7 | embolei as ideias fiz um nó depois desatei

Noite alta a queimar substâncias… livros empilhados sobre a mesa de trabalho e uma xícara de chá com um último gole esquecido no fundo. Me distraio com o brilho do ecrã a iluminar a parede, onde desenhos de ontem me lembram as muitas pessoas que fui-sou.

O ano era dois mil e um… O menino de riso solto me apresentou ao universo dos blogues: essa ferramenta será útil para o seu novo personagem — ele se referia a mim, que tinha decidido abandonar a psicanálise e começar do zero. A maioria esbravejou. Ele ficou satisfeito, como se uma longa espera tivesse chegado ao fim.

A sua fala rápida-sonora-certeira me fez sentir uma atriz a decorar um texto, a se deixar de lado para assumir um papel e subir ao palco, onde uma multidão estava à minha espera…

Não entendi, no entanto, como uma página em branco… a me pedir um — maldito — título-texto poderia servir de Norte para os meus novos planos de vida à época — escrever um romance. Ele — like always — fez uso de suas melhores frases para me convencer… E eu concordei em ter um blogue.

Acompanhei — sem nenhum entusiasmo — todo o processo de criação da página durante dez intermináveis minutos… Até ele dizer em voz alta, como quem bebe o que resta de café na xícara… pronto: agora é com você! Eu não levei um susto. Mas foi qualquer coisa espantosa, admito. E a página ficou por lá… sem que eu a alimentasse — durante dias-semanas-meses.

Eu sou péssima com inícios — páginas em branco, caderno novo, pacotes de sulfite. Observo de longe, com desconfiança. Tomo dúzias de xícara de café. Comporto-me como o personagem interpretado por Tom Hanks em you´ve got a mail… a passar de um lado para o outro, com o cão atrás dele, em idas e vindas, sem certezas — com dúzias de vontades listadas num pedaço de papel. Sinto até coçar a ponta dos dedos.

Eu tive vários blogues desde aquele dois mil e um. Fui mudando — saltando de galho em galho — até acontecer Catarina. Tinha esvaziado caixas-gavetas e queimado alguns papéis. Estava cansada de acumular rascunhos que não alcançavam outra condição. Minutos depois… sentei diante do ecrã — essa eterna boca bem aberta-faminta que me converteu em colher — e, escrevi de um fôlego só: catarina voltou a escrever…

Foi um susto que me deixou paralisada a espiar aquela frase solta na tela… o ano era 2013.

Nesse novembro [entre outras coisas] vamos de #blogvember…
Aventuram-se em linhas diárias: Mariana Gouveia,
Obdulio Nuñes Ortega, Suzana Martins

7 respostas para ‘7 | embolei as ideias fiz um nó depois desatei

  1. Daniel de Castro

    Contar algo requer atenção a alguns detalhes mas contar sentimentos … nem o tempo nem a experiência ensinam aos que insistem em capturar em texto o que já foi sentimento. Vejo alguns desses sentimentos como cavalos selvagens que quando “amarrados” a palavras, se revoltam e se vão, e é impossível domá-los, eles vem … eles vão … aí alguns “matam” os sentimentos para velarem seu corpo em palavras jurando que os “dominaram”, outros minha cara respeitam essa liberdade e os cativam, aí eles até demoram, fogem mas sempre voltam. Grato pelo texto/relato tão inspirador.

    abraço 🙂

  2. Bia Paim

    Eu, nesses meus 20 aninhos de vida já criei vários blogs. O que durou mais teve, sei lá, uns dois anos de duração. “Diário Adolescente” se eu não me engano. Hoje, tenho o “Uma Garota Avessa” e estou querendo expandir meus ares e escrever mais um… é um desafio, mas gosto de sentir um frio na barriga inicial e depois começar do zero. Eu reconheço que “começar do zero” é muito complicado e eu fico achando que não vou conseguir, que não vai dar certo e quando vejo…Pá, deu certo!
    Creio que esses ciclos e o vai e vem fazem parte da vida e sem eles, a vida não teria a menor graça! hahaha

  3. Ale Helga

    Começos não são fáceis, estou no meu segundo blog…O primeiro está lá esquecido com a xícara de chá esperando o ultimo gole…
    Abraços

  4. Flávia Côrtes

    Eu que tomei um susto agora… que delicia saber como surgiu Catarina. Nunca tive coragem de perguntar como foi, mas sabia que tinha uma boa história por trás! Ano passado, disse mim mesma que precisava tomar vergonha na cara e ter meu próprio blog. E estabeleci 2023 cpmo meu prazo. Acho que não darei conta de cumprir, mas aprendi a confiar e não ficar ansiosa pelo que não fiz. Ao contrário, ponho os olhos e coração e tudo que está ao meu alcance. 2023 foi extremamente difícil e nem pensei que fosse mais possivel lançar livro até o final do ano. Eis que Deus é o Universo deu um jeito de fazer as conexões certas e conseguimos finalizar o projeto de CORRENTEZAS. Se o blog sai ainda em 2023?! Não sei… não quero saber… e não… não tenho raiva de quem sabe.
    Tudo no SEU tempo.

  5. dulcedelgado

    Gostei de saber como nasceu o blog. Aliás, já me tinha questionado sobre o seu nome. Agora percebi que o Catarina talvez não seja importante. A essencial estará no “voltou a escrever”!

  6. obduliono

    Não devo ter sido o primeiro e nem serei o último. Da mesma forma que aquele menino a instou montar o seu blogue, você me ajudou a montar o meu, aberto desde 2010, mas intocado até o final de 2017. E ciclos se iniciam, se fecham e se perpetuam…

Pronto para o diálogo? Eu estou (sempre)