhas histórias. A última a chegar foi Blues Skies do Noah and the Whale, uma banda de indie folk inglesa.