Filme | Philomena…

‘Em meu principio está o meu fim’
T.S.Eliot

Philomena… personagem brilhantemente interpretada por Judi Dench, é uma mulher que pecou — se deixou seduzir por um jovem… que elogiou sua beleza e lhe ofereceu uma cerveja. A ele se rendeu as carícias e sensações e tal qual Eva… pecou e eis o ‘bendito fruto’.

Na condição de pecadora… teve que pagar o preço porque na Santa Igreja… pecado é moeda de troca. E Philomena tinha que pagar pelos ‘serviços prestados a ela’ — ser acolhida dentro das paredes sagradas do convento após ter pecado contra deus ao ceder aos prazeres da carne. Sua dívida? 100 mil libras ou o equivalente a quatro anos de  ‘escravidão’… Mas, havia outra maneira: entregar o filho para adoção.

Enquanto pecadora-devedora — o que na igreja é a mesma coisa — não tinha o direito de contestar as decisões tomadas dentro das paredes do Convento de San Ross, na Irlanda. A igreja sempre usou da culpa e do medo para manter seus fiéis na linha… aterrorizando as pessoas submissas as suas regras.

Depois de confessar ‘suas vergonhas’ à filha anos mais tarde… uma humilde e humilhada Philomena consegue a ajuda do ardoroso ateu Martin — jornalista que não se interessa por ‘histórias humanas’ e que entra em cena para representar a nossa indignação com todas as descobertas feitas — nenhuma novidade, advirto.

Brilhantemente interpretado por Steve Coogan. O homem — devido a um momento delicado de sua vida profissional — não tem outra opção e se vê obrigado a investir na história de Philomena e revelar toda a cruel realidade por trás da ‘venda de crianças’ no velho convento irlandês.

E mesmo após toda a verdade escancarada… a postura da velha-madre — em fase decrépita e miserável de atacar Philomena, não surpreende. Ela se mantém ‘fiel ao seu deus e a todas as premissas’ e do alto de sua arrogância, invoca o direito de ser julgada apenas por Deus e impõe a necessidade de continuar condenando a mulher que nunca desistiu de encontrar o filho. Mas o que a Madre faz questão de ressaltar é que a jovem Philomena sucumbiu aos desejos primários da pele. Coisa, que ela nunca fez e lutou ‘bravamente’ para se manter fiel ao seu amor-maior.

É uma das cenas mais indigestas do filme… que nos põe diante do olhar azul de Judi, as rugas em seu rosto… onde desfila uma dor ímpar por tudo que lhe foi roubado, em contraponto ao da mulher-freira… cruel e indiferente, como se ela própria fosse o deus-todo-poderoso.

A essa altura do filme, sabemos que a busca de Philomena não era solitária… O filho buscava por ela e esbarrava nos muros do convento que precisava manter em segredo os valores pagos por famílias ricas pelos frutos do pecado.

A interpretação de Judi Dench e Steve Coogan é repleta de contrapontos… Ele esbraveja, se revolta, cobra explicações, exige um pedido de desculpas por parte dos envolvidos e nos coloca em cena. Martin se veste da mais fina ironia para afirmar em voz alta, que ele, no lugar de Philomena, não perdoaria aquela criatura sombria. E é a voz dele que traz para o filme o verso-frase-prece de T.S.Eliot… que de certa forma explica toda a trajetória de uma mãe que acaba com as mãos vazias, mas com o cuore preservado. É de se admirar que apesar de tudo, ela não perdeu a fé.

“O FIM DE TODA NOSSA BUSCA SERÁ CHEGARMOS ONDE COMEÇAMOS
E VER O LUGAR PELA PRIMEIRA VEZ”.
T.S.ELIOT