Minha relação com os livros…

Aproveitei a manhã de sábado para limpar as minhas caixas de livro… costumo fazer isso no último dia do mês — que não foi feito devido ao acúmulo de atividades em abril, que  bagunçou tudo por horas-dias-semanas. Acabei por me perder de algumas rotinas, gerando algum prejuízo de tempo-espaço-lugar…

Eu não sou o tipo de leitora que coleciona livros ou que sonha em ter uma estante cheia,  ocupando uma parede inteira. Teve uma época da minha vida que eu achei que chegaria aos quarenta-e-tantos anos… espiando os livros acumulados. Tive um professor na Faculdade que se escondia entre livros. Figura baixinha e sisuda. Sua sala era um pequeno-paraíso. O homem sabia o lugar de cada livro naquele cubículo bagunçado. Eu espirrava dúzias de vezes, ao entrar. Depois me acostumava com o cheiro — agradável — de papel cozido. 

Fui educada a frequentar a Biblioteca pública da cidade. E ao fazê-lo, estabeleci amizade com as bibliotecárias — figuras que eu considerava mágicas — e que, em meu imaginário, viviam por lá mesmo, entre as prateleiras, alimentando-se como as traças — das páginas. Eu levava a sério a famosa expressão: devorar um livro…

Visitava a Biblioteca às segundas e sextas, após o horário escolar. Passava um punhado de horas naquele sagrado santuário. Gostava imenso do velho prédio, com pé direito alto, mesas numeradas e confortáveis, espalhadas por um salão bem iluminado, silencioso e aconchegante. Depois de uma poderosa chuva de maio… fecharam as portas para reformar o lugar e contabilizar os estragos. Reabriu anos depois… em novo endereço e com uma estranha estrutura moderna e enfadonha. Continuei a fazer uso da minha carteirinha de leitora, levando uma pilha de livros para casa.

Outro hábito que preservo… é o de visitar livrarias de rua. A da minha infância ficava no meio do caminho — entre a casa e a escola. Quando por lá passava, acenava ao signore A., que, quando tinha novidades, deixava o balcão e acenava da porta, requisitando a minha presença. Ele era um livreiro a moda antiga, conhecido por saber os gostos de seus clientes. Para mim, ele reservava poesias escritas por mulheres e os melhores almanaques de ficção cientifica. Foi ele quem me apresentou ao mundo incrível de Star Wars. Saia de lá — saltitante — com uma sacolinha de pano bem cheia.

Ao longo dos tempos, fui me desfazendo de alguns livros-almanaques. Uma caixa cheia foi deixada na Biblioteca da Escola — todos em ótimo estado. Outra na Biblioteca e em espaços-urbanos-alternativos. Gostava imenso dos bilhetes que escrevíamos — um diferente do outro — destinado ao futuro leitor, como se fosse o próprio livro falando de si.

Ao migrar para São Paulo, descobri a Biblioteca Mário de Andrade, onde fui apresentada a várias poetas brasileiras. Conheci algumas Livrarias de rua. No Centro velho, perto do Boulevard São Bento, comprei algumas preciosidades, como o diário de Sylvia Plath. Vi as livrarias de rua fecharem as portas e passei a frequentar a Cultura no conjunto nacional, um pouco contrariada. No começo era um mundo fantástico, mas achava o preço a se pagar pela existência daquele lugar, muito caro. E não demorou para o sonho paulistano de livraria… desabar — algo inevitável…

Nestes anos de São Paulo — vinte e dois e contando — acumulei muito mais livros… a maioria de poesias. Muitos mais do que pretendia. Comecei com duas caixas de feira e hoje são 10… De tempos em tempos, faço uma espécie de “seleção natural”. Alguns eu vendi-doei-emprestei-abandonei por aí. Mantenho comigo os que ainda não li e aqueles dos quais não posso me desfazer… porque gosto de tê-los ao alcance das mãos para a qualquer momento correr os olhos por suas páginas.

8 respostas para ‘Minha relação com os livros…

  1. Ana Claudia

    Ainda não passei pela fase de doar livros depois da criação do Café com Leitura. Minha estante mudou muito, como tenho falado ultimamente. Tudo muito novo. Tem sido mesmo muito bom conhecer ainda mais da sua estante, dos seus livros, do que eles representam para você e de curiosidades acerca de quem seja a Lunna Guedes através de obras literárias!

  2. Nicole Guimarães

    Na minha cidade não tem biblioteca, apenas uma papelaria onde conseguimos comprar livros sob encomenda. O dono providencia um ou outro livro. Não é a mesma coisa. Aproveito toda vez que vou a cidade vizinha (que é maior) para visitar livrarias. Hoje em dia, com a internet é mais fácil, mas a experiência não é a mesma.
    Você deve saber a sorte que teve.

    Bom domingo

  3. Roseli Pedroso

    Lunna, que postagem deliciosa. Ao contrário de você,não frequentei bibliotecas de criança nem de adolescente. Só mais tarde descobri essa maravilha, me apaixonei e nunca mais saí de uma. Amei sua declaração aos bibliotecários. Sinto-me homenageada. O livreiro também é um personagem que infelizmente, sumiu transformando-se num empresário frio e calculista, longe de seu amado público. E esses livros eu não conhecia e fiquei bem curiosa em conhecer. Adoro Led Zepellin e não sabia dessa curiosidade que você nos presenteou. Bacio

  4. Darlene R.

    Não vivi ao lado de uma biblioteca, porém, cabulava a escola para me esconder na biblioteca municipal e passar tardes gostosas lendo na mesa mais ao fundo…rs….Por um tempo, depois que vim para cá, mantive contato com o bibliotecário, um rapaz simpático que conhecia os livros que eu mais gostava – Na época, minha coleção favorita era “A bicicleta azul”, da francesa Règine Deforges. O prédio não era antigo, nem moderno demais, apenas amplo, construído no centro de uma praça, cercado por um gramado verde e, eu nunca entendi o motivo de não encontrar nenhum amigo sentado naquela grama, lendo um livro, aliás, ninguém parecia notar aquele espaço convidativo…

    Beijos

Se tem algo a dizer, fale agora... hahahahaha