6 on 6

6 on 6 | anatomia dos passos

Eu sou o tipo de pessoa que precisa das calçadas para andar, esquinas para mudar direções e ruas para atravessar. Gosto imenso do movimento dos pés que avançam na mesma direção do grafite — às vezes, calmos e tranquilos… agitados e inquietos… sonoros ou silenciosos. Divago, repasso frases-paragragos e observo tudo que cresce para cima da minha anatomia. Gosto de sair para andar… sem compromisso, com as mãos escondidas nos bolsos da calça. Não é nada calculado-planejado. É um ir sem mapas… ao sabor do vento… perdendo-me do lugar e, às vezes, do próprio passo… para me encontrar ou não!

1 – Eu não gosto de andar descalça. Meus pés vivem enfiados em meias-brancas, que perdem a cor com facilidade. Pela manhã, ao levantar, os pés nus, vão para cima do tapete e eu gosto de espiar a anatomia dos meus passos…

2 – A menina-mineira veio passear na Paulicéia desvairada e depois de um Café na Livraria Martins Fontes, quis conhecer a Casa das Rosas… e lá fomos nós pisar os ladrilhos portugueses do lugar…

3 – Não sei nada de horários, mas eu gosto imenso de sair para caminhar após as chuvas… Não importa a estação. Parou a chuva… vou lá para fora, espiar o lugar, encontrar poças e ver o que elas refletem…

4 – Vez ou outra, um passo se une a outro e mais outro… e vão todos na mesma direção: um café entre esquinas... uma pausa na realidade das coisas e suas inesperadas anatomias.

5 – E se é para caminhar junto, o mio amore é a melhor das companhias… Vamos por aí, de mãos dadas, inventando mapas para os nossos passos, sem nos ater ao que é rastro-resto-rua… Nesse dia aí, fomos ao Masp e depois ao Parque Trianon.

6 – Mas admito que tenho preferência pelo passo solitário… que não tem pressa e se demora mais em um lugar que em outro, encontra pouso aqui e ali.


Claudia Leonardi Mariana GouveiaObdulio Nuñes OrtegaSilvana

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6 on 6 | Paleta urbana

Eu gosto de andar a cidade, percorrer alamedas com o olhar atento e nessa época do ano é comum o precipitar de novos tons. Não me lembro de ver São Paulo tão colorida, tão cheia de sol… Os ipês floresceram, as azaléias e as primaveras — fora época. Colorem as árvores e o chão… Há diferentes espécie de flores por todos os lados e algumas, com a passagem dos ventos — cada vez mais fortes e frequentes — convertem as calçadas em manto de pétalas… um pequeno espetáculo para os olhos…

1 – Sai para andar a tarde e ao levantar dos olhos, fui atraídas pelos garranchos no muro e pouco depois, lá no fundo, entre prédios, o ipê amarelo impondo sua cor d´ouro ao cinza… Lembrou-me da infância em que ao viajar de trem, via pequenos pontos coloridos em meio ao verde das copas das árvores entre-cidades…

2 – Ao caminhar, descubro novos pontos e trato de uní-los, criando possibilidades em meio a confusa geometria urbana…

3 – Acho interesante quando os jardins alheios acenam com suas cores… o vermelho sempre me atrai, por ser a minha cor favorita, comum aos semáforos que ditam os ritmos alucinados do caos urbano. Mas quando é uma promessa de flor em meio a rigidez dos prédios que crescem de maneira desenfreada por toda a parte, me faz cantarolar Caetano… e foste um dificil começo… afasto o que não conheço

4 – As vezes os tons de suas torres me lembra Cecília e sua crônica bombas com e sem endereço e saio gargando depois do clique, pensando nos gregos e troianos, e no que seria de nós se uma bomba desavisada atingisse a Paulicéia de seu Mário… (de novo)

5 – Uma das coisas que me encanta é a rigidez do concreto e a tentativa da natureza de vencer a brutalidade humana. Nada mais belo que uma flor que brota dos vãos. A vida procurando um meio. E quando uma folha pousa caprichosamente no lugar do meu passo, eu paro e respiro… fecho os olhos e faço uma prece, nessa manhã de primavera, repliquei os versos sagrados de Mário, louvação matinal.

6 – E ao voltar para casa, a vida responde a pergunta feita por um transeunte que insiste em fim de mundo, últimos dias com suas sementes…


Claudia LeonardiMariana GouveiaObdulio Nuñes Ortega
Roseli PedrosoSilvana