A arte de autografar livros

A primeira vez que tive que me sentar a uma mesa para autografar livros… no ano de 2012 — foi estranho-esquisito e desafiador. Era um evento pequeno, que reuniu pouco mais de trinta pessoas — mais estranhos que conhecidos — num dos Cafés da cidade, onde escrevi os textos que compunham a fanzine. Não imaginei-pensei-calculei que iriam pedir autografo naquele pequeno combinado de folhas grampeadas nas laterais…

Uma colega contou que Miguel Torga não fazia dedicatórias e nem autografava livros para ninguém. Fez uma única exceção, para Mário Soares. Pensei em imitá-lo. Mas a primeira pessoa a chegar, que escrevia em seu blogue e nos encontrávamos em jantares preparados por mim… foi direta, ao dizer: quero o meu com dedicatória, dito como quem pede uma porção de fritas. Sorri e comecei a transpirar… Não faço idéia do que escrevi.

Admito, no entanto, que acho um absurdo dedicar um livro escrito por mim a alguém. Ele é meu… pertence a pessoa que sou e foi escrito para essa criatura aborrecida que sou. Ao dedicá-lo a outra que não-eu… sinto-me despejada das páginas.

E ao enviar alguns exemplares pelos correios, após costurá-los… vários foram sem dedicatória… gerando reclamações, com as quais não tenho dificuldade de lidar. É o que permite existir textos iguais a este.

O bom é saber que não sou a única com histórias pitorescas. Um escritor francês que foi a um alfarrabista em busca de um livro, se deparou com um exemplar que havia dedicado a um amigo de infância. O que resultou em zanga entre os dois para o resto de suas vidas. E uma colega dos tempos da faculdade — leitora voráz — que foi ao alfarrábio em busca de um livro e acabou surpreendida com a dedicatória deixada para um importante crítico literário que se livrou do exemplar na primeira oportunidade. O exemplar estava praticamente intacto.

Conhecer essas histórias me animou a deixar mensagens enigmáticas… que servisse a qualquer leitor que recebesse ou encontrasse o exemplar.